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São Paulo, segunda-feira, 04 de agosto de 2003

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Como não transformar uma turnê numa catástrofe

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA

Com o dólar relativamente estável, em torno de R$ 3, e a economia um pouco menos caótica... Quem sabe não começa uma bela temporada de shows estrangeiros no Brasil?
Para dar uma luz a eventuais interessados em entrar nessa área, que não é fácil, "Escuta Aqui" pediu dicas a Jefferson Santos, da Motor Music, produtora mineira que trouxe ao Brasil, entre outros nomes, Mudhoney, NOFX, ...And You Will Know Us by the Trail of Dead, Stereolab, Jon Spencer Blues Explosion e Man or Astro-Man?.
Veja só os toques do grande Jefferson:
1 - Cumpra o que prometer. É simples: as bandas desse universo [independente] não exigem viajar de avião e não querem 50 toalhas brancas no camarim. Mas, se você prometeu que eles terão isso, cumpra.
2 - Não superestime a turnê. Aquela banda de hardcore da Califórnia ou aquele novo grupo de Nova York podem ser a oitava maravilha do mundo para você, mas podem não ter público no Brasil (OK, você e seus amigos gostam, mas isso não enche um Olympia...). Pé no chão, sempre. Antes ter gente na fila querendo entrar do que ter de amargar um megaprejuízo.
3 - Seja organizado. Não que você tenha de ter um notebook ou um palmtop. Apenas se organize. Faça um "tour book" com informações básicas para a banda (e para você mesmo), com endereços, telefones e horários. Informe o grupo sobre entrevistas e/ou dias livres.
4 - Trabalhe com profissionais. E isso vale para artistas, produtores e fornecedores. Levar um cano é mais fácil do que você imagina. A banda pode não embarcar, o produtor pode enganar você na bilheteria e os equipamentos ou vans que você contratou podem simplesmente não aparecer na hora e no local determinados. E, sempre que possível, faça contratos, assine-os e faça-os valer.
5 - Para terminar: lembre-se de que você sempre vai trabalhar mais do que imaginou. Vai ficar dias, literalmente, sem dormir. Não vai comer direito durante toda a turnê. Mas a banda não tem nada a ver com isso. Artista é como um gremlin, só que ao avesso: você TEM de alimentá-los, TEM de fazê-los tomar banho (e, quando eles estiverem muito bêbados, dar banho neles...) e você TEM de colocá-los para fora de casa à noite. Eles querem ir para a balada. Tenha amigos em cada cidade para cuidar disso, porque você será o primeiro a acordar no dia seguinte...
De todas as dicas do Jefferson, a que mais me chamou a atenção foi a segunda, que fala em não superestimar a turnê. Existe uma enorme diferença entre o que os aficionados de determinado gênero pensam e o que acontece no mundo real.
Quando a revista americana de música "Alternative Press" completou uma data redonda de aniversário (cinco anos, se não me engano), o dono dela publicou um decálogo das principais lições que tinha aprendido ao longo desse tempo. Uma delas era: "Faça a revista para os leitores, não para você".
Sentiu o drama? Organizar show estrangeiros no Brasil não é para amadores nem aventureiros. Vai nessa?

Álvaro Pereira Júnior, 40, é editor-chefe do "Fantástico" em São Paulo
E-mail: cby2k@uol.com.br


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