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Na carona de Michael Moore
RAFAEL CARIELLO
DE NOVA YORK
Em "Super Size Me", Morgan Spurlock faz o papel de um Michael
Moore (aquele, de "Tiros em Columbine" e agora de "Fahrenheit 9/11")
mais magro e simpático, disposto a provar
que um Big Mac pode ser tão prejudicial à
sua saúde quanto um maço de cigarros ou a
política antiterror de George W. Bush.
Amparado por três médicos e uma namorada vegetariana, Spurlock filma a experiência pessoal de passar um mês fazendo três refeições ao dia no McDonald's.
Mas a questão interessante do filme
acontece ao largo do processo de destruição do fígado e da forma física do cineasta.
Quem é o verdadeiro responsável pelos
malefícios do excesso de consumo de fast
food nos EUA -e o fato de isso aparentemente ser a causa de o país ter se tornado
uma terra de obesos-, as cadeias de lanches rápidos e pouco nutrientes ou quem
escolhe se entupir de sanduíches?
Com mão leve, Spurlock monta seu argumento: um médico compara o poder viciante da comida ao da heroína, o diretor
narra sua própria melhora de humor durante as refeições, seguida de desânimo nos
intervalos, há a responsabilidade atribuída
às propagandas de TV e aos parques de diversão presentes nas lojas do McDonald's.
Num dos momentos de melhor humor
(?!), o cineasta anuncia uma alternativa para inviabilizar essa "perversão" da infância
pela rede do palhaço amarelo e vermelho:
dar um soco no filho toda vez que passarem diante de um fast food. Há momentos
mais assustadores: a namorada de Spurlock diz, ali pela metade do mês, que o rapaz está tendo sua vida sexual afetada.
Enquanto isso, ele segue as regras: comer,
até o fim dos 30 dias, todos os itens do cardápio. Na primeira experiência com os baldes de comida, outro momento de terror:
entupido, o diretor vomita. A massa pastosa é focalizada, para desgosto e repúdio da
platéia. O paralelo é claro com o consumo
de cigarros e as supostas responsabilidades
da indústria tabagista, interessada em
manter todos dependentes da nicotina.
E a mesma perseguição é sugerida para os
pobres gordinhos americanos: um entrevistado pergunta por que é socialmente
aceito recriminar um fumante, mas não
um obeso "dependente" de Big Macs.
O curioso é que o maior dependente do
sanduíche que aparece, um californiano
que diz já ter comido mais de 19 mil combinações de Big Mac -nove deles num mesmo dia, seu recorde-, é mesmo bem magrinho. "Mas ele quase nunca come as batatas fritas", explica o diretor. Ah, bom.
"Super Size Me" é um filme que prova seu
argumento: de fato, comer por um mês,
três vezes por dia, todos os dias da semana,
no McDonald's parece fazer mal à saúde.
A verdadeira discussão -se tenho o direito de me matar lentamente com Big
Macs, cigarros ou o que for- segue -e isso é uma qualidade do filme- inconclusa.
Mas Spurlock ainda vai ter que comer muito Quarterão com Queijo para se transformar em um Michael Moore.
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