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Especialistas brasileiros condenam a política dos EUA
DA REPORTAGEM LOCAL
Não é apenas nos Estados Unidos que a
abstinência sexual encontra adeptos
entre adolescentes. Na semana passada,
o Folhateen publicou uma carta do leitor
Rafael Marques da Silva, 18, um vestibulando de Limeira que louvava a castidade, inclusive em relação à masturbação.
Depois de receber diversas cartas criticando a posição de Rafael (veja a de Fernando Gazzaneo, 16, à pág. 2), o Folhateen ouviu o rapaz para saber que motivos o levaram a adotar a abstinência e o
que ele pensa sobre as políticas americanas que pregam a supressão do sexo como meio de evitar a gravidez na adolescência e as DSTs (doenças sexualmente
transmissíveis).
Rafael considera a política boa. "Ficar
sem fazer sexo é a melhor opção para
não se contaminar. Esse é um dos benefícios da castidade. Mas também há outros, que envolvem a parte emocional.
Você fica com domínio de si", diz.
Rafael, que é virgem, diz que controla
seus desejos sexuais há três anos e nem se
masturba. A idéia de parar de se masturbar veio depois de ter participado de um
retiro de jovens promovido pela Igreja
Católica. Embora se sinta bem com a decisão, ele diz que enfrenta preconceito.
"Assim como eu aceito opiniões contrárias à minha, espero que as pessoas ajam
da mesma forma.
Quanto a perder a virgindade, Rafael
diz que só o fará quando encontrar a pessoa certa.
Especialistas
Se a posição de Rafael deve ser respeitada individualmente, para especialistas
brasileiros em sexualidade e em infectologia, um governo fazer campanha em favor da abstinência é algo temerário.
"Pesquisas têm demonstrado a ineficiência de campanhas como essas de cunho moralista, normativo e autoritário,
que afastam os adolescentes em vez de
aproximá-los da prevenção, de aprender
a cuidar da sua saúde sexual e de seu
bem-estar", afirma Beth Gonçalves, 50,
coordenadora do projeto Trance essa Rede, do Gtpos (Grupo de Trabalho e Pesquisa em Orientação Sexual).
"Os adolescentes necessitam de ações
continuadas que possibilitem espaços
democráticos de reflexão sobre a vivência
da sua sexualidade, a expressão dos sentimentos e dúvidas e a discussão de valores, tabus e preconceitos que dificultam a
adoção de práticas seguras", completa.
O médico infectologista do Hospital
das Clínicas Ricardo Tapajós, 38, também condena a abstinência. "É claro que
não fazer sexo é um jeito eficiente de não
pegar DSTs, mas, do ponto de vista médico, não se pode reprimir uma coisa que
faz parte do funcionamento normal do
ser humano. Você estaria induzindo uma
disfunção para prevenir outras coisas",
diz. "Usar a abstinência como política governamental é irresponsabilidade, pois
causa traumas e piora a saúde mental
média da população", completa.
Para ele, nessa política há uma outra
questão por trás da médica, que chama
de policiamento ideológico. "Ela é uma
política que abarca o discurso da direita
moralista americana, que não se dá bem
com o sexo. Para um subgrupo da sociedade americana, a única forma possível
de sexo é a heterossexual, nupcial, vaginal, monogâmica e fiel. Não dá para levar
a sério", conclui.
(GUILHERME WERNECK)
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