São Paulo, segunda-feira, 03 de outubro de 2005

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Estatuto é passo na direção certa, afirma Yuka

DA REPORTAGEM LOCAL

Marcelo Yuka, líder do F.U.R.T.O., sempre foi ativista da não-violência. Mesmo antes de ser vítima de nove tiros em tentativa de assalto no dia 10 de novembro de 2000, que o deixaram preso a uma cadeira de rodas. Hoje, após 16 cirurgias, ainda há uma bala alojada no pescoço do músico. A favor do desarmamento mesmo antes da tragédia, Yuka sofre outras seqüelas, como conta ao Folhateen. (LF) Folha - Por que votar sim?
Marcelo Yuka - A gente vive em um país que está na vanguarda da violência e a gente precisa de ações na vanguarda da contraviolência. Caso a gente opte pelo desarmamento, teremos uma opção mais pacífica, porque estamos vendo a sociedade muitas vezes clamando por vingança por meio da polícia. Então, na medida em que a população se arma, a polícia se arma. É uma incoerência em relação à contraviolência, porque deixa a sociedade em um fogo cruzado.
Folha - A tragédia mudou a sua maneira de encarar a violência?
Yuka - A minha, não. Já venho com essa temática há muito tempo. A diferença é que agora estou mais estereotipado, virei um ícone pacifista. Mas embora eu tenha esse estereótipo, eu poderia matar, se tivesse uma arma. Várias vezes eu fui humilhado ou sofri preconceito e faria um ato impensado que não iria ser a cura para os problemas que eu enfrento.
Folha - O acidente poderia ser evitado se o estatuto já existisse em 2000?
Yuka - O estatuto e a proibição não são um milagre pelo fim da violência. São um passo na direção certa, mas vêm no bojo de várias medidas. O Brasil está se armando como uma tentativa de acabar com a violência e, cada vez que se arma mais, produz violência. O desarmamento propõe um outro ponto de vista, mas não é a solução. É um primeiro passo.
Folha - Como você está hoje?
Yuka - Eu tenho menos de 40% de meu corpo funcionando. Estou em progresso, venho ganhando gradativamente mais sensibilidade. Mas, mesmo assim, tenho dificuldade respiratória, problemas cardíacos, no sistema digestivo, de bexiga, enfim, além dos cuidados que tenho de ter. Tenho 24 horas de dor. De alguma maneira, consigo conviver com ela, mas há picos de dor que dificultam até mesmo o meu raciocínio.

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