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ARTE
Lambe-lambe da periferia
Projeto "Um Olhar" reúne jovens da periferia interessados em fotografar e expõe trabalho pelas ruas da zona sul de SP
CÍNTIA ACAYABA
DA AGÊNCIA FOLHA
Catorze jovens fotógrafos da periferia de
São Paulo fizeram do
extremo sul da cidade
uma galeria de arte a céu aberto. Eles espalharam cerca de 40
lambe-lambes (cartazes de colagem) com fotos feitas pelo
grupo em localidades como
Grajaú e Cantinho do Céu.
O fundo de um bar, a parede
de um sobrado e o portão de
uma oficina mecânica são alguns dos locais escolhidos pelos integrantes do projeto "Um
Olhar" para exporem fotos, feitas nos últimos seis meses.
Quase todos os lambe-lambes da exposição ganharam intervenções de grafite feitas pelos próprios artistas.
Jacó dos Santos, 42, ganhou
um, colado no portão de sua
oficina. "Achei bonito. Não tem
muito dessas coisas por aqui."
Criado em 2006 na favela Paraisópolis (zona sul de SP), o
grupo reúne jovens -o mais
novo tem 16 anos- interessados em fotografar, mas "sem
condições de pagar curso no
Senac", diz o coordenador do
projeto, André Bueno.
Munidos de máquinas fotográficas reflex 35 mm usadas,
os jovens foram às ruas para clicar o que vissem pela frente.
Os encontros semanais ocorriam no Centro de Defesa dos
Direitos da Criança e do Adolescente de Interlagos, e a verba
veio de uma fundação ligada ao
Ministério da Cultura.
"A ideia é fazer com que o jovem morador da região perceba
seu entorno por meio da fotografia", diz Bueno.
João Paulo Costa, 18, aluno
do primeiro ano do ensino médio, diz que estava "desanimadão" com a vida, mas que, com a
máquina na mão, está prestando mais atenção nas coisas
-inclusive nas ruins. "Estava
no ônibus e tirei a máquina da
mochila. O pessoal ficou ligado,
pensando que era uma arma."
Foto como documento
Depois de fotos aleatórias, os
jovens passaram a registrar a
desapropriação de moradores
do entorno da represa Billings.
Eles clicaram famílias despejadas e casas sendo demolidas.
"A fotografia é uma forma de
documentar essa história", diz
Rodrigo Obranco, 23.
A oficina não é profissionalizante, mas ajuda na carreira.
É o caso de Elaine Braga, 20,
que abandonou o curso de letras por ter perdido a bolsa de
estudos. "É difícil entrar no
mercado de trabalho. O projeto
me deu um andamento para me
tornar profissional em fotografia ou em design."
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