São Paulo, segunda-feira, 05 de abril de 2004

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Como era o Nirvana antes da fama

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA

Prometo que vou tentar escrever algo novo sobre o Nirvana, mesmo depois de tudo o que você já deve ter lido nos últimos dias. Provavelmente, hoje faz dez anos que Kurt Cobain, o líder do grupo, deu um tiro na cabeça. Ninguém sabe ao certo o dia.
O corpo foi encontrado em 8 de abril. Os peritos estimaram a data da morte em 5 de abril de 1994.
Kurt enfrentava dias turbulentos. Seu casamento com Courtney Love estava em pedaços. A relação com a fama, para ele sempre exasperante, chegava a um ponto de incompatibilidade sem retorno. Contra tudo isso, Kurt mergulhava em heroína. Análises de laboratório mostraram que, ao se matar, Kurt tinha quantidades animalescas da droga na corrente sangüínea.
Mas tudo isso, é bem possível, você já sabe -e eu prometi novidade. Então lá vai: este colunista viu um show do Nirvana em 1990, em um pequeno clube perto de Boston (EUA), muito antes de a banda se transformar num monumental fenômeno da música pop.
Se você é um pouco mais velho, talvez a história não seja tão inédita assim. Já falei disso aqui mesmo em "Escuta Aqui" e escrevi um texto a respeito do assunto para a finada revista "Showbizz", em março de 1996.
Desculpe-me por voltar ao tema, mas é que ter estado nesse show é, como dizem os gringos, meu único "claim to fame", ou seja, a única coisa digna de registro histórico que fiz na vida. O velho roqueiro Serguei pegou a Janis Joplin. Pete Best foi o primeiro baterista dos Beatles. A dupla Milli Vanilli ganhou um Grammy. E eu vi um show do Nirvana muito antes de eles serem famosos. Cada um com suas glórias. As minhas são pequenas.
Voltando ao texto da "Showbizz", que reli nesta semana. Achei brega, choroso, piegas. Seria embaraçoso reproduzi-lo aqui. Vou mandar só o começo, que até ficou decente. Escrevi assim:
"Com muita dificuldade, agachado no palco, olhar doente, ele consegue abrir as mãos, mostrando dez dedos. As mãos se movem para a frente e para trás lentamente. Ele quer falar a palavra "dez" para alguém na platéia, mas não consegue. Resta tentar a comunicação por gestos. "Dez" (dólares) é o preço da camiseta, que traz como estampa uma colagem sobre uma foto de John Lennon e Yoko Ono, nus. Em cima da fotografia, o nome de uma banda nova: Nirvana. Ele é Kurt Cobain, líder do Nirvana, que acabou de tocar, e está tentando me vender a camiseta."
Graças à internet, descobri que o show aconteceu no dia 18 de abril de 1990. Sabe-se lá como, existe, no seguinte endereço, uma transcrição de tudo o que se falou ali:
http://www.livenirvana.com/tourhistory/banter/1990/04-18-90.php.
O radialista Duane Bruce, da rádio local WFNX, usou as seguintes palavras para apresentar a banda: "Vamos dar as boas vindas a esses boiolas filhos da puta, fumadores de crack, adoradores de Satã. Da gravadora Sub Pop, Nirvana!"
Valeu, Kurt.


Álvaro Pereira Júnior, 40, é editor-chefe do "Fantástico" em São Paulo
E-mail: cby2k@uol.com.br



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