São Paulo, segunda-feira, 03 de setembro de 2007

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Cinqüenta anos de mentiras

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Poder, corrupção e mentiras. O título do disco do New Order ("Power, Corruption and Lies", no original) pode ser usado como um resumo da ópera da história do cigarro no século 20. A mãe de todas as mentiras -e de todas as fraudes- foi criada em 1953 nos EUA, pela Burson-Marstellar, a maior agência de relações públicas do mundo. Foi essa agência que criou a lengalenga, repetida até os anos 90, de que não havia provas científicas de que cigarro causava câncer.
Em 1953, um cientista alemão chamado Ernest Wynder descobriu as primeiras evidências de que tabaco provocava câncer em ratos. Pesquisas feitas pelas fábricas mostravam o mesmo resultado.
A indústria entrou em pânico. E optou pela fraude. Publicou anúncios em mais de 500 jornais nos EUA prometendo contar tudo que soubesse sobre os efeitos do cigarro.
A tática da mentira mil vezes repetida ("não há evidências") durou até os anos 90. Foi nessa época que todos os documentos internos da indústria vieram à tona numa batalha judicial. O que se viu era tão chocante que as fábricas foram condenadas nos EUA a pagar a maior indenização da história (US$ 246 bilhões) por fraudes contra a saúde pública.
O cigarro matou 100 milhões de vítimas no século 20, mais do que em todas as guerras somadas. Por isso, quando você acender um cigarro, dedique uma tragada aos deuses da mentira. Foi a mentira que transformou um produto letal em algo aparentemente banal.


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