São Paulo, segunda-feira, 01 de outubro de 2001

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PALANQUE

Jovens propõem prioridades para uma política voltada para eles

AGORA É SEU DIREITO

GUILHERME WERNECK
DA REPORTAGEM LOCAL

"O Capão Redondo [zona sul de São Paulo] tem mais de 230 mil habitantes, é maior do que várias capitais de países do mundo e não tem nenhum clube poliesportivo, nenhum teatro, nenhum cinema e nenhum fórum. Para ter acesso a essas coisas, é preciso se deslocar dez quilômetros para chegar a Santo Amaro ou 30 para chegar ao Centro", diz o monitor de aulas de dança de salão Rogério Nascimento Campos, 18.
Ele participa de um levantamento, feito pelo Instituto Sou da Paz e pela Associação Chico Mendes, para mapear politicas voltadas aos jovens e analisar o grau de desrespeito aos direitos humanos em seu bairro.
A sua receita política para transformar o cotidiano do Capão Redondo vai ao encontro do discurso de políticos e do que outros jovens imaginam ser importante para a juventude.
"Falta lazer e cultura, é preciso ter mais campos de futebol, piscinas, clubes de graça, mais escolas, cinemas de graça ou baratos, cursos para aprimorar talentos. O espaço existe, falta investimento", diz Rogério.
Para Marcileide Maria da Silva, 25, que participa do mesmo levantamento e mora na Chácara Bandeirantes [zona sul de São Paulo" ainda existe um longo caminho a ser percorrido pelo poder público para atingir o jovem. "No meu bairro falta tudo, posto de saúde, asfalto, água encanada. Só tem duas escolas na região e elas não comportam todos os jovens", diz.
Segundo ela, as políticas têm de passar pela educação, pela construção de escolas e por programas que gerem renda e mantenham o jovem nas salas de aula. "Aqui, neste mês, chegou o Bolsa Trabalho [programa da Prefeitura de São Paulo que dá ao jovens a oportunidade de fazer oficinas profissionalizantes e de ser remunerado nesse período", mas ninguém começou a receber o dinheiro nem a fazer curso ainda. É um projeto interessante, mas dura só seis meses e é para jovens de 16 a 20 anos. Tinha de ser para gente mais velha também, até uns 25 anos."
Para a secretária Ana Paula Assunção, 18, que mora no Jardim Ângela, além da falta de lazer e da falta de oportunidades de trabalho, também é importante que políticas de combate à violência sejam traçadas. Mas com cautela. "Se tiver demais, a violência pode até aumentar. Quem está do lado violento vai pensar assim: "Esses boyzinhos querem vir aqui falar da violência, eu vou mostrar para eles o que é violência". Muita gente pensa assim aqui", conta.
Ana Paula diz também que as informações sobre saúde, prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e Aids não chegam até ela pela ação governamental. "Eu sei disso tudo porque eu vou atrás, porque eu tenho internet no trabalho e sou bem informada", diz.
Mas não é só na periferia que há falta de diálogo e informação e que as pessoas não se sentem atingidas pelas políticas públicas. Para a estudante de desenho industrial Alice Abramo, 18, a falta de espaços públicos e de áreas de lazer é um dos principais problemas que os jovens de uma cidade como São Paulo enfrentam. Para ela, é preciso traçar uma política que contemple aspectos culturais, ambientais e de educação.
Eduardo Lagoa, 18, estudante de jornalismo, atenta para o problema da eficácia da comunicação para os jovens, principalmente em relação às campanhas de saúde e de trânsito. "É preciso falar a língua do jovem. Na maior parte das campanhas antidrogas, por exemplo, o governo consegue chocar crianças e pais, mas não atinge os adolescentes", diz.
Já para o estudante Rafael Chaves, 15, que já foi voluntário distribuindo preservativos e quer participar da ONG Attac, as campanhas de saúde são importantes, mas mais importante é diminuir a desigualdade entre os jovens.


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