São Paulo, segunda-feira, 04 de abril de 2005

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MÚSICA

Músicos de bandas como Angra, Shaaman e Dr. Sin deixam de lado o estrelismo e se transformam em professores de fãs

Ao mestre com carinho

DANIEL BUARQUE
DA REDAÇÃO

Uma vez a cada duas semanas, o estudante do 2º ano do ensino médio Rodrigo Rolim acorda de madrugada e passa cinco horas em um ônibus apenas para poder ir e voltar a São Paulo e ter 50 minutos de aula de guitarra. Aos 15, ele acha que o esforço é válido, tudo isso por causa do professor: o guitarrista do Dr. Sin, Eduardo Ardanuy.
Exemplo para muitos roqueiros do país, Ardanuy faz parte de uma categoria muito comum no meio do rock pesado do Brasil: a dos professores ídolos.
Apesar de um sucesso grande com um público específico, músicos de bandas importantes nesse cenário do rock pesado nacional como Angra, Shaaman e o própria Dr. Sin deixam de lado o estrelismo e a separação com os fãs e se transformam em instrutores dos instrumentos que manejam nos palcos. Já os fãs tentam seguir seus passos, a exemplo do que fez o guitarrista Steve Vai, ex-aluno do hoje companheiro de turnê com o G3, Joe Satriani.
Foi essa admiração que fez Rodrigo começar, há três meses, a vir de Itapetininga (163 km de São Paulo) à capital apenas para ter aulas com Ardanuy. "Sempre via ele tocar com o Dr. Sin. Hoje meus amigos ficam impressionados quando digo que faço aulas com ele", diz.
As aulas de Ardanuy, que ensina há 18 anos e já foi eleito um dos dez melhores guitarristas do país por uma votação de 200 instrumentistas organizada por uma revista especializada em 1998, também foram motivo para uma mudança drástica na vida de Thiago Gomes. Aos 18, estudando para o vestibular de música no Ceará, ele largou tudo para vir morar em São Paulo e estudar com o ídolo. Segundo ele, que se mudou em janeiro do ano passado, essas aulas particulares também têm um peso curricular para quem quer trabalhar com música. "Estudar com o Edu é um crédito na hora de procurar um emprego."
"Esse contato com o ídolo, com um cara que conseguiu conquistar seu espaço no mercado, é até terapêutico para a garotada que quer seguir carreira", diz o vocalista do Angra, Eduardo Falaschi, que não dá aulas permanentemente, mas oferece cursos intensivos de canto com três dias de aula.
Assessoria
"É importante estudar com esse pessoal que já está na área em que se quer trabalhar, porque eles ajudam com muitas dicas sobre a profissão", diz Rodrigo Vinhas, 20, que estudou com Hugo Mariutti, do Shaaman, e depois com Rafael Bittencourt, do Angra, e com Ardanuy. Vinhas toca na banda Thalion.
Segundo Ricardo Confessori, baterista do Shaaman, esses cursos oferecem uma verdadeira assessoria. "Damos os detalhes de como se tornar um músico profissional", explica. "Ensino a visão do professor teórico, passo pelo lado mais artístico e de performance e vou até o business da música e marketing de produto", diz o guitarrista do Angra Kiko Loureiro, que oferece apenas módulos esporádicos de aulas.
O preço por essa assessoria, entretanto, é um pouco mais salgado que o custo de estudar com anônimos. As aulas custam em média entre R$ 60 e R$ 90 por hora.
Para os músicos, a motivação é dupla. Segundo o baterista do Dr. Sin, Ivan Busic, que tem cerca de 40 alunos, a cobrança e a necessidade de ter renda própria foram as razões por que começou a ensinar. "Uno o útil ao agradável."
O contato constante com o ídolo elimina a tietagem e forma uma amizade na relação aluno-professor. "Depois de ter aula toda semana fica meio ridículo", diz Vinhas.


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