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Como era o Nirvana antes da fama
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA
Prometo que vou tentar escrever algo novo
sobre o Nirvana, mesmo depois de tudo o
que você já deve ter lido nos últimos dias.
Provavelmente, hoje faz dez anos que Kurt
Cobain, o líder do grupo, deu um tiro na cabeça. Ninguém sabe ao certo o dia.
O corpo foi encontrado em 8 de abril. Os peritos estimaram a data da morte em 5 de abril
de 1994.
Kurt enfrentava dias turbulentos. Seu casamento com Courtney Love estava em pedaços. A
relação com a fama, para
ele sempre exasperante,
chegava a um ponto de incompatibilidade sem retorno. Contra tudo isso,
Kurt mergulhava em heroína. Análises de laboratório mostraram que, ao
se matar, Kurt tinha quantidades animalescas
da droga na corrente sangüínea.
Mas tudo isso, é bem possível, você já sabe
-e eu prometi novidade. Então lá vai: este
colunista viu um show do Nirvana em 1990,
em um pequeno clube perto de Boston
(EUA), muito antes de a banda se transformar
num monumental fenômeno da música pop.
Se você é um pouco mais velho, talvez a história não seja tão inédita assim. Já falei disso
aqui mesmo em "Escuta Aqui" e escrevi um
texto a respeito do assunto para a finada revista "Showbizz", em março de 1996.
Desculpe-me por voltar ao tema, mas é que
ter estado nesse show é, como dizem os gringos, meu único "claim to fame", ou seja, a única coisa digna de registro histórico que fiz na
vida. O velho roqueiro Serguei pegou a Janis
Joplin. Pete Best foi o primeiro baterista dos
Beatles. A dupla Milli Vanilli ganhou um
Grammy. E eu vi um show do Nirvana muito
antes de eles serem famosos. Cada um com
suas glórias. As minhas são pequenas.
Voltando ao texto da "Showbizz", que reli
nesta semana. Achei brega, choroso, piegas.
Seria embaraçoso reproduzi-lo aqui. Vou
mandar só o começo, que até ficou decente.
Escrevi assim:
"Com muita dificuldade, agachado no palco, olhar doente, ele consegue abrir as mãos,
mostrando dez dedos. As mãos se movem para a frente e para trás lentamente. Ele quer falar a palavra "dez" para alguém na platéia, mas
não consegue. Resta tentar a comunicação
por gestos. "Dez" (dólares) é o preço da camiseta, que traz como estampa uma colagem sobre uma foto de John Lennon e Yoko Ono,
nus. Em cima da fotografia, o nome de uma
banda nova: Nirvana. Ele é Kurt Cobain, líder
do Nirvana, que acabou de tocar, e está tentando me vender a camiseta."
Graças à internet, descobri que o show
aconteceu no dia 18 de abril de 1990. Sabe-se lá
como, existe, no seguinte endereço, uma
transcrição de tudo o que se falou ali:
http://www.livenirvana.com/tourhistory/banter/1990/04-18-90.php.
O radialista Duane Bruce, da rádio local
WFNX, usou as seguintes palavras para apresentar a banda: "Vamos dar as boas vindas a
esses boiolas filhos da puta, fumadores de
crack, adoradores de
Satã. Da gravadora
Sub Pop, Nirvana!"
Valeu, Kurt.
Álvaro Pereira Júnior, 40, é editor-chefe do "Fantástico" em São Paulo
E-mail: cby2k@uol.com.br
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