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MÚSICA
Coletânea revela caminho alternativo para o rap nacional
Laboratório de hip hop
DA REPORTAGEM LOCAL
No lugar da quebrada, a cidade inteira. Em vez do preto-e-branco,
um colorido mais otimista. A chamada nova escola do hip hop (que
nem tão nova é) libertou-se de padrões impostos por puristas para
colocar batidas, samples e rimas em
um laboratório musical.
O resultado das tais experiências
alimenta a diversidade do rap nacional, rompe com estereótipos e
apresenta um caminho alternativo
para algumas fórmulas desgastadas.
Parte dessa nova cena do hip hop
pode ser conferida na coletânea
"Direto do Laboratório", em que
Fábio Luiz (aka Parteum), 28, MC
do grupo Mzuri Sana, reuniu 13
grupos de São Paulo e do Rio de Janeiro. Alguns são bastante novos,
outros já são veteranos no hip hop,
como o Potencial 3 e o SP Funk, que
se enquadram nessa cena por buscarem novas roupagens para o rap
e, ao mesmo tempo, terem o pé fincado nos ideais e princípios dessa
cultura (veja quadro acima).
Os samples são variados, a melodia busca climas brasileiros e as letras são positivas e conscientes
-escapam de mesmices como
"roubei, matei e agora sou rei" para
colocar a inventividade em prática.
"O rap não precisa ficar preso numa caixa", disse Parteum ao Folhateen depois de abaixar o som do CD
do Radiohead que ouvia. "Essa geração quer passar mensagens positivas sem ser babaca."
A contestação inerente ao hip hop
está também ali. A nova escola confirma que o rap extrapolou barreiras sociais para representar outros
grupos e questões. "Respeito, mas
não me identifico muito com o rap
antigo. Nunca morei no Capão Redondo e aquilo não fazia parte da
minha vida", explica Rodrigo Brandão, 30, do Mamelo Sound System.
"Essa cena é mais solta. É feita por
gente que também curte jazz e
drum'n'bass. E é legal haver coisas
leves e divertidas no rap."
O rapper carioca De Leve, 21, do
Quinto Andar, também acha que, se
rap fosse só sobre periferia, tiro e
morte, ele não poderia rimar -seria hipocrisia. "Sou da classe média,
e isso se reflete na minha música. A
classe média quer ter grana, é consumista e capitalista, e é isso o que
eu critico nas minhas letras", diz.
Mas quem vê fumaça ou fogo nessa novidade se engana. A nova escola cresceu com o rap, acompanhou
sua expansão e não quer fazer oposição a nenhum estilo, mas somar e
conferir diversidade ao hip hop brasileiro, praticando o mesmo respeito que permitiu a convivência de
grupos como Public Enemy e De La
Soul nos EUA.
De Leve confirma: "O que fazemos não é melhor nem pior do que
o que já foi feito de bom no rap. É
apenas diferente".
(FERNANDA MENA)
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