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São Paulo, segunda-feira, 04 de agosto de 2003

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TRABALHO

Jovens usam as férias para trabalhar na promoção de produtos

Útil e agradável

Marcelo Fontes/Folha Imagem
Jovens promotores do suco Santal em Campos


RODRIGO GERHARDT
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Chegou a hora de voltar para casa. Centenas de jovens que trabalharam como promotores de diversos produtos em Campos do Jordão descem a serra hoje, após o encerramento da temporada de inverno na cidade. Quem foi teve a oportunidade de faturar de R$ 70 a R$ 120 por dia, além dos ganhos extras, como baladas de graça e muita paquera.
Durante todo o mês, Campos do Jordão recebeu jovens de 16 anos ou mais, que trabalharam em stands ou blitze (abordagem na rua), distribuindo panfletos e brindes e contando sobre os novos lançamentos de chicletes, celulares, carros, cafés, sucos e barras de cereais, entre outros produtos.
"Para mim, funciona quase como um estágio. Estudo os vários tipos de ação promocional e ainda fico atento às novidades do mercado. A gente sempre fica conhecendo tudo antes", diz o estudante de publicidade Eduardo Gonçalvez, 23, que começou como promotor aos 20.
Para o estudante Alison Alves Moreira, 22, a possibilidade de conhecer muita gente abre novas portas. "Fazemos amizade com as pessoas que abordamos na rua. Elas vêm nos cumprimentar depois. Muitos observam a forma como nos expressamos e acabam nos convidando para outros trabalhos. Sem falar da mulherada que cai em cima", conta Moreira.
A exigência para o trabalho de promotor vai além da boa aparência. É preciso saber se comunicar bem, ter desenvoltura com as pessoas e entender tudo sobre o produto que está representando. "Depois da seleção da agência, fizemos um curso de treinamento na empresa e ainda tivemos de passar por uma prova. Sei tudo sobre motor", diz a estudante Renata Antonialli, promotora da Toyota. Sua missão, e a de mais três garotas, é atrair pessoas para fazer test-drives.
Na rua, também não pode ter vergonha. São tantas empresas querendo chamar a atenção que muitas vezes o uniforme parece uma fantasia. "O pessoal faz brincadeiras, às vezes ouvimos piadinha, mas sempre levamos com bom humor. Ganhamos o apelido de caça-fantasmas", diz Paulo Antunes, 19.

Big Brother
No entanto nada é tão fácil. Todos apontam a convivência com colegas estranhos e a saudade como as maiores dificuldades. É que muitos deles, que acabaram de se conhecer, chegaram a ficar quase dois meses juntos, dividindo o mesmo quarto.
A operadora de telefonia celular Vivo contratou cerca de 50 promotores, que ficaram divididos em duas casas. "Você acaba fazendo muitos amigos, mas também inimigos. É preciso muito jogo de cintura para enfrentar as situações do dia-a-dia. É fila no banheiro e espera para o café. Já tomei muito banho gelado porque as meninas ligam todos os secadores de cabelo de uma vez e a energia cai. É como um 'Big Brother'", diz Maurício Walker, 32.
"No início, sempre rolava um estresse na hora de comer. Ninguém queria dividir as contas direito. Depois, entramos em um acordo", conta Artur Vicente, 25.
Além da convivência forçada, a saudade da família e as pressões dos namorados também são outros fatores que levam muitos a desistir e a voltar no meio do caminho. "Pela carência de estar longe dos amigos e da família, você acaba se aproximando mais de alguém por aqui. E todos são muito bonitos. O meu namorado não aceitou esse meu trabalho. Terminei com ele. Manter um relacionamento nessas condições é difícil", conta a estudante de hotelaria Bianca Melo, 19.
Para que tudo não vire pelo avesso, todos têm de seguir normas rígidas dentro da casa. "Não é permitido trazer nenhum estranho para cá, nem mesmo familiares. O horário do café é determinado, e ninguém pode dormir junto. Todos podem sair para as baladas à noite, mas quem se atrasar no dia seguinte volta para casa", diz o supervisor da equipe, Antônio Luiz Amiki, que serve de paizão de toda a turma.
Fazer promoção tornou-se uma boa fonte de renda para quem ainda está estudando ou ainda não arrumou um trabalho fixo. É na temporada de férias, no verão e no inverno, que a oferta é maior.


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