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Como não transformar uma turnê numa catástrofe
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA
Com o dólar relativamente estável, em torno
de R$ 3, e a economia um pouco menos
caótica... Quem sabe não começa uma bela
temporada de shows estrangeiros no Brasil?
Para dar uma luz a eventuais interessados
em entrar nessa área, que não é fácil, "Escuta
Aqui" pediu dicas a Jefferson Santos, da Motor Music, produtora mineira que trouxe ao
Brasil, entre outros nomes, Mudhoney,
NOFX, ...And You Will Know Us by the Trail
of Dead, Stereolab, Jon Spencer Blues Explosion e Man or Astro-Man?.
Veja só os toques do grande Jefferson:
1 - Cumpra o que prometer. É simples: as
bandas desse universo [independente] não
exigem viajar de avião e não querem 50 toalhas brancas no camarim. Mas, se você prometeu que eles terão isso, cumpra.
2 - Não superestime a turnê. Aquela banda
de hardcore da Califórnia ou aquele novo grupo de Nova York podem ser a oitava maravilha do mundo para você, mas podem não ter
público no Brasil (OK, você e seus amigos
gostam, mas isso não enche um Olympia...).
Pé no chão, sempre. Antes ter gente na fila
querendo entrar do que ter de amargar um
megaprejuízo.
3 - Seja organizado. Não que você tenha de
ter um notebook ou um palmtop. Apenas se
organize. Faça um "tour book" com informações básicas para a banda (e para você mesmo), com endereços, telefones e horários. Informe o grupo sobre entrevistas e/ou dias livres.
4 - Trabalhe com profissionais. E isso vale
para artistas, produtores e fornecedores. Levar um cano é mais fácil do que você imagina.
A banda pode não embarcar, o produtor pode
enganar você na bilheteria e os equipamentos
ou vans que você contratou podem simplesmente não aparecer na hora e no local determinados. E, sempre que possível, faça contratos, assine-os e faça-os valer.
5 - Para terminar: lembre-se de que você
sempre vai trabalhar mais do que imaginou.
Vai ficar dias, literalmente, sem dormir. Não
vai comer direito durante toda a turnê. Mas a
banda não tem nada a ver com isso. Artista é
como um gremlin, só que ao avesso: você
TEM de alimentá-los, TEM de fazê-los tomar
banho (e, quando eles estiverem muito bêbados, dar banho neles...) e você TEM de colocá-los para fora de casa à noite. Eles querem ir
para a balada. Tenha amigos em cada cidade
para cuidar disso, porque você será o primeiro a acordar no dia seguinte...
De todas as dicas do Jefferson, a que mais
me chamou a atenção foi a segunda, que fala
em não superestimar a turnê. Existe uma
enorme diferença entre o que os aficionados
de determinado gênero pensam e o que acontece no mundo real.
Quando a revista americana de música "Alternative Press" completou uma data redonda de aniversário (cinco anos, se não me engano), o dono dela publicou um decálogo das
principais lições que tinha aprendido ao longo desse tempo. Uma delas era: "Faça a revista
para os leitores, não para você".
Sentiu o drama? Organizar show estrangeiros no Brasil não é para
amadores nem aventureiros. Vai nessa?
Álvaro Pereira Júnior, 40, é editor-chefe do "Fantástico" em São Paulo
E-mail: cby2k@uol.com.br
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