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LIVRO
Confira a saga real de um adolescente de 15 anos em plena Revolução Cultural chinesa por meio de relato ilustrado
Pesadelo chinês
CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Ange Zhang tinha 15 anos em 1968,
quando teve de abandonar a escola
e passar a viver na zona rural da
China, para trabalhar e aprender com os
camponeses. Era o ápice da Revolução Cultural, movimento que virou o país de cabeça para baixo entre 1966 e 1976, com o ataque a tudo o que era identificado como
burguês, tradicional ou ocidental.
Filhos se voltaram contra os pais, estudantes contra os professores e até líderes
tradicionais do Partido Comunista passaram a ser vítimas de perseguição. Escritor,
o pai de Ange foi enviado à prisão, onde
passou quase toda a Revolução Cultural.
Sua tia, comunista veterana, suicidou-se
depois que seus alunos a "denunciaram".
Os camponeses e os operários passaram a
ser os heróis do país. Como Ange, milhares
de estudantes deixaram as salas de aula para aprender com as classes revolucionárias.
As universidades foram fechadas e livros
de autores ocidentais, queimados.
Os jovens eram ao mesmo tempo algozes
e vítimas da Revolução Cultural. Foram
mandados para o campo e para as fábricas,
mas também formavam os grupos de
"Guardas Vermelhos", eleitos pelo então
presidente Mao Tsé-tung como os principais agentes dessa nova revolução.
"Toda rebelião se justifica", era o lema de
Mao, que se tornou objeto de um culto à
personalidade poucas vezes visto na história. Os chineses passaram a decorar centenas de citações de Mao e o seu Livro Vermelho era carregado por todos.
Ange viveu por três anos em uma aldeia
rural, para onde foi mandado por decisão
do Partido Comunista junto com outros estudantes. Trabalhavam diariamente na árdua tarefa de cultivar a terra.
Desolado com a perspectiva de passar o
resto de sua vida no campo, Ange encontrou na arte uma maneira de dar sentido a
seu cotidiano rural. Com tintas a óleo emprestadas por um amigo, começou a pintar
e não parou mais, nem mesmo depois de
ser transferido para uma fábrica de lápis,
onde trabalhou por mais sete anos.
O relato desse longo período de turbulências e privações está no livro "Terra Vermelha, Rio Amarelo" (edições SM; 64 págs.; R$
26, em média), para o qual Ange realizou
ilustrações. Os rostos que ele retrata são
tristes e melancólicos, bem diferentes dos
cartazes da época, que mostravam estudantes, camponeses e operários sorridentes e confiantes em um futuro incerto.
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