São Paulo, Segunda-feira, 04 de Outubro de 1999
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Mulher também gosta de nu

Com produção caprichada, fotos como esta, do modelo Marcelo Vicente, publicada na "Íntima", são sucesso entre as garotas


CLAUDIA ASSEF
da Reportagem Local


Pôsteres de borracharia com peladonas em poses esdrúxulas e cenário xumbrega já eram.
Hoje, o que causa frisson são os pôsteres de fortões sem roupa. Em alguns casos, a produção das fotos é tão boa que o pôster não chocaria muito se fosse pendurado no salão de beleza da esquina.
A mulherada está começando a tirar proveito de uma fonte de diversão que faz a alegria dos homens -heteros e gays- há várias décadas: as revistas que trazem modelos e artistas nus.
"É muito divertido ver essas revistas junto com as amigas", diz Tatiana Ivanovich, 21, estudante e repórter da rádio Jovem Pan. Tatiana entra no site da "G Magazine" todo mês para imprimir as melhores fotos. "A gente morre de rir e fica comparando os detalhes dos corpos dos caras."


Preço alto


A estudante Mariana Jorge, 22, adora a idéia de ver homens bonitos sem roupa. Ela só lamenta que revistas como "G", "Íntima" e "Gold" ainda sejam muito caras -custam, em média, R$ 6,90.
Uma prova de que as moças estão mesmo a fim de conferir os fortões -especialmente os famosos- como eles vieram ao mundo é o aumento do número de leitoras da "G Magazine", revista dirigida ao público gay.
"Hoje podemos dizer que 40% do nosso público é formado por mulheres", diz a diretora editorial da revista, Ana Fadigas.
Depois de trabalhar durante 21 anos na Editora Abril, Ana resolveu radicalizar. Há dois anos, comprou a revista "Sexy" e lançou a "G". "No início sofríamos muito preconceito", conta. A reviravolta veio em setembro de 98, com o ator Mateus Carrieri na capa. "Ele virou o mercado. As vendas mais do que dobraram com o Mateus." Daí o súbito interesse em pagar altos cachês a homens famosos. "Não revelamos os cachês porque somos proibidos por contrato, mas garanto que são bem menores do que os pagos às famosas da "Playboy"."
A revista atingiu seu recorde de vendas -118 mil exemplares- com o jogador Vampeta, do Corinthians, na capa. Entre os famosos que já calibraram os bíceps para a "G" estão Dinei, também do Corinthians, o ator Nico Puig, o cantor Roger, do Ultraje a Rigor, e David Cardoso, ícone da pornochanchada nacional.
Ao contrário da "G", que sempre mostrou tudo de seus fotografados, a "Íntima", lançada em abril, começou mais light.
"Ficamos até a quinta edição sem mostrar nu frontal", diz a editora Emmy Bentson, 40.
Mas as leitoras exigiram ver o que faltava. "Recebíamos toneladas de e-mails, cartas e telefonemas pedindo que mostrássemos os moços por inteiro, sem esconder nada." O primeiro a atender ao apelo da mulherada foi o modelo Klaus Hee, capa de agosto.
O editorial lembra uma revista para adolescentes. Traz textos sobre moda, sexo, cosméticos, horóscopo. Mas a editora garante que vai manter a regra básica da publicação: os peladões não podem sair excitados nas fotos.
Quem já mostrou o bumbum na "Íntima?" Os óbvios Humberto Martins, Alexandre Frota, Raul Gazolla e Renato Gaúcho.
A revista "Nova" publicou, em setembro, um pôster tridimensional do modelaço Paulo Zulu, disfarçando -com a mão- o que seria um nu frontal. "Não é novidade que mulher gosta, mesmo, é de ver homem bonito pelado", diz a editora Márcia Neder. A revista publicou sua primeira foto sensual masculina em 74, quando o então goleiro Leão apareceu de sunga no pôster central.

Um mico

Roger, o vocalista do Ultraje, conta que adorou fazer as fotos para a "G" de setembro. E mais: diz que até a mãe ficou orgulhosa pelo trabalho. "Já frequentei praia de naturalismo. Encaro a nudez com tranquilidade", garante.
Já o vocalista do Capital Inicial, Dinho Ouro Preto, preferiu não colocar o prestígio de sua banda em risco. Convidado pela "G" para posar, Dinho quis evitar o que, segundo ele, seria um mico.
"Não sei como o Roger conseguiu. Só sei que, pra mim, seria super constrangedor."
Em agosto, surgiu mais uma opção para as moças -e moços- que apreciam o nu masculino. A revista "Gold", que tem conteúdo bem gay, saiu de cara com 30 mil exemplares vendidos, mesmo sem ter um famoso na capa. É, pelo jeito os peladões ainda vão invadir o seu salão de beleza.


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