São Paulo, segunda-feira, 06 de maio de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MEIA-ENTRADA QUASE INTEIRA

Desconto da meia-entrada desaparece com a prática dos preços promocionais

Metade de araque

Flávio Florido/Folha Imagem
O estudante Marcelo Caixeta, 17, que comprou ingresso para o show do INXS por R$ 45; o preço promocional é R$ 55


GUILHERME WERNECK
DA REPORTAGEM LOCAL

O show da banda inglesa Charlatans, no Olympia, há duas semanas, deixou claro que a estratégia de algumas das maiores casas de espetáculos de São Paulo para a cobrança da meia-entrada é uma grande furada.
O preço do ingresso foi fixado em R$ 70. A meia-entrada, portanto, custava R$ 35. E quem comprava os ingressos antecipadamente pagava um preço promocional de R$ 40. Mas os estudantes não tinham direito ao desconto sobre esse preço, mesmo comprando com antecedência. No fim das contas, o desconto para estudantes era de apenas R$ 10, e o resultado foi um Olympia quase vazio para um dos melhores shows do ano.
Esse esquema para fazer com que os estudantes não consigam o desconto a que têm direito não é novo. A estratégia de cobrar preços promocionais tornou-se frequente desde outubro do ano passado em casas como o Olympia, o Via Funchal, o Credicard Hall e o DirecTV Music Hall.
Para o presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), Felipe Maia, 24, essa prática decorre da medida provisória baixada pelo governo em agosto de 2001, que, segundo ele, desorganizou o direito à meia-entrada ao permitir que qualquer escola pudesse emitir a carteirinha de estudante.
"Antes dessa medida provisória, conseguíamos fiscalizar melhor as casas. Mesmo assim, estamos acompanhando esses casos e temos buscado fazer denúncias ao Procon e à Secretaria de Direito Econômico", diz.
Segundo o advogado do Olympia, do Credicard Hall e do DirecTV Music Hall Marcelo Saraiva, 42, as promoções geram benefícios como a satisfação do cliente e a manutenção do preço médio dos ingressos.
Saraiva também disse que, no ano passado, as três casas tiveram uma média de ocupação de 68%, sendo 30% desse público formado por estudantes.
Sabendo disso, é fácil imaginar o quanto esses 30% de jovens ficam satisfeitos ao saber que não pagam, na prática, a metade do valor do ingresso.
O estudante André Marques Gilberto, 24, percebeu o esquema pela primeira vez no show do Charlatans e já viu que ele se repetirá nas apresentações do Echo & The Bunnymen e do INXS. "Esse tipo de prática inviabiliza ao estudante a compra de ingressos", diz.
Marcelo Caixeta, 17, que comprou ingresso para o INXS, também acha o preço da meia-entrada abusivo. Mas, para ele, o pior é não conseguir comprar entradas apenas apresentando a carteira de identidade, como está previsto na medida provisória de agosto.

Outro lado
O advogado Marcelo Saraiva afirmou que "não existe previsão legal que obrigue as casas de espetáculos a conceder meia-entrada sobre os preços promocionais aos estudantes e que elas continuarão fazendo promoções e atendendo rigorosamente os termos da legislação pertinente". Procurado ao longo de quatro dias na semana passada, o Via Funchal não se pronunciou sobre a questão.



Texto Anterior: Festival: Bananada para dar, vender e ouvir
Próximo Texto: Prática é ilegal, segundo defesa do consumidor
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.