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Onde termina a brincadeira e começa o abuso
DA REPORTAGEM LOCAL
O limite entre o trote do bem, divertido, e
o abuso é variável. Se o trote implica lesões físicas aos calouros, obviamente é abusivo. E trote abusivo pode culminar em tragédias como a morte do calouro de medicina Edison Hsueh, há quatro anos.
"Trote é brincadeira. O caso do meu filho
não foi trote, foi assassinato", afirma Feng
Ming Hsueh, 59, pai do estudante morto.
"Quem fez aquilo com o meu filho não era
mais criança. E aquilo não era brincadeira.
Foi crime. São criminosos", diz.
Mas não é só em casos extremos como o
de Edison que o abuso acontece.
A estudante Djenifer Berardi, 22, aprendeu isso no seu primeiro ano como veterana do curso de agronomia da Universidade
Federal do Paraná, em 99. "Quando fui caloura, jogaram água de peixe podre em
mim, vomitei, mas levei numa boa, uma
vez que a faculdade permitia o trote. Quando fui veterana, rolou um trote normal. Jogamos água e farinha nos bichos. Só que
eles ficaram superofendidos e entraram
com um processo contra alguns colegas",
conta. "A coisa ficou feia e o processo universitário virou criminal. Alguns veteranos
estão respondendo por ele até hoje."
Carlos (nome fictício), 28, é daqueles veteranos que já viu de tudo na Esalq-USP
(Escola Superior de Agricultura Luiz de
Queiroz), famosa por ter sido palco de trotes violentos e de práticas como colocar os
bichos para correr pelados pelo campus e
como a "pascu", na qual o bicho é despido e
tem pasta de dente colocada em seu ânus.
Estudante há seis anos, ele conta que os
trotes acontecem dentro das repúblicas,
mas que hoje são feitos somente com o
consentimento dos bichos. "Quando entrei
aqui, não tínhamos a quem recorrer. Só ficava na faculdade quem aguentava os trotes mesmo. Hoje em dia, só brincamos com
quem quer brincar."
(FM)
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