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SEXO & SAÚDE
Sexo: abstinência ou prevenção?
JAIRO BOUER
"Tenho 16 anos e tomei conhecimento de um
programa que está sendo realizado nos EUA,
"Worth the Wait" (vale a espera), que defende
a abstinência sexual na adolescência. Os
educadores mostram os riscos das DSTs
(doenças sexualmente transmissíveis) e
recorrem à tática do medo para tentar
convencer as crianças a não serem
sexualmente ativas. A questão dos métodos
contraceptivos não é considerada relevante.
Mas outros grupos defendem a orientação
sexual pelo uso e distribuição de
preservativos. Como orientar um jovem?
Abstinência sexual, distribuição de
preservativos ou orientação religiosa?"
Nos últimos anos, nos EUA, uma série de
iniciativas ganhou apoio do governo
Bush para trabalhar a abstinência sexual
entre os jovens. No entanto, estudos
mostraram que a maior parte deles não
conseguiu cumprir sua promessa de abstinência e acabou tendo uma relação sexual já no primeiro ano de
tentativa de espera.
Como esses jovens não são treinados a discutir prevenção, camisinha e métodos anticoncepcionais,
quando as relações acontecem, muitos se expõem a
um maior risco de contrair DSTs e de engravidar. O
maior problema desse tipo de tática é que ela se mostra
frágil do ponto de vista prático. Os especialistas já perceberam que, em sexualidade, a estratégia de ameaçar
não funciona.
É lógico que, para alguns jovens, muitos dos quais
têm uma orientação religiosa mais forte, talvez esse tipo de postura funcione, mas ela está longe de ser uma
estratégia que atende às demandas e às necessidades naturais dos jovens de hoje.
Com a escolha do papa Bento 16, houve um reforço da posição mais conservadora da religião
católica em relação a temas como sexo antes do
casamento, preservativo e métodos anticoncepcionais. Será que, ao apontar nessa direção, a igreja se aproxima ou se afasta dos seus jovens fiéis?
Na minha opinião, que vê a questão da sexualidade do ponto de vista prático, de saúde e da garantia da igualdade de direitos para todos, a prevenção é a alma do negócio. Cada um deve ter autonomia para escolher o que acha melhor para
sua vida, desde que não prejudique ninguém.
E, para isso, o jovem tem que ser
orientado a se cuidar, usando camisinha, anticoncepcionais e o que mais
for necessário. Orientação religiosa e
abstinência talvez sirvam para uma
parte dos jovens, que não são maioria. Mas, por via das dúvidas, mesmos esses jovens comprometidos
com a abstinência deveriam aprender que se cuidar e usar camisinha
não faz mal.
Jairo Bouer, 38, é médico
@ - jbouer@uol.com.br
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