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COMPORTAMENTO
Saiômetro
A patrulha da roupa curta vai além da Uniban; o Folhateen foi a sete faculdades conferir o que se usa (e o que se fala) em dia de aula
Foto Galeria ExperiÉncia
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Estudante do Mackenzie, na última sexta-feira
DA REPORTAGEM LOCAL
E não é que, passadas quase cinco décadas da invenção da minissaia, as
pernas de fora ainda são motivo
para saia justa?
Após o já clássico episódio
que correu a internet na semana passada, em que uma garota
foi às aulas na Uniban (em São
Bernardo do Campo) com um
vestido curto e saiu de lá escoltada pela polícia sob xingamentos de outros alunos, o comprimento das saias e dos shorts
das colegas se tornou assunto
obrigatório em qualquer rodinha universitária. Como, aliás,
acontece todos os dias.
Na Faap, por exemplo. "Aqui,
pelo menos, as meninas se vestem bem. Mas tem uma menina
que é meio "vaga". Na verdade,
acho que ela tem problemas.
Ela usa "sainha" de ir à praia para vir à escola", dizia Daise Davanzo, 22, estudante de economia, na noite de sexta-feira.
Carolina Fôlego, 25, que faz
arquitetura na Uninove, acha
"ridículo tamanho de saia ser
assunto" no ambiente universitário. "O pior é que, se aparece
uma menina crente, de saia no
pé, também ridicularizam. As
pessoas se preocupam demais
com os outros. Estamos aqui
para estudar."
Na mesma noite de sexta, o
Folhateen visitou FGV-SP,
Mackenzie, Faculdades Oswaldo Cruz, PUC-SP, USP, Uninove e Uniban. Em geral, os estudantes (inclusive os da Uniban)
afirmaram que condenam a atitude dos colegas da estudante xingada, mas as opiniões deixam claro que o excesso
de vigilância não é exclusivo daqueles alunos
de São Bernardo.
No curso de direto da
USP, no Largo São
Francisco, Maira Pinheiro, 19, se ofendeu
com o tratamento dado
a uma aluna, dois anos atrás.
"Ela foi de short a um debate
sobre a eleição do centro acadêmico e uma pessoa da oposição
teve a pachorra de perguntar se
ela foi de short para ganhar
mais voto", relata, indignada.
Ana Carolina Aggio, 19, do
curso de artes cênicas da USP,
diz que ali esse tipo de piada ou
ofensa coletiva não aconteceriam. "Lá no departamento [na
Escola de Comunicações e Artes], a gente sempre toma banho de mangueira, ficamos só
de sutiã. Se isso [discriminação] acontecesse aqui, seria na
Poli [Escola Politécnica]."
Marcelo Canovas, 20, e Adonis Maitino, 20, do curso de engenharia de produção, estrilaram com o comentário e disseram que os futuros engenheiros são respeitosos e tolerantes
"com a diversidade".
Rita Catunda, 19, estudante
de cinema na Faap, combinava
na sexta-feira meia-calça roxa e
short jeans. "No meu trabalho,
já fui discriminada por causa
deste short", conta. "Me aconselharam a ir mais vestida no
dia seguinte, em tom de brincadeira. É mais que roupa. Conta
também o lugar e, mais ainda, o
comportamento."
Sobre o caso da Uniban, muitos estudantes falaram em "linchamento" e "covardia" de pessoas que se tornam agressivas
quando estão protegidas pelo
anonimato da multidão.
"É como no "bullying" da escola. Quem tem coragem de começar? Ninguém. Mas, depois
que um fala, todo mundo vai
atrás. Na hora em que a
polícia quiser saber,
ninguém vai assumir
quem começou. Com o
apoio coletivo, veem
que não vão se ferrar
sozinhos", diz Fernanda Naresi, 19, da publicidade do Mackenzie.
(CHICO FELITTI, DANIEL BERGAMASCO, JAMES CIMINO e
TARSO ARAÚJO)
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