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São Paulo, segunda-feira, 03 de novembro de 2003

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LIVROS

Série narra as aventuras de um 007 adolescente

Pequenas espionagens

IANICK TAKAES DE OLIVEIRA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

A impressão que eu tive ao ler a série Alex Rider é a de ter lido um roteiro de cinema romanceado sobre superespiões. Com os clichês e tudo.
Situações absurdas são norma na história de um garoto de 14 anos que, após a morte de seu tio e mentor, vê seu mundo de pernas para o ar, pois descobre que ele trabalhava como espião para o MI6 (o serviço secreto britânico) e passa a ter de colaborar com o governo, ocupando o lugar do tio em uma missão contra um empresário multimilionário que, apesar de parecer não oferecer perigo nenhum, planeja um crime terrível contra a Inglaterra.
O tema é recorrente nos três livros da série. Embora novas condições sejam estabelecidas na vida do espião mirim, pouco muda na história, o que a torna um tanto cansativa. Se, no primeiro livro, ele luta contra um supervilão, no segundo e no terceiro também e, mesmo que os nomes, as localidades e as situações mudem, que novos temperos sejam adicionados à trama e que os "scripts" melhorem um pouco, fica a impressão de que é apenas uma história recontada.
Os livros são pontuados por crises de adolescência, bugigangas juvenis do naipe dos aparatos bondianos, e ação frenética que, fora das telas de cinema, parecem um pouco deslocadas. Não que atrapalhe com uma linguagem complicada para o público infanto-juvenil, mas o autor, Anthony Horowitz, peca pelo excesso de descrição nos feitos de Alex, fazendo destes uma confusão de acontecimentos, explosões e tiros perdidos no meio da trama. Se num filme isso é legal, em um livro nem tanto.
Outro problema do livro é que apresenta falhas perceptíveis no roteiro, abandonando o verídico e o aceitável, em favor de certo abuso do maniqueísmo. Não dá nenhuma cor à história e acaba produzindo algo raso (não que eu ache que se quisesse fazer algo superior a isso, pois a série parece unicamente querer responder à pergunta: "Como seria um James Bond adolescente?"). Mas, se algum mérito tem o autor, é o de, aparentemente, ter se empenhado em criar um certo realismo ao pesquisar locais e instrumentos usados. Por exemplo, não se contenta em apenas citar uma praça em Paris ou um avião. Faz questão de descrever a tal praça e o tal avião, dando nomes e detalhes (embora isso cause uma quebra de ritmo entediante).
A história teria sido mais bem aproveitada se tivesse sido vendida a Hollywood, pois é inegavelmente superior a filmes medíocres como "Pequenos Espiões" e envereda pelo mesmo caminho. Mas, como livro para um público jovem, deve servir de entretenimento, algo para ler sem grandes pretensões.
A seu favor, diga-se que apresenta o charme característico das séries, que é o de querer saber sempre o que vem depois (e isso o autor conduz bem, terminando cada livro como um capítulo de novela, ou seja, cortando bem no meio para criar suspense para o próximo livro). Mas não espere muito mais que a mesmíssima história já vista nos filmes do 007 e em outros do gênero em outro plano, pois realmente não vai além disso.


Ianick Takaes de Oliveira, 16, é aluno da segunda série do Colégio Arquidiocesano

"Alex Rider Contra Stormbreaker"
"Alex Rider Desvenda Point Blank"
"Alex Rider Mergulha na Ilha do Esqueleto"
Editora: Publifolha
tel. 0/xx/11/3224-2196



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