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Formato amigável de recepção abre as portas para outras ações sociais
DA REPORTAGEM LOCAL
Quem está pensando em desenvolver
um projeto de trote solidário, mas está meio perdido, tem muitos exemplos
em que se inspirar. Fora as idéias que podem surgir em conversas com os colegas,
os universitários que pretendem organizar esse tipo de recepção para seus bichos contam com um aliado no campo
institucional que dá tudo mastigadinho
para que a idéia vire ação.
É o projeto Trote da Cidadania, realizado por meio de uma parceria entre a
Fundação Educar DPaschoal, o Faça
Parte -Instituto Brasil Voluntário e o site
Neurônio. Em seis anos, o Trote da Cidadania reuniu a experiência de quem
apoiou milhares de trotes em todo o país
e dá esse conhecimento de bandeja no site www.trotedacidadania.com.br e em
manuais que publica anualmente. O projeto organiza um concurso para premiar
as melhores iniciativas e, em 2003, doará
mais de 1 milhão de livros infantis para
que universitários realizem trotes solidários envolvendo crianças.
"Institucionalizamos o trote", explica
Ademar Bueno, 33, coordenador do Trote da Cidadania. "Além de substituir o
trote violento e humilhante, o projeto
pretende incentivar os universitários a
desenvolver uma integração diferenciada, com atividades de responsabilidade
social. A idéia é que a porta de entrada da
universidade seja o confronto com outras realidades e valores, o que cria uma
visão ampliada de mundo e o desenvolvimento de responsabilidades."
Luís Norberto Pascoal, 56, presidente
da DPaschoal, vai além. "Vejo o trote cidadão de modo muito maior do que via
antes. Com o tempo e as responsabilidades sociais, o trote cidadão deixou de ser
uma arma contra o trote violento para
ser um rito de ingresso ao voluntariado,
o que será um diferencial na vida profissional, uma vez que esse trabalho demonstra empreendedorismo", analisa.
Bicho voluntário
A estudante de administração da PUC
Cintia Vernalha, 20, diretora de responsabilidade social da empresa PUC-Jr., é
quem está organizando o trote solidário
de 2003 da PUC-SP. "Esse tipo de trote
começou aqui com uma parceria com o
pessoal da Unicamp, que faz o Trote da
Cidadania. Utilizamos os manuais do
projeto para conseguir patrocínios e realizamos nosso primeiro trote com a ajuda
desse material", conta.
O trote solidário da PUC foi plantar árvores no parque da Água Branca e visitar
instituições. Segundo Cintia, não é difícil
encontrar calouros que preferem o trabalho voluntário ao trote à moda antiga.
"Os bichos têm tanto medo do trote por
causa da violência que, só de falarmos
que não vamos cortar cabelo nem pintar
ninguém, eles topam na hora."
A caloura de 2002 da PUC-SP Tatiana
Almeida, 19, diz que adorou a experiência de "aprender coisas novas em vez de
ir ao bar beber cerveja. Isso me despertou
a vontade de realmente fazer trabalho voluntário."
O veterano de engenharia florestal da
Esalq-USP Flávio Cremonesi, 26, não
acha a tarefa tão fácil assim. "Quase todos
os calouros são da elite e chegam à faculdade sem uma preocupação social grande." No caso do trote que ele aplicou
-destaque do concurso do Trote da Cidadania de 2002-, por sorte, era necessária apenas uma preocupação ambiental. "Fizemos a limpeza da mata ao redor
da represa do campus, em Piracicaba.
Recolhemos mais de uma tonelada de lixo no local e 700 quilos foram reciclados", gaba-se.
Já Martin Sabatino, 22, presidente do
centro acadêmico de Educação Física e
Esportes da USP, organizou uma semana
inteira de eventos. "Montamos um circo
na favela ao lado do campus com atividades para as crianças de lá."
"Ajudamos a comunidade, nos envolvemos com ela. Mas o retorno principal é
a integração entre veteranos e calouros."
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