São Paulo, segunda-feira, 02 de agosto de 2004

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ESTÉTICA

Para entrar na moda dos peitos grandes, cada vez mais garotas topam encarar o risco das cirurgias plásticas

Meninas turbinadas

ALESSANDRA KORMANN
DA REPORTAGEM LOCAL

Anestesia, pontos, cicatriz, remédios, inchaço, dor, coceira, muitos dias sem poder levantar os braços... É preciso ter peito para isso. Apesar dos riscos que uma cirurgia implica, é cada vez maior o número de meninas que fazem plástica nos seios para se enquadrar no padrão de beleza encarnado por "turbinadas" como a atriz Danielle Winits.
"Eu já tinha peito, mas queria mais", diz Débora Regina Elia Lacerda, 18, que admirava os seios da atriz Pamela Anderson. Com 17 anos, ela colocou uma prótese de 250 ml e diz que teve pouca dor. "A tatuagem que eu fiz doeu muito mais."
O número de adolescentes recorrendo à cirurgia para resolver suas insatisfações com o próprio corpo tem aumentado significativamente. "A quantidade de meninas que colocam prótese aumentou mais de 300% nos últimos dez anos", diz o secretário-geral da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Oswaldo Saldanha.
O efeito mais imediato é uma boa levantada na auto-estima. "Depois da cirurgia, elas dizem que se sentem mais poderosas", diz o cirurgião plástico João Carlos Sampaio Góes, presidente da Isaps (International Society of Aesthetic Plastic Surgery).
"Eu não tinha nada, e isso me incomodava muito. Desde que eu era pequena, a única coisa que eu queria era ter peito", diz Andréa Oliveira Alves Goulart, 22, recém-operada. "Um dia, eu chorei porque não estava conseguindo fazer as coisas sem ajuda, mas passou logo. Adorei o resultado, estou muito feliz."
"Fica muito melhor, qualquer coisa que você veste fica bem. Antes, eu usava sutiã com enchimento", diz Suraya Marcondes Cabral, 22, que colocou silicone há um ano. Seu pai, o cirurgião plástico Lecy Marcondes Cabral, do hospital São Luís, acompanhou a operação. "No começo fica inchado, dói um pouco, depois volta ao normal."
A febre dos peitos grandes é tanta que já chegou ao Orkut, rede de relacionamentos da internet. A comunidade "Sim, Eu Tenho Peito!", tinha na quinta-feira passada 5.842 membros; para participar, tem que ter "peitão". Já as comunidades "Eu Não Tenho Peito" e "Não, Eu Não Tenho Peito!", reuniam 16 e seis membros, respectivamente. "Vamos lá, meninas, auto-estima e pensem positivamente... Um dia eles podem crescer!", diz o texto de apresentação.
No entanto, nem todas as meninas que têm peitos grandes são felizes com eles e muitas procuram a cirurgia plástica. Mas, ao contrário do que acontecia há 20 anos, quando as pacientes pediam peitos pequenos, hoje elas querem apenas tirar um pouco e continuar com peito grande.
"Incomoda muito, não consigo me sentir bem", afirmou Marília Faria Martins, 16, um dia antes da cirurgia de redução, feita com o cirurgião plástico Garabet Karabachian, acompanhada pelo Folhateen.
No dia seguinte, ela disse que estava com dor, mas, mesmo assim, não estava arrependida. "Só de pensar que vai ficar do jeito que eu quero, o arrependimento passa rapidinho", disse. Cinco dias depois, ela já estava sem dor e bem mais animada. "Acho que vai mudar muita coisa na minha vida. Agora não vou mais ficar nervosa só de pensar que preciso escolher uma roupa."
Auto-estima em alta, sensação de mais feminilidade e maior poder de sedução: parece mais resultado do trabalho de psicólogos do que de cirurgiões. "Nós vivemos um tempo em que a identidade do adolescente depende cada vez mais do julgamento externo. Mas, se você faz a sua identidade dependente do olhar do outro, você terá problemas com seio ou sem seio", acredita o psicólogo Miguel Perosa, professor de psicologia da adolescência da PUC-SP.
O cirurgião plástico Leonard Edward Bannet, um dos donos da clínica Santé, de São Paulo, acha isso uma "bobagem". "Os psicólogos acham melhor pagar para fazer anos de terapia e não resolver o problema do que botar na mesa de cirurgia e resolver na hora", afirma. Pelo jeito, cada vez mais meninas concordam com ele.


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