São Paulo, segunda-feira, 02 de julho de 2001

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Ladytron faz música para quem não vive no passado


Novo quarteto de Liverpool lança sua própria versão da modernidade sonora


DA REPORTAGEM LOCAL

É provável que, daqui a meses, você ouça a banda Ladytron, leia muito a respeito dela e compre seu primeiro álbum, "604" (Emperor Norton). O disco do quarteto -que reúne Helen Mernie, a búlgara Mira Aroyo, o escocês Reuben Wu e o cabeça Daniel Hunt, 26, de Liverpool- encaixa um hit após o outro e utiliza timbres dos anos 80 sem resquício algum de nostalgia. Batidas eletropop, krautrock alemão e synth pop se sobrepõem de forma inusitada, como em "Commodore Rock" e na celebrada "PlayGirl".
O grupo já foi jubilado pela mídia da Europa e EUA, recebeu títulos como "glamouroso" e "fashion" e ganhou metáforas engraçadas como definição de sua música. Daniel aposta no vanguardismo aliado à simplicidade melódica: "PlayGirl" poderia ser uma canção dos Beatles se fosse tocada com guitarras!".
Leia a seguir trechos da entrevista exclusiva concedida pelo tecladista e principal compositor da banda ao Folhateen. (FERNANDA MENA)

Folha - "Nico trabalhando em um computador da Apple" e "uma mistura de Stereolab e Kraftwerk" são algumas das comparações feitas sobre o Ladytron. O que você acha delas?
Daniel Hunt -
Nico e um Apple é legal. Stereolab e Kraftwerk é justo. Mas essa comparação com Kraftwerk é chata porque se baseia em uma só música e em interpretações preguiçosas.

Folha - O Ladytron se encaixa na cena musical britânica?
Hunt -
Não. Somos "outsiders". Liverpool é desconectada de Londres, e isso nos deu tempo para trabalharmos fora dos holofotes da indústria e da mídia. Menos de 25% do sangue do Ladytron é inglês. Somos um grupo sem país de origem. Somos refugiados culturais.

Folha - Ladytron utiliza sonoridades dos anos 80. Você acredita em um revival do eletropop ou em uma nova roupagem para esses sons?
Hunt -
Odeio essa história de revival dos 80 e também não gosto da idéia de uma nova roupagem. Nossa atitude é assim: influências e instrumentos do passado com sons e atitudes do presente para gerar nossa própria versão da modernidade. A cena eletrônica é mais influenciada pela onipresença dos sons de celulares que por qualquer espírito retrô.

Folha - Você esperava a boa recepção que o Ladytron está tendo com "604"?
Hunt -
Eu não estava esperando nada, para ser honesto. Amamos o disco e nem ligamos muito para as reações frente a ele. O que importa realmente é a pureza de alguém, em qualquer lugar do mundo, ouvindo o disco em seu quarto. Muitos músicos não dão a mínima para isso.

Folha - É verdade que o disco iria se chamar "In the Streets of Brazil"?
Hunt -
Era uma brincadeira. Uma referência à versão de "Dancing in the Streets", de Mick Jagger e David Bowie, que canta o verso "...on the streets of Brazil" de um jeito muito afetado, histérico... Ou, talvez, nós apenas precisássemos de mais drogas.


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