São Paulo, segunda-feira, 04 de novembro de 2002

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Afinal, isso tudo que está aí é ressurreição ou repetição?

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA

"Já vi tudo isso. Esses caras só estão repetindo o que já foi feito no fim dos anos 70, quando o movimento punk estava acontecendo de verdade."
Assim reagiu Richie Sambora, guitarrista da banda Bon Jovi, quando perguntei o que ele achava de novas bandas de Nova York, como os comentadíssimos Strokes, Yeah Yeah Yeahs, Interpol, Rapture, French Kiss etc. etc.
"Olha, não tem nada novo que me interesse", completou o baterista Tico Torres, do mesmo grupo. O tecladista David Bryan entrou na onda: "Aparece uma banda atrás da outra e elas desaparecem tão rápido quanto surgem. No segundo disco, ninguém se lembra mais quem são".
O grupo Bon Jovi esteve há duas semanas no Brasil, e pensei que, no encontro com eles, conseguiria arrancar alguma declaração positiva sobre o rock atual. Não foi o caso.
Todos na faixa dos 40 anos, os músicos que acompanham o bonitão Bon Jovi estão naquela de quem já viu tudo, fez de tudo e sente tédio, muito tédio, ao analisar o estado das coisas no "show business".
Por essas declarações, pode-se ter a impressão de que a música pop estaria vivendo uma fase especialmente letárgica, sem criatividade. que o rock estaria próximo do fim.
Mas aí a gente ouve ninguém menos do que Fatboy Slim, sumo sacerdote da música eletrônica, dizendo que o gênero parece esgotado e que está na hora de voltar para... o rock and roll? Aquele mesmo que o pessoal do Bon Jovi diz que anda repetitivo e sem graça.
E aí a gente abre o jornal mais importante do mundo, o "The New York Times", e vê lá uma extensa reportagem sobre os novos grupos de rock de Nova York e sobre como eles estão incorporando a seu som fragmentos do punk, do pós-punk, da new wave, dos primórdios da música eletrônica...
Conclusão: o cenário é menos cinzento do que avaliam os veteranos do Bon Jovi.
Se há revival atrás de revival, se tudo parece se repetir em intervalos de tempo cada vez mais estreitos, bem, tudo isso me parece sinal de vitalidade, de vontade de renovação.
Até porque a atitude de bandas como Strokes e Yeah Yeah Yeahs, para ficar só em dois exemplos, está muito distante do passadismo reverente -esse sim repetitivo- que afeta a nova MPB, por exemplo.
Tente ouvir o novo disco de Max de Castro. E veja se encontra ali, com exceção de uma faixa de levada drum n" bass, qualquer coisa que Jorge Ben já não tenha feito, muito melhor, há 20 anos.
Os defeitos que o pessoal do Bon Jovi apontou no rock de Nova York se aplicam, e muito bem, a esses jovens nomes da MPB.
Quando ao rock -de Nova York e do mundo-, continua vivo, saudável e chutando a bola para a frente.



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