São Paulo, segunda-feira, 05 de novembro de 2001

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Rebeldia indomável

Combustível para o fogo

Associated Press - 17.jul.2001
Cartaz em alojamento de manifestantes antiglobalização no encontro do G-8 em Gênova: "Bem-vindos, desobedientes"



Novos livros alimentam as idéias de resistência ao capitalismo globalizado


GUILHERME WERNECK
DA REPORTAGEM LOCAL

A idéia de rebeldia como alimento para a manifestação política e cultural ganha um novo fermento no Brasil com o lançamento de quatro livros que inauguram a coleção "Baderna", da Conrad.
Os livros são "TAZ - Zona Autônoma Temporária", de Hakim Bey, "Distúrbio Eletrônico", do Critical Art Ensemble, "Provos - Amsterdã e o Nascimento da Contracultura", de Matteo Guarnaccia e "Guerrilha Psíquica", de Luther Blissett.
A idéia da coleção é fazer barulho e iniciar discussões. "Muitos jovens estão fora da vida partidária, mas praticam ações políticas. Gostaria que esses livros ajudassem a desenvolver uma discussão e que atingissem menos o consumidor e mais o transformador", diz o editor da coleção, Rogério de Campos, 39.
Segundo Rogério, a coleção foi sugerida pelo grupo de internautas Baderna, depois de a Conrad ter publicado o livro "Assalto à Cultura", de Stewart Home.
De acordo com um dos documentos do grupo, eles resolveram adotar o nome da lendária bailarina Baderna, que agitou o Rio de Janeiro, para modificar o uso que vinha sendo feito desse nome. "Foram tantos os canalhas definindo como baderna algumas das coisas mais bacanas que têm acontecido nestes tempos, que acabamos tomando afeto pela palavra", diz a "Resolução nš 3" do grupo.
No mesmo documento, eles definem o objetivo da coleção. "Publicar livros que forneçam idéias divertidas (e, portanto, mais eficientes) para:
1 - destruir o Império;
2 - quebrar o modo de produção capitalista;
3 - esmagar os fascistas (assumidos ou não);
4 - atazanar a social-democracia (assassinos!);
5 - fantasmagorar as noites dos liberais ex-stalinistas (nada mais stalinista que um liberal ex-stalinista);
6 - escandalizar a classe média (porque sempre é hora de diversão);
7 - e fazer rir a macacada (na qual nos incluímos)."
A escolha dos títulos reflete essas premissas. "TAZ - Zona Autônoma Temporária" é um texto do enigmático Hakim Bey, do qual não há nenhuma fotografia, apenas um monte de histórias fantasiosas sobre sua origem e atividades.
O texto pode ser encontrado com frequência na internet, mas só agora foi traduzido para o português. "TAZ" formula um conceito de rede descentralizada por meio da qual é possível fazer insurreições (psicológicas, políticas, de atitude) em espaços fora do tempo tradicional, que o acabam subvertendo. O computador e a internet facilitam a criação dessas "realidades paralelas", mas elas podem ser criadas também fora do mundo virtual.
O grupo multidisciplinar de cinco artistas/ativistas Critical Art Ensemble usa o conceito da TAZ para desenvolver as estratégias de resistência que traçam no livro "Distúrbio Eletrônico". Por meio da crítica e do entendimento do que eles chamam de "poder nômade" (poder que transcende as fronteiras dos conceitos de Estado e nação), eles lançam os fundamentos de uma batalha, no ciberespaço, contra o poder estabelecido.
Outro livro que faz um apanhado de textos diferentes, claramente escritos por pessoas diversas, é "Guerrilha Psíquica", de Luther Blissett.
Luther Blissett ele mesmo é uma ficção -o primeiro experimento de clonagem humana bem-sucedido. Em meados dos anos 90, na Itália, foi lançado um convite para que todos fossem Luther Blissett. A idéia pegou, e começou a surgir uma série de Blissetts, às vezes simultaneamente. Muitos se dedicam a plantar notícias falsas na imprensa e houve até um que escreveu um romance: "Q".
O quarto livro é mais histórico, mas não menos importante. "Provos - Amsterdã e o Nascimento da Contracultura" tira o nascimento da contracultura dos EUA e o coloca na mão dos anarquistas do Provos, grupo ativo nos anos 60, que fazia da provocação e do pacifismo os seus motes. Entre algumas das idéias deles que ganharam as ruas está a implantação das bicicletas brancas -bicicletas comunitárias que poderiam ser usadas por todos para combater a poluição.


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