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cinema
"Bruxa" passa pelo teste do escurinho
PAULO SANTOS LIMA
especial para a Folha
Após a ampla cobertura dada a
"A Bruxa de Blair" (99), fenômeno norte-americano que minguou as filas de "Star Wars" e
"Noiva em Fuga", parecia que seu
encanto tinha caído por terra.
No filme que estreou na última
sexta no circuito brasileiro, a tal
lenda dos três estudantes de cinema que desapareceram em 1994,
quando faziam um documentário
sobre bruxaria e um ano depois
tiveram seu material encontrado
numa casa velha (o "plot" do filme de Daniel Myrick e Eduardo
Sanchez), já era manjada como
parte da estratégia de divulgação
do longa. Estratégia essa, vale ressaltar, arquitetada pelos cineastas
amadores, que criaram uma página na Internet em que seus nomes
nem apareciam.
Mas o filme apavora na sala escura. Muito pelo método de filmagem "realista". Heather Donahue, Michael Williams e Joshua
Leonard (estudantes de cinema
na vida real) seguiram instruções
dos diretores. Apesar de saber
que se tratava de uma ficção, foram largados num bosque em
Maryland por dois dias. Recebiam recados e comida, mas foram perdendo a paciência com os
sustos que os diretores lhes pregavam e com outros incidentes comuns num camping.
Esse casamento da realidade
com a ficção é o encanto de "A
Bruxa de Blair". Os três videomakers desaparecidos em Burkittsvile (antiga Blair) são pura invenção
do roteiro. Mas o stress pelo qual
passa a personagem Heather, por
exemplo, é real. A atriz não tinha
o medo de morrer de sua personagem, mas estava entregue à estafa do desconforto.
Os gritos da líder contra seus
dois amigos que teimam em criticá-la nas andanças da floresta de
Blair lembram aqueles finais-de-semana em que um grupo de
amigos insiste em ser um grupo
de inimigos "mortais", brigando a
torto e a direito por migalhas e
por decisões do tipo "onde iremos?". Isso o aproxima ainda
mais do real.
Com câmera na mão, a imagem
treme um bocado. A fotografia é
granulada, graças à câmera 16
mm e à de vídeo. À noite, não há o
conforto da luz que chega a tudo,
mas sim o estreito facho de uma
lanterna.
A tal lenda "fake" da bruxa de
Blair serviu para estimular os distribuidores a encher os circuitos
com o filme independente. Mas o
terror crescente do filme passa
pelo crivo das superproduções de
terror.
Ir ao cinema faz esquecer a publicidade e encarar um terror de
primeira. A prova disso está nas
mãozinhas que mancharam de
sangue as paredes da velha casa
no bosque de Blair.
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