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Afinal, isso tudo que está aí é ressurreição ou repetição?
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA
"Já vi tudo isso. Esses caras só estão repetindo o que já foi feito no fim dos anos
70, quando o movimento punk estava acontecendo de verdade."
Assim reagiu Richie Sambora, guitarrista da
banda Bon Jovi, quando perguntei o que ele
achava de novas bandas de Nova York, como
os comentadíssimos Strokes, Yeah Yeah
Yeahs, Interpol, Rapture, French Kiss etc. etc.
"Olha, não tem nada novo que me interesse",
completou o baterista Tico Torres, do mesmo
grupo. O tecladista David Bryan entrou na onda: "Aparece uma banda atrás da outra e elas
desaparecem tão rápido quanto surgem.
No segundo disco,
ninguém se lembra
mais quem são".
O grupo Bon Jovi
esteve há duas semanas no Brasil, e pensei que, no encontro
com eles, conseguiria
arrancar alguma declaração positiva sobre o
rock atual. Não foi o caso.
Todos na faixa dos 40 anos, os músicos que
acompanham o bonitão Bon Jovi estão naquela de quem já viu tudo, fez de tudo e sente tédio,
muito tédio, ao analisar o estado das coisas no
"show business".
Por essas declarações, pode-se ter a impressão de que a música pop estaria vivendo uma
fase especialmente letárgica, sem criatividade.
que o rock estaria próximo do fim.
Mas aí a gente ouve ninguém menos do que
Fatboy Slim, sumo sacerdote da música eletrônica, dizendo que o gênero parece esgotado e
que está na hora de voltar para... o rock and
roll? Aquele mesmo que o pessoal do Bon Jovi
diz que anda repetitivo e sem graça.
E aí a gente abre o jornal mais importante do
mundo, o "The New York Times", e vê lá uma
extensa reportagem sobre os novos grupos de
rock de Nova York e sobre como eles estão incorporando a seu som fragmentos do punk, do
pós-punk, da new wave, dos primórdios da
música eletrônica...
Conclusão: o cenário é menos cinzento do
que avaliam os veteranos do Bon Jovi.
Se há revival atrás de revival, se tudo parece
se repetir em intervalos de tempo cada vez
mais estreitos, bem, tudo isso me parece sinal
de vitalidade, de vontade de renovação.
Até porque a atitude de bandas como Strokes
e Yeah Yeah Yeahs, para ficar só em dois exemplos, está muito distante do passadismo reverente -esse sim repetitivo- que afeta a nova
MPB, por exemplo.
Tente ouvir o novo disco de Max de Castro. E
veja se encontra ali, com exceção de uma faixa
de levada drum n" bass, qualquer coisa que Jorge Ben já não tenha feito, muito melhor, há 20
anos.
Os defeitos que o pessoal do Bon Jovi apontou no rock de Nova York se aplicam, e muito
bem, a esses jovens nomes da MPB.
Quando ao rock
-de Nova York e do
mundo-, continua vivo, saudável e chutando a bola para a frente.
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