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Uma década sem Cazuza
Reprodução
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Cazuza teve uma vida agitada e rebelde e deixou grandes músicas e muitos admiradores |
Dez anos depois de sua morte, Cazuza, o ídolo que não teve medo de assumir a Aids, é celebrado com uma antologia de letras e um espetáculo musical de sucesso
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GABRIEL GAIARSA
DA REPORTAGEM LOCAL
Esta sexta-feira marca os dez anos da morte de um dos
maiores nomes do rock nacional. Agenor de Miranda
Araújo Neto, o Cazuza, morreu de complicações decorrentes da Aids no dia 7 de julho de 1990, poucas semanas depois de completar 32 anos. Para celebrar a data,
está previsto para agosto o lançamento do livro "O Poeta Está Vivo", com todas as letras escritas por ele. Também está em cartaz em São Paulo o musical "Cazas de
Cazuza", dirigido por Rodrigo Pitta.
A vida de Cazuza foi agitada e marcada pela rebeldia.
Aos 15 anos, foi expulso do colégio onde estudava, no
Rio de Janeiro, por fumar maconha no corredor. Era o
típico jovem problemático de classe média alta. Entrou
na faculdade de comunicação, mas só para ganhar o
carro que o pai, executivo de uma gravadora, havia prometido. Largou o curso logo no começo e resolveu trabalhar, mas viu que não tinha jeito para os negócios e
decidiu que queria mesmo era ser cantor.
"Ele pediu ao pai que o sustentasse por mais dois anos
para que tentasse a carreira artística. Nós nunca tínhamos notado nele talento artístico e nos surpreendemos
quando o Barão Vermelho começou a dar certo. Em oito meses, ele já estava ganhando dinheiro", diz a mãe,
Lucinha Araújo.
O primeiro convidado a assumir os vocais do Barão
foi o cantor Léo Jaime. Léo recusou o convite, mas disse
que conhecia a pessoa certa para o cargo e apresentou
Cazuza a Roberto Frejat e companhia. "Na época, não
estávamos procurando um amigo e sim um letrista e
cantor", lembra Frejat. "Achamos que o Cazuza era talentoso e tinha a cara da banda. Com o tempo, fui me
apegando a ele, e ficamos muito amigos."
O Barão Vermelho lançou três discos e emplacou vários hits que continuam sendo tocados nas rádios e regravados constantemente, como "Todo Amor que
Houver Nessa Vida", "Pro Dia Nascer Feliz", "Bete Balanço" e "Maior Abandonando", faixa-título do terceiro disco do grupo.
Cazuza deixou a banda em julho de 1985, após uma
discussão com Frejat na porta da gravadora. "Fiquei
triste com a saída dele porque me senti desvalorizado.
Depois disso, ficamos seis meses sem conversar. Acabou ficando tudo numa boa. Acho até que nossas composições passaram a ser mais maduras e precisas, exatamente porque não tínhamos a obrigação de compor
juntos. A gente se encontrava quando dava vontade e
acabava compondo alguma coisa", lembra Frejat, que
nessa época assumiu também os vocais da banda.
Começava então a carreira solo do cantor. Seu primeiro disco, "Exagerado", já incluía os sucessos "Codinome Beija-Flor", "Só as Mães São Felizes" e a faixa-título. Era praticamente consenso dizer que o disco é melhor do que qualquer outro gravado com o Barão. Seu
segundo trabalho solo, "Só Se For a Dois", iniciou a fusão de rock e MPB que assolaria a música brasileira
quase uma década depois.
Em maio de 1987, dois meses depois do lançamento
de "Só Se For a Dois", foi diagnosticada a doença, que
só seria assumida publicamente em fevereiro de 1989
(leia mais na pág. 10).
Um clima mórbido fez parte dos shows da turnê de
"Exagerado". Nessa época, já circulavam rumores sobre a doença que levava Cazuza a frequentes internações. O clima de tristeza, quase de despedida, desaparecia assim que o cantor subia ao palco e mostrava que tinha condições de agradar- e chocar- a qualquer público. O registro ao vivo daquela turnê está no disco "O
Tempo Não Pára", gravado no Canecão, Rio de Janeiro,
em outubro de 1988.
A partir daí, sua vida praticamente se resumia a ir e
voltar do hospital. Mesmo assim, ainda encontrou forças para gravar mais um disco, "Ideologia".
"Ele gravava compulsivamente nessa época, e ninguém pedia para ele parar, porque sabíamos que era isso que estava mantendo Cazuza vivo. Ele viveu para sua
música, que continua viva até hoje e cada vez mais forte.
Ele foi a maior mostra de que, realmente, o tempo não
pára", diz Lucinha.
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