São Paulo, segunda-feira, 03 de agosto de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ARTE

Lambe-lambe da periferia

Projeto "Um Olhar" reúne jovens da periferia interessados em fotografar e expõe trabalho pelas ruas da zona sul de SP

CÍNTIA ACAYABA
DA AGÊNCIA FOLHA

Catorze jovens fotógrafos da periferia de São Paulo fizeram do extremo sul da cidade uma galeria de arte a céu aberto. Eles espalharam cerca de 40 lambe-lambes (cartazes de colagem) com fotos feitas pelo grupo em localidades como Grajaú e Cantinho do Céu.
O fundo de um bar, a parede de um sobrado e o portão de uma oficina mecânica são alguns dos locais escolhidos pelos integrantes do projeto "Um Olhar" para exporem fotos, feitas nos últimos seis meses.
Quase todos os lambe-lambes da exposição ganharam intervenções de grafite feitas pelos próprios artistas.
Jacó dos Santos, 42, ganhou um, colado no portão de sua oficina. "Achei bonito. Não tem muito dessas coisas por aqui."
Criado em 2006 na favela Paraisópolis (zona sul de SP), o grupo reúne jovens -o mais novo tem 16 anos- interessados em fotografar, mas "sem condições de pagar curso no Senac", diz o coordenador do projeto, André Bueno.
Munidos de máquinas fotográficas reflex 35 mm usadas, os jovens foram às ruas para clicar o que vissem pela frente.
Os encontros semanais ocorriam no Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente de Interlagos, e a verba veio de uma fundação ligada ao Ministério da Cultura.
"A ideia é fazer com que o jovem morador da região perceba seu entorno por meio da fotografia", diz Bueno.
João Paulo Costa, 18, aluno do primeiro ano do ensino médio, diz que estava "desanimadão" com a vida, mas que, com a máquina na mão, está prestando mais atenção nas coisas -inclusive nas ruins. "Estava no ônibus e tirei a máquina da mochila. O pessoal ficou ligado, pensando que era uma arma."

Foto como documento
Depois de fotos aleatórias, os jovens passaram a registrar a desapropriação de moradores do entorno da represa Billings.
Eles clicaram famílias despejadas e casas sendo demolidas. "A fotografia é uma forma de documentar essa história", diz Rodrigo Obranco, 23.
A oficina não é profissionalizante, mas ajuda na carreira.
É o caso de Elaine Braga, 20, que abandonou o curso de letras por ter perdido a bolsa de estudos. "É difícil entrar no mercado de trabalho. O projeto me deu um andamento para me tornar profissional em fotografia ou em design."


Texto Anterior: Na estrada - Mayra Dias Gomes: Nunca se desespere por causa de um "rockstar"
Próximo Texto: Música: Anti-herói da guitarra
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.