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MÚSICA
Detonautas mostram o risco de beber e dirigir
LEANDRO FORTINO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
A música começa com uma batida
que parece o pulsar de um coração. A letra conta o drama de alguém preso nas ferragens de um
carro após um acidente grave. Mas
é o clipe de "O Dia que Não Terminou", o primeiro do recém-lançado
segundo álbum dos Detonautas,
"Roque Marciano", que deixará
muitos fãs arrepiados, assim como
ficou o vocalista, Tico Santa Cruz,
26, quando escreveu a letra.
Imagens reais de pessoas sendo
atendidas após sofrerem acidentes
de carro causados pela bebida estão
por todo o vídeo, uma mensagem
que os Detonautas querem passar
para quem usa a direção do carro
como arma. Só em São Paulo, segundo dados da CET (Companhia
de Engenharia de Tráfego), 40,7%
dos mortos em colisões têm entre
16 e 25 anos. A maioria causada pelo consumo de álcool ou drogas.
"O clipe gera uma sensação de
"como eu sou idiota". Tanto se eu dirijo depois de beber quanto se eu
entro em um carro guiado por alguém que bebeu. A função é gerar
um alerta, uma reflexão nos jovens.
A molecada está enchendo a cara e
pegando o carro, achando legal tirar onda por aí", explica Tico.
Para o guitarrista e vocalista Rodrigo Netto, 26, a idéia do clipe, que
estreou na MTV na última sexta, é
provocar incômodo nas pessoas.
"As campanhas do governo são
tranqüilas, não mostram nada de
mais. Hoje em dia, o cigarro mostra
nas embalagens algo mais forte.
Você tem de mostrar a realidade
para causar efeito", diz Rodrigo.
Parte das cenas do clipe foram
gravadas em apenas duas madrugadas no Rio. Outras são de arquivo de imagem de emissoras de TV,
mas a banda garante: todos os acidentes foram provocados por gente
que bebeu e resolveu guiar.
No final do vídeo, há fotos de jovens mortos em acidentes, todas
cedidas pelas famílias, como exemplo para ajudar outros jovens a não
se envolverem com essa situação.
"O Dia que Não Terminou" é o
carro-chefe de "Roque Marciano",
nome que faz uma homenagem ao
pugilista americano Rocky Marciano (1923-69), que encerrou a carreira profissional sem nunca perder.
"Ele era um lutador que, no início
da carreira, foi muito criticado porque não tinha técnica nenhuma e
lutava por instinto, e a gente se
identifica com isso, porque a gente
começou sem entender nada. E o
que fez o cara se desenvolver foi a
luta, a determinação e a vontade de
vencer. A gente se inspira no espírito de batalha, de querer vencer, de
dar um passo para a frente e alcançar nossos objetivos", explica Tico.
O disco traz os Detonautas mais
maduros na mistura de rock, grunge e hardcore que deu fama à banda
em 2002, quando lançaram o disco
de estréia. "Fomos estimulados pela gravadora a ter liberdade. Isso se
tornou ainda mais forte quando o
produtor Tom Capone [O Rappa,
Maria Rita e Kelly Key] se envolveu
no trabalho e colocou a gente nessa
nova fase, que trabalha ritmos e sonoridades que até então a gente não
tinha usado, como a programação
eletrônica", explica Tico.
Como resultado, há músicas voltadas para a porradaria, outras
tranqüilas e algumas de puro punk
rock e hardcore, que o grupo faz
questão de dizer que não renega.
Boa parte das letras do disco trata
de um problema de Tico, a insônia.
"Escrevo o que vivo, então muitas
letras falam de madrugada, de não
conseguir dormir e de quando o sono não vem", explica o vocalista.
O jornalista Leandro Fortino viajou ao Rio
a convite da gravadora Warner Music
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