São Paulo, Segunda-feira, 04 de Outubro de 1999
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cinema
"Bruxa" passa pelo teste do escurinho

PAULO SANTOS LIMA
especial para a Folha

Após a ampla cobertura dada a "A Bruxa de Blair" (99), fenômeno norte-americano que minguou as filas de "Star Wars" e "Noiva em Fuga", parecia que seu encanto tinha caído por terra.
No filme que estreou na última sexta no circuito brasileiro, a tal lenda dos três estudantes de cinema que desapareceram em 1994, quando faziam um documentário sobre bruxaria e um ano depois tiveram seu material encontrado numa casa velha (o "plot" do filme de Daniel Myrick e Eduardo Sanchez), já era manjada como parte da estratégia de divulgação do longa. Estratégia essa, vale ressaltar, arquitetada pelos cineastas amadores, que criaram uma página na Internet em que seus nomes nem apareciam.
Mas o filme apavora na sala escura. Muito pelo método de filmagem "realista". Heather Donahue, Michael Williams e Joshua Leonard (estudantes de cinema na vida real) seguiram instruções dos diretores. Apesar de saber que se tratava de uma ficção, foram largados num bosque em Maryland por dois dias. Recebiam recados e comida, mas foram perdendo a paciência com os sustos que os diretores lhes pregavam e com outros incidentes comuns num camping.
Esse casamento da realidade com a ficção é o encanto de "A Bruxa de Blair". Os três videomakers desaparecidos em Burkittsvile (antiga Blair) são pura invenção do roteiro. Mas o stress pelo qual passa a personagem Heather, por exemplo, é real. A atriz não tinha o medo de morrer de sua personagem, mas estava entregue à estafa do desconforto.
Os gritos da líder contra seus dois amigos que teimam em criticá-la nas andanças da floresta de Blair lembram aqueles finais-de-semana em que um grupo de amigos insiste em ser um grupo de inimigos "mortais", brigando a torto e a direito por migalhas e por decisões do tipo "onde iremos?". Isso o aproxima ainda mais do real.
Com câmera na mão, a imagem treme um bocado. A fotografia é granulada, graças à câmera 16 mm e à de vídeo. À noite, não há o conforto da luz que chega a tudo, mas sim o estreito facho de uma lanterna.
A tal lenda "fake" da bruxa de Blair serviu para estimular os distribuidores a encher os circuitos com o filme independente. Mas o terror crescente do filme passa pelo crivo das superproduções de terror.
Ir ao cinema faz esquecer a publicidade e encarar um terror de primeira. A prova disso está nas mãozinhas que mancharam de sangue as paredes da velha casa no bosque de Blair.



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