São Paulo, segunda-feira, 06 de janeiro de 2003

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NÃO PERCA A AVENTURA

Grupo especial da PM diz como se prevenir dos riscos

Prepare-se para a caminhada

DA REPORTAGEM LOCAL

No começo do mês passado, um grupo de 30 jovens do Jardim Olavo Bilac (conhecido como DER), em São Bernardo do Campo, partiu de ônibus rumo ao alto da Serra do Mar. Eles tinham planejado a excursão havia três semanas. Iriam pegar a trilha das Torres rumo a uma cachoeira, passar algumas horas lá e voltar para casa.
Mesmo tendo planejado tudo, apenas um deles estava bem equipado. A maior parte estava com a roupa do corpo e com pouca comida. Ao chegar no alto da serra, o grupo se dividiu. Oito garotas queriam trocar de roupa e ficaram para trás. Quatro rapazes as esperaram. Os 12 ficaram para trás, mas conseguiam ver os que iam na frente enquanto ainda estavam na estrada de terra que levava à trilha. Depois, perderam o contato.
"Conhecia a trilha, já tinha ido umas quatro vezes. À certa altura, a trilha seguia por três caminhos diferentes. Um deles estava marcado com fita durex. Como um dos rapazes que estava no grupo da frente tinha levado uma fita igual, pensamos que ele havia marcado o caminho", conta Antônio dos Santos Oliveira, 24, um dos que ficaram para trás. Seguiram essa trilha pensando que estavam andando num caminho paralelo ao conhecido. Começou a chover forte e eles perderam a trilha. Seguiram até encontrar um outro grupo que lhes disse que estavam perto de Cubatão. Resolveram descer a serra até o fim. Não estavam perto. Perderam-se de vez. Tiveram de passar a noite na serra, molhados pela chuva, sem roupas quentes, quase sem comida. Tinham um pacote de bolachas, um bolo, suco e duas garrafas de refrigerante.
"À noite foi quando eu mais senti medo, a chuva não parava", conta Samuel Mendonça de Jesus, 16.
Pela manhã, o grupo comeu mais um pouco e resolveu que iria reunir forças e voltar pelo caminho que tinha feito na ida. "Se a gente ficasse lá, sem comida e com frio, poderia ter morrido", diz Antônio, que liderou o grupo. Depois de andar por toda a manhã, estavam quase no fim da trilha e ouviram os apitos dos soldados do COE (Comando de Operações Especiais) da PM. Após 30 horas de aventura, os 12 foram resgatados. Duas garotas estavam com princípio de hipotermia (diminuição da temperatura do corpo), mas logo se recuperaram. "Foi muito ruim, muito difícil, mas foi uma prova de vida, um sinal de Deus para a gente dar mais valor à família e a tudo o que tem", diz Samuel.
Essa aventura terminou bem, mas ela é mais comum do que se pode imaginar.
Apenas no ano passado, de janeiro a setembro, o COE participou de 48 resgates na mata. Ao todo, foram 148 vítimas.
Segundo o tenente Iron Sérgio Ferreira da Silva, 34, há uma série de medidas fáceis de tomar para não engrossar essa estatística.
"Primeiro é preciso ir com um guia que conheça bem a área. Depois, esse guia deve fazer um bom briefing, dizendo qual é o caminho, quais são as dificuldades, quanto tempo gasta e o que precisa ser levado de comida, de água e de equipamentos", diz.
"É preciso também estar vestido adequadamente, com tênis ou bota, com calça jeans e levando um agasalho. Hoje, um equipamento muito útil é o celular, que pega em vários trechos da serra. É bom levar também o telefone do COE (0/ xx/11/6952-6533)", completa.
Mesmo assim, caso o grupo se perca, o tenente recomenda que se monte um acampamento improvisado e se espere o resgate chegar. (GUILHERME WERNECK)


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