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São Paulo, segunda-feira, 04 de agosto de 2003

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MÚSICA

Coletânea revela caminho alternativo para o rap nacional

Laboratório de hip hop

DA REPORTAGEM LOCAL

No lugar da quebrada, a cidade inteira. Em vez do preto-e-branco, um colorido mais otimista. A chamada nova escola do hip hop (que nem tão nova é) libertou-se de padrões impostos por puristas para colocar batidas, samples e rimas em um laboratório musical.
O resultado das tais experiências alimenta a diversidade do rap nacional, rompe com estereótipos e apresenta um caminho alternativo para algumas fórmulas desgastadas.
Parte dessa nova cena do hip hop pode ser conferida na coletânea "Direto do Laboratório", em que Fábio Luiz (aka Parteum), 28, MC do grupo Mzuri Sana, reuniu 13 grupos de São Paulo e do Rio de Janeiro. Alguns são bastante novos, outros já são veteranos no hip hop, como o Potencial 3 e o SP Funk, que se enquadram nessa cena por buscarem novas roupagens para o rap e, ao mesmo tempo, terem o pé fincado nos ideais e princípios dessa cultura (veja quadro acima).
Os samples são variados, a melodia busca climas brasileiros e as letras são positivas e conscientes -escapam de mesmices como "roubei, matei e agora sou rei" para colocar a inventividade em prática.
"O rap não precisa ficar preso numa caixa", disse Parteum ao Folhateen depois de abaixar o som do CD do Radiohead que ouvia. "Essa geração quer passar mensagens positivas sem ser babaca."
A contestação inerente ao hip hop está também ali. A nova escola confirma que o rap extrapolou barreiras sociais para representar outros grupos e questões. "Respeito, mas não me identifico muito com o rap antigo. Nunca morei no Capão Redondo e aquilo não fazia parte da minha vida", explica Rodrigo Brandão, 30, do Mamelo Sound System. "Essa cena é mais solta. É feita por gente que também curte jazz e drum'n'bass. E é legal haver coisas leves e divertidas no rap."
O rapper carioca De Leve, 21, do Quinto Andar, também acha que, se rap fosse só sobre periferia, tiro e morte, ele não poderia rimar -seria hipocrisia. "Sou da classe média, e isso se reflete na minha música. A classe média quer ter grana, é consumista e capitalista, e é isso o que eu critico nas minhas letras", diz.
Mas quem vê fumaça ou fogo nessa novidade se engana. A nova escola cresceu com o rap, acompanhou sua expansão e não quer fazer oposição a nenhum estilo, mas somar e conferir diversidade ao hip hop brasileiro, praticando o mesmo respeito que permitiu a convivência de grupos como Public Enemy e De La Soul nos EUA.
De Leve confirma: "O que fazemos não é melhor nem pior do que o que já foi feito de bom no rap. É apenas diferente". (FERNANDA MENA)


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