São Paulo, segunda-feira, 04 de abril de 2005

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MÚSICA

Dois adolescentes atuam como "assessores juvenis" no novo álbum de Tom Zé, "Estudando o Pagode - Na Opereta Segregamulher e Amor"

Com uma mãozinha dos amigos

ALESSANDRA KORMANN
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando eram crianças e viam aquele homem magrelo todo dia, de manhã bem cedinho, cuidando do jardim do prédio, Pedro Luiz Gonzaga, 16, e Fernanda dell'Omo, 17, achavam que ele era "meio maluco". Na época, não podiam nem imaginar que, uma década depois, iriam atuar como "assessores juvenis" em um CD de Tom Zé, que, além de seu vizinho de prédio em Perdizes (zona oeste de São Paulo), é um dos mais importantes compositores da MPB.
O músico baiano, ao lado de Gilberto Gil, Caetano Veloso e Gal Costa, foi um dos criadores do tropicalismo, o movimento que mudou a música brasileira ao misturar elementos nacionais e estrangeiros. Com eles, participou do histórico álbum "Tropicália ou Panis et Circencis", de 1968. Depois de ficar meio sumido nos anos 80, Tom Zé foi "redescoberto" pelo ex-Talking Heads David Byrne, um dos maiores divulgadores do seu trabalho no exterior.
Os dois jovens foram convidados pelo próprio Tom Zé para dar a sua opinião durante o processo de composição de "Estudando o Pagode - Na Opereta Segregamulher e Amor", que acabou de ser lançado pela Trama -com direito a crédito no encarte do álbum. O disco, recheado de experimentações sonoras, é uma ópera-pagode de protesto contra a segregação da mulher.
"A gente o conhece há muito tempo. Ele gostava de crianças e sempre falava com a gente", conta Fernanda. "Um dia, falou que estava gravando um CD e nos chamou para ouvir as músicas, só com o violão, e dizer o que achávamos", lembra Pedro.
E o que eles acharam? "O ritmo estava lento, falamos para acelerar mais. Algumas palavras eram não-entendíveis (sic)", diz Pedro, que gosta de ouvir samba e pagode. "As coisas que a gente não gostava ele mudava na hora", conta Fernanda, que também curte samba e pagode, além de reggae.
De fato, Tom Zé afirma que algumas músicas foram completamente vetadas pela dupla e outras tiveram alterações no ritmo ou na letra (em "Proposta de Amor", "mulher" virou "garota", por exemplo).
Depois de dois meses, os jovens passaram uma tarde inteira nos estúdios da Trama com Tom Zé e Jair Oliveira -responsável pelos arranjos do disco-, ouvindo as novas versões das músicas. "Acho que ficou bem melhor", diz Pedro.
A idéia de ouvir os jovens veio da vontade de simplificar. "Eu queria fazer de uma forma que não fosse com aquelas minhas elucubrações. Para a minha mulher, Neusa, eu perguntava o que era indigno e o que não era. Já os meninos me diziam o que não tocaria na festinha deles", explica Tom Zé.
A homenagem às mulheres veio da identificação com o sexo oposto. "Eu nasci mulher: era fraco, sempre apanhei no colégio. Quando eu era jovem, era muito difícil me aproximar de uma garota. Esse disco é um pretexto para se aproximar, porque o jovem pode ir atrás de outra voz para cantar com ele", diz. No álbum, há vários pagodes-dueto com participações de Luciana Mello, Zélia Duncan, Edson Cordeiro e outros. Pedro Luiz e Fernanda prometem que o som vai tocar nas suas festinhas.


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