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MÚSICA
Com DJs chineses e a participação de estrangeiros, festas ocupam um espaço pequeno da Muralha e viram tradição
Rave na China
Cláudia Trevisan/Folha Imagem
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Participantes descansam ao lado da pista de dança, em corredor da Muralha |
CLÁUDIA TREVISAN
DE PEQUIM
Sempre me considerei desprovida das
qualidades essenciais dos adeptos de
raves: detesto música eletrônica e sou
mais amiga do dia do que da noite. Mas o
poder de sedução de uma rave na Muralha
da China quebrou toda a minha resistência,
ainda que, para chegar até lá, precisasse
viajar três horas de ônibus.
Com uma história milenar e a fama de ser
a única obra humana que pode ser vista da
Lua, a Grande Muralha parecia o lugar
mais espetacular e improvável para uma
festa noturna. Concluí que o programa era
imperdível e embarquei no ônibus com oito amigos às 18h30 do sábado, dia 24.
Alugados pela organização, cerca de dez
ônibus deveriam chegar ao trecho da Muralha reservado para a rave às 21h30. A viagem acabou durando cinco horas, e desembarcamos no ponto final às 23h30. Ponto final para o ônibus, não para nós. A Muralha
ainda estava longe, no fim de uma caminhada morro acima. Mas, quando ela se revelou, o esforço se justificou na hora.
Para entender como a rave se organizou,
é importante ter uma idéia da arquitetura
do lugar. A Muralha tem a forma de um
longo e amplo corredor cercado por muros
altíssimos de ambos os lados. Por estar em
um terreno montanhoso, em alguns trechos o corredor tem degraus. Em outros,
ele se abre em pátios que eram usados como torres de observação. Tudo isso em
uma extensão de 6.000 quilômetros.
A rave ocupou um pedacinho inferior a
300 metros, com a pista montada em um
dos pátios de observação. A noite estrelada
e a iluminação em tons verdes e azuis formaram um cenário perfeito.
Para minha surpresa, o público era principalmente de estrangeiros. No nosso ônibus havia italianos, franceses, alemães e canadenses. Mas os DJs eram chineses: Dio,
Mickey Zhang, Yangbing e Will tocaram o
que um de meus amigos entendidos definiu como "música eletrônica européia".
Eu, que imaginava estar vivendo um momento inédito na história da noite chinesa,
descobri com alguma decepção que raves
naquele trecho da Muralha (chamado Jin-
shanling) já estão se tornando uma tradição. A primeira foi realizada em 98 e, desde
então, ela se repete com certa regularidade.
Saí da festa no primeiro ônibus, às 4h30.
Cheguei a Pequim na manhã ensolarada do
domingo com a sensação de que foi minha
primeira e última rave.
Afinal, dificilmente haverá outra em um
lugar mais espetacular do que a Muralha.
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