São Paulo, segunda-feira, 05 de setembro de 2005

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SEXO E SAÚDE

A religião e a sexualidade

JAIRO BOUER

Nos últimos meses tenho tido experiências de parcerias com alguns setores da igreja para levar à frente a discussão de questões de sexualidade e de drogas entre os jovens.
Em Recife e em Salvador trabalhei em colégios da ordem dos salesianos para pensar em como é tratar a questão das drogas em casa e na escola. Em Brasília, voltei a falar de sexualidade, drogas e risco com jovens e pais de colégios maristas.
Posso dizer que, tendo orientação religiosa ou não, as dúvidas e curiosidades dos jovens são sempre muito parecidas. Logo, por que não discutir com eles exatamente o que querem saber?
Antes de aceitar essas propostas de trabalho, fiquei pensando no que teria motivado esse tipo de convite, já que, teoricamente, um médico de formação laica (não religiosa) tem um jeito de ver e de pensar as questões de sexualidade de uma forma muito distinta de religiosos e padres.
Além disso, depois de mais de uma década escrevendo sobre sexo, já colecionava uma série de "ruídos de comunicação" com setores da igreja.
É provável que tenha ocorrido uma flexibilização de ambas as partes, principalmente no que diz respeito a ouvir de maneira atenta o que o outro tem a dizer. Do meu lado, a constatação de que a religião aparece em várias pesquisas como "fator de proteção" de comportamentos de risco para o jovem. Do outro lado, um reposicionamento de vários setores da igreja, que hoje entendem a importância do trabalho da prevenção entre os jovens.
Jovens que, mesmo estudando em colégios religiosos, provavelmente vão ter o início de sua vida sexual na adolescência e um possível contato com drogas ainda em seus anos escolares.
Estudar em alguns colégios de orientação religiosa e falar, por exemplo, de camisinha e sexualidade é hoje uma realidade. E, se não é realidade deveria ser uma prioridade. Os padres (que antes de chegar a esse posto passam por uma longa e difícil formação) enfrentam, naturalmente, questionamentos e reflexões que têm relação direta com a realidade e as angústias dos seus futuros alunos e dos seus fiéis.
Cito trechos de uma carta de um seminarista que recebi: "Tenho 25 anos e dentro de dois ou três serei ordenado padre da Igreja Católica. Escrevo para pedir auxílio em uma pesquisa que eu e meu grupo realizamos para a disciplina de moral sexual. Nosso grupo ficou responsável por desenvolver o tema da homossexualidade e queria apresentar outras visões sobre o assunto, desde uma opinião médica e psicológica até as diversas opiniões religiosas".
Quem sabe cada vez mais os profissionais de saúde e os religiosos não vão trabalhar juntos na prevenção? Cuidando do corpo, da cabeça ou da fé, o objetivo de todos é o mesmo: que os jovens sejam mais felizes, mais saudáveis e mais responsáveis pelo que fazem. Se essa informação vem da igreja ou da medicina, não importa. O importante é que todos participem.


E-mail: jbouer@uol.com.br

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