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São Paulo, segunda-feira, 03 de fevereiro de 2003

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Formato amigável de recepção abre as portas para outras ações sociais

DA REPORTAGEM LOCAL

Quem está pensando em desenvolver um projeto de trote solidário, mas está meio perdido, tem muitos exemplos em que se inspirar. Fora as idéias que podem surgir em conversas com os colegas, os universitários que pretendem organizar esse tipo de recepção para seus bichos contam com um aliado no campo institucional que dá tudo mastigadinho para que a idéia vire ação.
É o projeto Trote da Cidadania, realizado por meio de uma parceria entre a Fundação Educar DPaschoal, o Faça Parte -Instituto Brasil Voluntário e o site Neurônio. Em seis anos, o Trote da Cidadania reuniu a experiência de quem apoiou milhares de trotes em todo o país e dá esse conhecimento de bandeja no site www.trotedacidadania.com.br e em manuais que publica anualmente. O projeto organiza um concurso para premiar as melhores iniciativas e, em 2003, doará mais de 1 milhão de livros infantis para que universitários realizem trotes solidários envolvendo crianças.
"Institucionalizamos o trote", explica Ademar Bueno, 33, coordenador do Trote da Cidadania. "Além de substituir o trote violento e humilhante, o projeto pretende incentivar os universitários a desenvolver uma integração diferenciada, com atividades de responsabilidade social. A idéia é que a porta de entrada da universidade seja o confronto com outras realidades e valores, o que cria uma visão ampliada de mundo e o desenvolvimento de responsabilidades."
Luís Norberto Pascoal, 56, presidente da DPaschoal, vai além. "Vejo o trote cidadão de modo muito maior do que via antes. Com o tempo e as responsabilidades sociais, o trote cidadão deixou de ser uma arma contra o trote violento para ser um rito de ingresso ao voluntariado, o que será um diferencial na vida profissional, uma vez que esse trabalho demonstra empreendedorismo", analisa.

Bicho voluntário
A estudante de administração da PUC Cintia Vernalha, 20, diretora de responsabilidade social da empresa PUC-Jr., é quem está organizando o trote solidário de 2003 da PUC-SP. "Esse tipo de trote começou aqui com uma parceria com o pessoal da Unicamp, que faz o Trote da Cidadania. Utilizamos os manuais do projeto para conseguir patrocínios e realizamos nosso primeiro trote com a ajuda desse material", conta.
O trote solidário da PUC foi plantar árvores no parque da Água Branca e visitar instituições. Segundo Cintia, não é difícil encontrar calouros que preferem o trabalho voluntário ao trote à moda antiga. "Os bichos têm tanto medo do trote por causa da violência que, só de falarmos que não vamos cortar cabelo nem pintar ninguém, eles topam na hora."
A caloura de 2002 da PUC-SP Tatiana Almeida, 19, diz que adorou a experiência de "aprender coisas novas em vez de ir ao bar beber cerveja. Isso me despertou a vontade de realmente fazer trabalho voluntário."
O veterano de engenharia florestal da Esalq-USP Flávio Cremonesi, 26, não acha a tarefa tão fácil assim. "Quase todos os calouros são da elite e chegam à faculdade sem uma preocupação social grande." No caso do trote que ele aplicou -destaque do concurso do Trote da Cidadania de 2002-, por sorte, era necessária apenas uma preocupação ambiental. "Fizemos a limpeza da mata ao redor da represa do campus, em Piracicaba. Recolhemos mais de uma tonelada de lixo no local e 700 quilos foram reciclados", gaba-se.
Já Martin Sabatino, 22, presidente do centro acadêmico de Educação Física e Esportes da USP, organizou uma semana inteira de eventos. "Montamos um circo na favela ao lado do campus com atividades para as crianças de lá."
"Ajudamos a comunidade, nos envolvemos com ela. Mas o retorno principal é a integração entre veteranos e calouros."


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