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Ladytron faz música para quem não vive no passado
Novo quarteto de Liverpool lança sua própria versão da modernidade sonora
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DA REPORTAGEM LOCAL
É provável que, daqui a meses, você ouça a banda Ladytron, leia muito a respeito dela e compre seu primeiro álbum,
"604" (Emperor Norton). O disco do
quarteto -que reúne Helen Mernie, a
búlgara Mira Aroyo, o escocês Reuben
Wu e o cabeça Daniel Hunt, 26, de Liverpool- encaixa um hit após o outro e utiliza timbres dos anos 80 sem resquício algum de nostalgia. Batidas eletropop,
krautrock alemão e synth pop se sobrepõem de forma inusitada, como em
"Commodore Rock" e na celebrada
"PlayGirl".
O grupo já foi jubilado pela mídia da
Europa e EUA, recebeu títulos como
"glamouroso" e "fashion" e ganhou metáforas engraçadas como definição de
sua música. Daniel aposta no vanguardismo aliado à simplicidade melódica:
"PlayGirl" poderia ser uma canção dos
Beatles se fosse tocada com guitarras!".
Leia a seguir trechos da entrevista exclusiva concedida pelo tecladista e principal compositor da banda ao Folhateen.
(FERNANDA MENA)
Folha - "Nico trabalhando em um computador da Apple" e "uma mistura de Stereolab e Kraftwerk" são algumas das comparações feitas sobre o Ladytron. O que você
acha delas?
Daniel Hunt - Nico e um Apple é legal.
Stereolab e Kraftwerk é justo. Mas essa
comparação com Kraftwerk é chata porque se baseia em uma só música e em interpretações preguiçosas.
Folha - O Ladytron se encaixa na cena
musical britânica?
Hunt - Não. Somos "outsiders". Liverpool é desconectada de Londres, e isso
nos deu tempo para trabalharmos fora
dos holofotes da indústria e da mídia.
Menos de 25% do sangue do Ladytron é
inglês. Somos um grupo sem país de origem. Somos refugiados culturais.
Folha - Ladytron utiliza sonoridades dos
anos 80. Você acredita em um revival do
eletropop ou em uma nova roupagem para
esses sons?
Hunt - Odeio essa história de revival dos
80 e também não gosto da idéia de uma
nova roupagem. Nossa atitude é assim:
influências e instrumentos do passado
com sons e atitudes do presente para gerar nossa própria versão da modernidade. A cena eletrônica é mais influenciada
pela onipresença dos sons de celulares
que por qualquer espírito retrô.
Folha - Você esperava a boa recepção que
o Ladytron está tendo com "604"?
Hunt - Eu não estava esperando nada,
para ser honesto. Amamos o disco e nem
ligamos muito para as reações frente a
ele. O que importa realmente é a pureza
de alguém, em qualquer lugar do mundo,
ouvindo o disco em seu quarto. Muitos
músicos não dão a mínima para isso.
Folha - É verdade que o disco iria se chamar "In the Streets of Brazil"?
Hunt - Era uma brincadeira. Uma referência à versão de "Dancing in the
Streets", de Mick Jagger e David Bowie,
que canta o verso "...on the streets of Brazil" de um jeito muito afetado, histérico...
Ou, talvez, nós apenas precisássemos de
mais drogas.
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