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ESCUTA AQUI
William Faulkner é pauleira
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
Você veria futuro para alguém com as seguintes
características: na família, ninguém o via como especialmente inteligente; na escola, fez só até o segundo
ano do ensino médio; graças a um
programa especial para ex-militares,
cursou alguns meses de faculdade,
mas tirou notas medíocres; não tinha
nenhum amigo intelectual -na verdade, tinha poucos amigos plenamente alfabetizados.
Sabe quem é o dono do currículo?
Ninguém menos que o americano
William Faulkner, Nobel em 1949, o
inovador mais radical da literatura
dos EUA no século 20.
Esses detalhes da vida de Faulkner
estão em um lindo artigo do escritor
sul-africano J. M. Coetzee (Nobel em
2003) no semanário "The New York
Review of Books". Quem me indicou
o texto foi o chapa Cassiano Elek Machado, da Ilustrada (ao contrário do
Faulkner, eu tenho amigos intelectuais!).
Para Coetzee, Faulkner não precisava de educação formal, porque era
um leitor obstinado, conhecedor de
poesia inglesa, de Shakespeare e também da ficção de Balzac, Dickens e
Conrad, do Velho Testamento e de
seus contemporâneos T.S. Eliot e James Joyce. Para o tipo de escritor que Faulkner pretendia ser, aponta Coetzee, isso era o bastante.
Enquanto lia o artigo, me lembrei de uma "Escuta Aqui" de semanas atrás, sobre imitadores brasileiros de outro escritor americano, Hunter S. Thompson,
que se suicidou há algumas semanas. A coluna era sobre a baixa qualidade literária dos clones brazucas, cujo trabalho dá a mais nítida impressão de que nunca
leram nada, nem do próprio Hunter, justamente o cara que pretendem copiar.
A biografia de Faulkner tem muito a ver, também, com a de Albert Einstein,
uma mente poderosa que nunca brilhou no universo escolar (era um aluno mais
ou menos, péssimo em humanas, de família sem tradição intelectual etc.). Ninguém diria que o menino de inteligência aparentemente mediana se tornaria o
nome mais importante da ciência no século 20.
Não tenha pressa para conhecer a obra de William Faulkner. Vá amadurecendo seu gosto aos poucos, porque Faulkner é pauleira.
Dá saltos de tempo, troca de narrador sem avisar, dá o mesmo nome a personagens diferentes, reproduz a linguagem falada de brancos e negros do Sul racista dos EUA sem a menor consideração pelo leitor.
Meu livro preferido dele é "The Sound and the Fury" ("O Som e a Fúria"). Um
dia, também será o seu.
CD PLAYER
PLAY - "Lullabies to Paralize", Queens of the Stone Age
Sobrou só o Josh Homme, e basta.
Ele domina um heavy metal nervoso, aflito, cantando quase sempre
em falsete.
PLAY - "Employment", Kaiser Chiefs
Essa novíssima inglesa conseguiu o
que os Libertines só tentaram: imitar o Clash direitinho.
EJECT - Bandas gaúchas reunidas em show acústico
Nem o diretor Wes Craven e o escritor Stephen King juntos atingiriam
esse nível de horror.
@- cby2k@uol.com.br
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