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PALANQUE
Jovens propõem prioridades para uma política voltada para eles
AGORA É SEU DIREITO
GUILHERME WERNECK
DA REPORTAGEM LOCAL
"O Capão Redondo [zona sul
de São Paulo] tem mais de
230 mil habitantes, é maior do
que várias capitais de países do
mundo e não tem nenhum clube poliesportivo, nenhum teatro, nenhum cinema e nenhum
fórum. Para ter acesso a essas
coisas, é preciso se deslocar dez
quilômetros para chegar a Santo Amaro ou 30 para chegar ao
Centro", diz o monitor de aulas
de dança de salão Rogério Nascimento Campos, 18.
Ele participa de um levantamento, feito pelo Instituto Sou
da Paz e pela Associação Chico
Mendes, para mapear politicas
voltadas aos jovens e analisar o
grau de desrespeito aos direitos
humanos em seu bairro.
A sua receita política para
transformar o cotidiano do Capão Redondo vai ao encontro
do discurso de políticos e do
que outros jovens imaginam ser
importante para a juventude.
"Falta lazer e cultura, é preciso
ter mais campos de futebol, piscinas, clubes de graça, mais escolas, cinemas de graça ou baratos, cursos para aprimorar talentos. O espaço existe, falta investimento", diz Rogério.
Para Marcileide Maria da Silva, 25, que participa do mesmo
levantamento e mora na Chácara Bandeirantes [zona sul de
São Paulo" ainda existe um longo caminho a ser percorrido pelo poder público para atingir o
jovem. "No meu bairro falta tudo, posto de saúde, asfalto, água
encanada. Só tem duas escolas
na região e elas não comportam
todos os jovens", diz.
Segundo ela, as políticas têm
de passar pela educação, pela
construção de escolas e por programas que gerem renda e
mantenham o jovem nas salas
de aula. "Aqui, neste mês, chegou o Bolsa Trabalho [programa da Prefeitura de São Paulo
que dá ao jovens a oportunidade de fazer oficinas profissionalizantes e de ser remunerado
nesse período", mas ninguém
começou a receber o dinheiro
nem a fazer curso ainda. É um
projeto interessante, mas dura
só seis meses e é para jovens de
16 a 20 anos. Tinha de ser para
gente mais velha também, até
uns 25 anos."
Para a secretária Ana Paula
Assunção, 18, que mora no Jardim Ângela, além da falta de lazer e da falta de oportunidades
de trabalho, também é importante que políticas de combate à
violência sejam traçadas. Mas
com cautela. "Se tiver demais, a
violência pode até aumentar.
Quem está do lado violento vai
pensar assim: "Esses boyzinhos
querem vir aqui falar da violência, eu vou mostrar para eles o
que é violência". Muita gente
pensa assim aqui", conta.
Ana Paula diz também que as
informações sobre saúde, prevenção de doenças sexualmente
transmissíveis e Aids não chegam até ela pela ação governamental. "Eu sei disso tudo porque eu vou atrás, porque eu tenho internet no trabalho e sou
bem informada", diz.
Mas não é só na periferia que
há falta de diálogo e informação
e que as pessoas não se sentem
atingidas pelas políticas públicas. Para a estudante de desenho industrial Alice Abramo,
18, a falta de espaços públicos e
de áreas de lazer é um dos principais problemas que os jovens
de uma cidade como São Paulo
enfrentam. Para ela, é preciso
traçar uma política que contemple aspectos culturais, ambientais e de educação.
Eduardo Lagoa, 18, estudante
de jornalismo, atenta para o
problema da eficácia da comunicação para os jovens, principalmente em relação às campanhas de saúde e de trânsito. "É
preciso falar a língua do jovem.
Na maior parte das campanhas
antidrogas, por exemplo, o governo consegue chocar crianças
e pais, mas não atinge os adolescentes", diz.
Já para o estudante Rafael
Chaves, 15, que já foi voluntário
distribuindo preservativos e
quer participar da ONG Attac,
as campanhas de saúde são importantes, mas mais importante
é diminuir a desigualdade entre
os jovens.
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