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Por trás da fumaça
Consumo de cigarros entre jovens é alto e começa cedo;
as meninas já experimentam tanto ou mais que os meninos
Renato Stockler/Na Lata/Folha Imagem
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saúde
TARSO ARAUJO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"Conheço os males do cigarro.
Mas, hoje em
dia, o que não
faz algum mal
para a saúde? Não é possível
que eu tenha que me privar de
tudo para poder chegar aos 80
anos. Prefiro morrer com 50 e
ter aproveitado muito bem a vida", diz a estudante carioca
Thais Vieira Griffo, 17. Ela fuma regularmente desde os 15 e
colocou o primeiro cigarro na
boca aos 12. E não está sozinha.
O depoimento dela reflete a
maneira de pensar de muitos
jovens que vão contra a corrente da geração saúde e que entraram na cortina de fumaça antes
de completar a maioridade.
É o que comprova um dos estudos mais amplos já feitos no
Brasil, cujos dados começam a
ser divulgados nesta quarta.
Realizada pela equipe da Unidade de Pesquisa em Álcool e
Drogas da Universidade Federal de SP, a pesquisa mostra que
20,8% da população brasileira é
dependente de tabaco, e a experiência com o cigarro começa
aos 13,5 anos.
Entre os jovens que hoje têm
14 a 17 anos, o percentual de dependência é de 6%. E, nesse
grupo, as meninas estão experimentando tanto ou mais que os
meninos. "É preocupante porque dois terços deles seguirão
fumantes pelo resto da vida e
terão doenças decorrentes do
cigarro. E as mulheres são mais
sensíveis aos problemas causados pelo cigarro", diz a psiquiatra Ana Cecília Marques, uma
das autoras do estudo.
Dependência não é opção
A maioria dos jovens começa
com amigos, por curiosidade, e
não pára mais. "Estava na escola, saí para almoçar com umas
amigas que fumavam e resolvi
experimentar. Aí comecei a fumar quando ia na casa delas ou
quando íamos a alguma festa",
diz a estudante paulista Carol,
que tem 13 anos, fuma ocasionalmente desde o ano passado
e preferiu não publicar seu nome verdadeiro para não arrumar briga em casa.
"Só tenho medo de ficar viciada", diz Carol. Para a psiquiatra Sandra Scivoletto, chefe do Ambulatório de Adolescentes e Drogas da Faculdade
de Medicina da USP, a preocupação dela faz sentido: "Quanto
mais cedo se começa a fumar,
mais fácil é criar dependência, e
mais difícil largar o hábito", diz.
E muitos nem percebem que já
entraram nesse estágio.
"Eu não pretendo me viciar.
Quando reparar que a coisa está se encaminhando para esse
lado, eu paro", diz o estudante
Fernando, 17, de Porto Alegre.
O detalhe é que ele consome de
3 a 5 cigarros por dia, o suficiente para caracterizar um
quadro de dependência.
"Os adolescentes costumam
ter a fantasia de que dependência é uma opção. Mas são raras
as pessoas que conseguem usar
cigarro socialmente, até a vida
adulta, e não desenvolver dependência", afirma Scivoletto.
Mas se parar de fumar é difícil,
começar é outra história.
Cigarro barato
Uma das coisas que ajuda
bastante é o acesso que os jovens têm ao cigarro. "Eu fumo
desde os 14 e nunca me pediram identidade. Não tem essa
de que vender cigarro é proibido para menor", diz a estudante
paulista Bárbara Barbosa Farias, 18, enquanto fuma um cigarro em frente ao cursinho.
Não é só ela que acha fácil.
Mais de 75% dos jovens não
precisam mostrar identidade
para comprar cigarro, segundo
o Vigescola, estudo sobre tabagismo feito periodicamente pelo Ministério da Saúde em escolas de capitais brasileiras.
"Não acho caro. É mais barato que uma garrafa de cerveja,
por exemplo", diz Karla Shinoda, 18, que faz cursinho e ainda
depende da grana dos pais.
Em 2003, a OMS fez um levantamento sobre o preço do
cigarro e chegou a uma conclusão parecida com a de Karla: o
Brasil tem o sexto cigarro mais
barato do mundo. Um maço
que custa R$ 2,80 aqui é oito
vezes mais caro na Inglaterra.
Além da boa política de preços, a indústria também tenta
atrair os adolescentes com pessoas jovens e bonitas nas propagandas dos pontos de venda
-único lugar onde podem
anunciar no Brasil, desde 2001.
Mas muitos jovens não precisam sair de casa para receber
alguma influência a favor do cigarro -cerca de 40% deles têm
pelo menos um pai fumante,
segundo o Vigescola.
"Minha mãe fumava e meu
pai ainda fuma. Eles sempre falaram que cigarro faz mal. Mas
acabei fumando também", diz
Thais. A mãe dela, a professora
Renata Vieira, 37, reconhece a
responsabilidade.
"A gente sabe que nossas atitudes valem mais para os filhos
do que o que falamos. Mas nossa influência pode incentivar o
mesmo comportamento ou o
contrário, porque ela também
viu todo meu sofrimento para
parar", diz a mãe, que largou 20
anos de vício em 2006.
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