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"Você entra e não consegue mais sair"
free-lance para a Folha
"Não recomendo esta vida para
ninguém", diz A., 21, que há seis
anos trabalha como garoto de programa. "Você entra, se acostuma a
ganhar dinheiro fácil e não consegue mais sair", diz.
Tentando evitar essa situação, A.
está planejando uma viagem para
os EUA, onde pretende trabalhar
com amigos que moram em Nova
York. "Lá essa profissão é muito
mais rentável, mas acho que não
tenho vez. Os americanos são mais
altos, fortes e bonitos. Não vou
tentar competir com eles."
Enquanto está aqui, A. evita trabalhar na rua. "Aqui a gente é muito discriminado pelos próprios
clientes e, pior, por nós mesmos."
Ele se refere ao fato de os garotos se
tratarem por "boy". "Eu procuro
chamá-los pelo nome verdadeiro."
A. também evita as ruas porque
não quer fazer programas com
desconhecidos. "Quase nem olho
mais para os carros que passam
pois sei que, se eles pararem, vou
entrar. É difícil evitar essa vida."
Hoje, ele garante o ganha-pão
trabalhando para três clientes fixos
há mais de um ano. Eles pagam,
por programa, muito mais do que
os RÏ 50 que A. cobraria na rua
(média que os garotos geralmente
pedem no largo do Arouche).
"Eles me pagam cerca de RÏ 400
por programa, além de bancarem
as minhas roupas e outros presentes. Para eles, eu não sou apenas
um objeto, sou um amigo."
A confiança é tanta que, quando
A. foi aprovado no vestibular, eles
se ofereceram para pagar o curso,
mas ele não aceitou. "Fiz as contas
e percebi que é melhor gastar o dinheiro nos EUA", diz. "Quando
conseguir bastante dinheiro, pretendo voltar para o Brasil e abrir
um clube gay."
Orgulho
Se tem uma coisa de que ele se
orgulha é o fato de ter convencido
um rapaz de 19 anos a não se tornar garoto de programa.
"Andei com ele por todas as ruas
e perguntei aos outros garotos o
que diriam para quem está iniciando. A resposta foi unânime: "Vá
embora para casa enquanto é tempo'. Gostaria de poder fazer isso
com todo mundo que está entrando nessa."
Apesar de dizer que tudo o que
aprendeu na vida foi com os clientes, A. se arrepende da profissão
que leva desde os 14 anos. "Já me
confessei com um padre e acho
que posso pagar os meus pecados
ajudando quem precisa."
(GG e LF)
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