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MÚSICA
Músicos de bandas como Angra, Shaaman e Dr. Sin deixam de lado o estrelismo e se transformam em professores de fãs
Ao mestre com carinho
DANIEL BUARQUE
DA REDAÇÃO
Uma vez a cada duas semanas, o estudante do 2º ano do ensino médio
Rodrigo Rolim acorda de madrugada e passa cinco horas em um ônibus
apenas para poder ir e voltar a São Paulo e
ter 50 minutos de aula de guitarra. Aos 15,
ele acha que o esforço é válido, tudo isso
por causa do professor: o guitarrista do Dr.
Sin, Eduardo Ardanuy.
Exemplo para muitos roqueiros do país,
Ardanuy faz parte de uma categoria muito
comum no meio do rock pesado do Brasil:
a dos professores ídolos.
Apesar de um sucesso grande com um
público específico, músicos de bandas importantes nesse cenário do rock pesado nacional como Angra, Shaaman e o própria
Dr. Sin deixam de lado o estrelismo e a separação com os fãs e se transformam em
instrutores dos instrumentos que manejam nos palcos. Já os fãs tentam seguir seus
passos, a exemplo do que fez o guitarrista
Steve Vai, ex-aluno do hoje companheiro
de turnê com o G3, Joe Satriani.
Foi essa admiração que fez Rodrigo começar, há três meses, a vir de Itapetininga
(163 km de São Paulo) à capital apenas para
ter aulas com Ardanuy. "Sempre via ele tocar com o Dr. Sin. Hoje meus amigos ficam
impressionados quando digo que faço aulas com ele", diz.
As aulas de Ardanuy, que ensina há 18
anos e já foi eleito um dos dez melhores
guitarristas do país por uma votação de 200
instrumentistas organizada por uma revista especializada em 1998, também foram
motivo para uma mudança drástica na vida
de Thiago Gomes. Aos 18, estudando para
o vestibular de música no Ceará, ele largou
tudo para vir morar em São Paulo e estudar
com o ídolo. Segundo ele, que se mudou
em janeiro do ano passado, essas aulas particulares também têm um peso curricular
para quem quer trabalhar com música.
"Estudar com o Edu é um crédito na hora
de procurar um emprego."
"Esse contato com o ídolo, com um cara
que conseguiu conquistar seu espaço no
mercado, é até terapêutico para a garotada
que quer seguir carreira", diz o vocalista do
Angra, Eduardo Falaschi, que não dá aulas
permanentemente, mas oferece cursos intensivos de canto com três dias de aula.
Assessoria
"É importante estudar com esse pessoal
que já está na área em que se quer trabalhar, porque eles ajudam com muitas dicas
sobre a profissão", diz Rodrigo Vinhas, 20,
que estudou com Hugo Mariutti, do Shaaman, e depois com Rafael Bittencourt, do
Angra, e com Ardanuy. Vinhas toca na
banda Thalion.
Segundo Ricardo Confessori, baterista do
Shaaman, esses cursos oferecem uma verdadeira assessoria. "Damos os detalhes de
como se tornar um músico profissional",
explica. "Ensino a visão do professor teórico, passo pelo lado mais artístico e de performance e vou até o business da música e
marketing de produto", diz o guitarrista do
Angra Kiko Loureiro, que oferece apenas
módulos esporádicos de aulas.
O preço por essa assessoria, entretanto, é
um pouco mais salgado que o custo de estudar com anônimos. As aulas custam em
média entre R$ 60 e R$ 90 por hora.
Para os músicos, a motivação é dupla. Segundo o baterista do Dr. Sin, Ivan Busic,
que tem cerca de 40 alunos, a cobrança e a
necessidade de ter renda própria foram as
razões por que começou a ensinar. "Uno o
útil ao agradável."
O contato constante com o ídolo elimina
a tietagem e forma uma amizade na relação
aluno-professor. "Depois de ter aula toda
semana fica meio ridículo", diz Vinhas.
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