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Novos e velhos se encontram em
Londres
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
especial para a Folha
Viagens legais, lugares bacanas, shows animados, muitos livros e CDs... Todo mundo deveria ter direito a duas semanas de
felicidade por ano.
Nosso passeio começa na periferia sudoeste de Londres, mais
precisamente em Blackheath, um
bairro perdido que tem um lindo
conservatório E quem toca ali?
Ninguém menos do que o Asian
Dub Foundation, um grupo de
paquistaneses e afins que junta
tudo o que se pode juntar num
fim de século tão confuso:
drum'n bass, reggae, dub, techno.
O show é loucura terminal. Na
platéia, tem até indiano sikh de
turbante e agasalho clubber da
Adidas.
O Asian Dub Foundation faz
aberta campanha política por
grupos minoritários da Índia e
Paquistão. As letras ofendem os
colonizadores britânicos com
violência colossal. Mas a galera
nem liga, e dança sem parar.
Você, como eu, pode até não
gostar do Asian Dub Foundation, mas não se pode negar que
o som é brutalmente moderno.
Como modernidade sozinha
não dá camisa para ninguém,
não custa nada uma breve sessão
nostalgia. Com ele mesmo, Marc
Almond, a face mais visível da
dupla new wave/new romantic/eletrônica Soft Cell!
Almond está vivo e em plena
forma, lotando durante uma semana o respeitado Almeida
Theatre, onde coisa ruim não entra.
Marc faz um show semi-acústico, basicamente de novas composições. O homem (...) é bom
poeta e baladista de primeira.
Fora de lugar, só um capoeirista brasileiro que entrou no palco
para explicar o que era pomba-gira. No começo parecia que
ele ia ganhar um beijo na boca de
Almond, mas aí o brazuca falou
demais e foi sutilmente dispensado pela velha raposa do Soft Cell.
Só lamentei ser um péssimo fisionomista e não reconhecer
ninguém na platéia. Pela idade e
visual de boa parte do público,
com certeza muita gente ali foi/é
de bandas daquela época, tipo
Human League, Spandau Ballet,
A Flock of Seagulls etc.
A duras penas, as guitarras sobrevivem no Reino Unido, o que
ficou claro no show lotado do
Swervedrive, num clube à beira
dos canais do bairro Camden
Town.
O som dos caras continua na linha "muro de distorção", sem
grandes novidades. O show de
abertura, do Libido, prometia ser
mais interessante, mas cheguei
em cima da hora e não deu pra
ver.
O detalhe curioso da noite ficou
por conta do porteiro, que nos
deixou entrar de graça, porque,
afinal, "o Brasil fica longe pra
caramba".
A última etapa deste passeio foi
também a mais emocionante: a
apresentação esplendorosa dos
americanos do Sparkeehorse.
Liderados pelo torturado Mark
Lanous, eles fazem um folk rock
de textura sombria, como um
cruzamento bastardo de Chris Issak com Tricky.
Não sei se meu bravo amigo
Marcelo Orozco, editor de esportes do "Notícias Populares", já
escutou o novo do Sparkeehorse.
Marcelo viaja com força na onda
folk, e imagino que esteja ouvindo o CD até o laser derreter o
plástico.
Sparkeehorse não é para corações fracos.
Na semana que vem: loucuras
em San Francisco, estrelando este que vos fala mais Girls Against
Boys, Drugstore, Buffalo Daughter... e outros menos votados. Até
lá.
Álvaro Pereira Júnior, 35, é chefe de Redação da Rede Globo em São Paulo
cd player
"Good Morning Spider", Sparklehorse
A vida não muda,
vagamos desorientados pelo planeta, o
século 21 nada promete, e o
Sparklehorse faz a trilha sonora de tudo isso. É rock, é folk, é
indispensável.
"Fantasma", Cornelius
Esse Cornelius não é
aquele que cantava
no Made in Brazil
nos anos 70. Trata-se de um
músico experimental japonês,
venerado no circuito dance/eletrônico dos EUA e Inglaterra.
Só para aficcionados.
Smoke City ao vivo
A banda da brasileira Nina Miranda,
baseada em Londres, consegue fazer um som
ainda mais pseudo e desimportante do que Marisa Monte, em
quem Nina obviamente se inspira. Sofrível.
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