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VALE A PENA ESPERAR?
Governo dos EUA defende abstinência como forma de controle da Aids e da gravidez na adolescência
Repulsa ao sexo
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
Sabe qual a única maneira de os adolescentes não se contaminarem com
doenças sexualmente transmissíveis,
não engravidarem (os meninos) e nem
ficarem grávidas (as meninas)?
A abstinência sexual.
Em português claro: não transando
nunca, jamais.
Os parágrafos acima contêm uma verdade e um problema, pelo menos nos Estados Unidos. A verdade: não há médico
do mundo que vá negar que o único método anticoncepcional e anti-Aids 100%
seguro é a ausência da relação sexual. O
problema: o governo norte-americano,
sob o comando do republicano George
W. Bush, quer que isso seja lei.
É verdade. Proposta pela parte mais
conservadora do conservador Partido
Republicano, uma medida que repousa
no Congresso dos EUA limita o fornecimento de verbas federais apenas a instituições que preguem a abstinência sexual para adolescentes.
A lei afetaria todos os órgãos públicos e
ONGs que lidam com a difusão de educação sexual -ou seja, de postos de saúde a entidades estudantis, passando por
centros de arte etc. O texto é claro: quem
defende o uso de camisinha e de pílulas
anticoncepcionais como política sexual
tem a verba cortada.
A cruzada é encabeçada pelo ultraconservador secretário da Justiça norte-americano, John Ashcroft, e conta com o
apoio da direita do partido Republicano
e com a chancela do presidente Bush, ele
próprio um defensor da abstinência sexual teen.
Enquanto a medida não é aprovada, o
governo reservou só neste ano uma verba de quase US$ 30 milhões em forma de
subsídios, destinados a centros de saúde,
escolas e igrejas que realizem reuniões
com o objetivo de convencer adolescentes a não terem relações sexuais antes do
casamento. No ano que vem, a verba federal aumenta para US$ 135 milhões.
Mais: na primeira sessão especial sobre
a infância da Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), realizada neste ano, o secretário da Saúde
norte-americano, Tommy Thomson,
batalhou para que fossem retirados do
documento final do encontro referências
a programas de educação sexual e de planejamento familiar.
"Como bem disse o presidente Bush, a
abstinência é a única forma segura de
evitar a transmissão de doenças sexuais,
a gravidez precoce e as dificuldades sociais e pessoais geradas pelo sexo fora do
casamento", afirmou.
De fato, o sexo adolescente é um problema não só social como econômico
nos EUA, que, com seus 270 milhões de
habitantes, detêm o recorde de gravidez
teen no mundo, 1 milhão de meninas por
ano, segundo a organização Planned Parenthood.
Além disso, 25% das doenças sexualmente transmissíveis afetam adolescentes -ou seja, de cada quatro americanos
que ficam doentes por conta de sua vida
sexual, um deles é menor de idade. Por
fim, de acordo com o Brookings Institute, a gravidez adolescente custa US$ 7 bilhões por ano aos cofres públicos.
"Tudo isso é verdade, mas o programa
defendido pelo governo, seja na coerção
da medida, seja no custeio de instituições
conservadoras, não funciona", diz o médico Michael Carrera, fundador da conceituada Children's Aid Society, de Nova
York, que lida com o tema há 18 anos.
O motivo? "Porque eles mentem para
os adolescentes dizendo que qualquer
contato sexual vai devastar suas vidas e
que anticoncepcionais não funcionam",
acredita Carrera. "E não é com mentira
que você vai convencer os adolescentes a
fazer nada."
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