São Paulo, segunda-feira, 06 de agosto de 2007

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comportamento

Olha aí, é o meu guri

Saiba os problemas pelos quais passam os adolescentes que, nem bem começaram a se barbear, já têm filhos para criar

DOLORES OROSCO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Nem todo pai vai querer ganhar gravata, pijama ou loção pós-barba no próximo domingo. Tem muito paizão torcendo para que o filho o surpreenda com o novo Harry Potter, um game do Playstation ou um ingresso para um show do NX Zero. Essa não é uma turma de pais metidos a garotões, mas sim de meninos que já tem filhos.
No auge da adolescência e ainda no comecinho da vida sexual, alguns garotos ficam de queixo caído quando a namorada -ou a eventual ficante- avisa que está grávida. Sim, aquele dia em que a camisinha parecia furada ou que eles "esqueceram" de usá-la teve suas conseqüências. E agora?
Um dos primeiros sentimentos a tomar conta é o derrotismo. Com a chegada do bebê, acabam-se as baladas e as tardes no shopping. E aquela grana da mesada para comprar um skate terá outro fim: fraldas e mamadeiras.
Depois vem o medo de encarar os pais e os sogros. Caso do estudante Rodrigo Camargo dos Santos Pinto, que aos 17 viu nascer a filhota Bianca, hoje com 3. "Guardamos segredo por seis meses. A Amanda [ex-namorada de Rodrigo] era muito magrinha, não dava para notar a barriga. Até que a mãe dela desconfiou e descobriu tudo no consultório do ginecologista", diz Rodrigo. "Foi uma fase bem punk. Meus pais ficaram furiosos por termos escondido."
O casal namorava há dois anos quando veio a gravidez. Tentaram morar juntos, mas a relação azedou. "O convívio nos mostrou o quanto éramos imaturos. Brigávamos o tempo todo", recorda. "Agora estamos separados, mas sou um pai presente. Tenho o maior orgulho da Bia. Nós dois somos capricornianos, com gênios fortes".
Para o jovem, o maior problema da gravidez foram as festas perdidas. "Os amigos me chamavam para baladas, e eu não podia ir. Era chato, mas, com o tempo, fui superando".
Rodrigo conta que uma forte carga de responsabilidade foi adquirida durante a gestação de Bianca. "Pensava em parar de estudar para trabalhar, mas logo vi que esse não era caminho. Tinha que arranjar forças para conciliar o emprego e o colégio. Se eu não fosse pai, talvez meu empenho não tivesse sido o mesmo", diz o estudante, que está no último ano do curso de desenho industrial. E divide com a ex-namorada os finais de semana ao lado da filha.

"Quando eu crescer"
Nem todos os garotos assumem a responsabilidade desde o início. É o caso de Wesley Martins Flaviano, 16. O pai de Ana Caroline, hoje com 1 ano e sete meses, foi às lágrimas quando o Folhateen perguntou sobre a época da gravidez de sua primeira namorada.
"Perdi essa fase. Ela ficou sensível, nós só discutíamos e, para piorar, meus amigos diziam que o filho podia não ser meu", conta o garoto. Desencanado da paternidade, Wesley mergulhou nas baladas de psy-trance e engatou uma série de romances relâmpago.
"No dia do nascimento da Aninha, tudo mudou. Ela é a luz da minha vida. Mas, às vezes, fico com um pouco de nojo de trocar as fraldas", brinca. O estudante arranjou um emprego de auxiliar administrativo para ajudar a pagar o convênio médico da filha. Pretende ser engenheiro nuclear ou jogador de futebol "quando crescer".
Uma das responsáveis pelo processo de transformação de Wesley num pai mais atuante -que ainda está em andamento, fique claro- é a mãe do adolescente, a pedagoga Rosana Flaviano, vovó coruja aos 40.
"Dou banho e comida, troco as fraldas, e o Wesley fica de longe, jogando beijinhos e a chamando de "linda". Então, dou a bronca: "Assim não é ser pai, vem aqui brincar com sua bebê!'", conta Rosana.
Em tom de defesa, o garoto diz que está "colocando a cabeça no lugar". "Sou um pai nota 7,5. A vida me ensinará a conquistar o que falta", promete.

Dois lados
Quem entende as dificuldades de Wesley é o músico Kiko Zambianchi, 46. Com apenas 18 anos foi surpreendido com a chegada da filha. "Estava ficando com a garota, nem sabia o que sentia quando demos o vacilo. Eu era um moleque que fazia música, estava começando a ver a carreira decolar, tinha os shows... Achava bacana ser pai, mas não agia como tal", lembra Kiko, que tem uma relação "meio distante" com a filha.
Mesmo com todos os percalços, alguns jovens papais dizem que a chegada de um bebê, tantos anos antes do esperado, tem seu lado positivo. "Meu namoro ficou mais legal, temos novos assuntos para conversar além de nós mesmos", explica Felipe Soares Sberg, que aos 17 anos foi pai de Gabriel, hoje com 2.
Felipe faz de tudo para conciliar a paternidade com a faculdade, o estágio e os ensaios de sua banda, a Two Chairs. "Não vou levantar bandeiras, dizer que é ótimo ser pai aos 17. Mas também não é nenhum bicho de sete cabeças. A vida muda, mas não é o fim."


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