XICO SÁ
CRÍTICO DA FOLHA

Ah, se nem o tiozinho aqui, por mais que tenha vontade pop e síndrome de Peter Pan, agüentou, quanto mais vocês, bravos rapazes e raparigas em flor. Esse desenho "Aborrecentes", que o Cartoon Network põe no ar a partir de hoje, é um desastre.
Tentativa louca de trazer para a pré-adolescência histérica (de gritos sem sentido de mulheres e de homens também!) os desencontros consumistas da soma de todas as séries para os adultos.
É a moral e mão peluda do mercado: antecipar os "Friends", os "Sex and the City" e "Os Normais" ao máximo. "Consuma jovem, consuma bonito" no lugar do velho e passado slogan "morra jovem, morra lindo" dos tempos de James Dean.
No grupelho dos "Aborrecentes" antecipa-se toda essa discussão da falsa guerra entre homem e mulher com a terrível intenção de fazê-los comprar. Queridos, não caiam nessa onda. Não há batalha nessa jogada. Há sim a possibilidade de muitos lindos dias ao lado daquela(e) em quem você pensou no banheiro ou debaixo do edredon. Não se trata de nenhuma onda hippie, muito menos de um suposto Michael Moore da avenida Consolação. Não, mas a tentativa de antecipar o consumismo e o pior de nós, homens (e principalmente das fêmeas), enche o saco!
"Vou sair/ vou zoar/ cadê você/ vou vencer/ lanchar, comprar é legal/ é assim", diz, mais ou menos, pois não conseguia entender tamanha imbecilidade, mesmo apertando mil vezes a tecla do dinossáurico videocassete. 90% de shopping, 10% de suor. Ridículo também tentar empurrar Proust à força para "los niños", mas não é disso que estamos falando. "Aborrecentes" nem sequer beira o pop de auto-ajuda. O coitado do Dexter, no mesmo canal, enlouqueceria. As "Meninas Superpoderosas" também.
Essa é apenas uma tentativa de dizer que a vida é uma minissérie. E você sabe, querido(a), que não é. A vida não se resolve na histeria de menina de desenho animado e muito menos na ignorância masculina. A vida só é difícil e linda por conta disso: todo dia, independentemente do horóscopo ou da banda e da(o) garota(o) dos nossos sonhos, há sempre uma encucação para guardar. Daí saem as melhores canções, os melhores livros e as melhores idéias.