São Paulo, segunda-feira, 02 de agosto de 2004

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MÚSICA

Com DJs chineses e a participação de estrangeiros, festas ocupam um espaço pequeno da Muralha e viram tradição

Rave na China

Cláudia Trevisan/Folha Imagem
Participantes descansam ao lado da pista de dança, em corredor da Muralha


CLÁUDIA TREVISAN
DE PEQUIM

Sempre me considerei desprovida das qualidades essenciais dos adeptos de raves: detesto música eletrônica e sou mais amiga do dia do que da noite. Mas o poder de sedução de uma rave na Muralha da China quebrou toda a minha resistência, ainda que, para chegar até lá, precisasse viajar três horas de ônibus.
Com uma história milenar e a fama de ser a única obra humana que pode ser vista da Lua, a Grande Muralha parecia o lugar mais espetacular e improvável para uma festa noturna. Concluí que o programa era imperdível e embarquei no ônibus com oito amigos às 18h30 do sábado, dia 24.
Alugados pela organização, cerca de dez ônibus deveriam chegar ao trecho da Muralha reservado para a rave às 21h30. A viagem acabou durando cinco horas, e desembarcamos no ponto final às 23h30. Ponto final para o ônibus, não para nós. A Muralha ainda estava longe, no fim de uma caminhada morro acima. Mas, quando ela se revelou, o esforço se justificou na hora.
Para entender como a rave se organizou, é importante ter uma idéia da arquitetura do lugar. A Muralha tem a forma de um longo e amplo corredor cercado por muros altíssimos de ambos os lados. Por estar em um terreno montanhoso, em alguns trechos o corredor tem degraus. Em outros, ele se abre em pátios que eram usados como torres de observação. Tudo isso em uma extensão de 6.000 quilômetros.
A rave ocupou um pedacinho inferior a 300 metros, com a pista montada em um dos pátios de observação. A noite estrelada e a iluminação em tons verdes e azuis formaram um cenário perfeito.
Para minha surpresa, o público era principalmente de estrangeiros. No nosso ônibus havia italianos, franceses, alemães e canadenses. Mas os DJs eram chineses: Dio, Mickey Zhang, Yangbing e Will tocaram o que um de meus amigos entendidos definiu como "música eletrônica européia".
Eu, que imaginava estar vivendo um momento inédito na história da noite chinesa, descobri com alguma decepção que raves naquele trecho da Muralha (chamado Jin- shanling) já estão se tornando uma tradição. A primeira foi realizada em 98 e, desde então, ela se repete com certa regularidade.
Saí da festa no primeiro ônibus, às 4h30. Cheguei a Pequim na manhã ensolarada do domingo com a sensação de que foi minha primeira e última rave.
Afinal, dificilmente haverá outra em um lugar mais espetacular do que a Muralha.


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