|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
comportamento
Olha aí, é o meu guri
Saiba os problemas pelos quais passam os adolescentes
que, nem bem começaram a se barbear, já têm filhos para criar
DOLORES OROSCO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Nem todo pai vai
querer ganhar gravata, pijama ou loção pós-barba no
próximo domingo.
Tem muito paizão torcendo para que o filho o surpreenda com
o novo Harry Potter, um game
do Playstation ou um ingresso
para um show do NX Zero. Essa
não é uma turma de pais metidos a garotões, mas sim de meninos que já tem filhos.
No auge da adolescência e
ainda no comecinho da vida sexual, alguns garotos ficam de
queixo caído quando a namorada -ou a eventual ficante- avisa que está grávida. Sim, aquele
dia em que a camisinha parecia
furada ou que eles "esqueceram" de usá-la teve suas conseqüências. E agora?
Um dos primeiros sentimentos a tomar conta é o derrotismo. Com a chegada do bebê,
acabam-se as baladas e as tardes no shopping. E aquela grana da mesada para comprar um
skate terá outro fim: fraldas e
mamadeiras.
Depois vem o medo de encarar os pais e os sogros. Caso do
estudante Rodrigo Camargo
dos Santos Pinto, que aos 17 viu
nascer a filhota Bianca, hoje
com 3. "Guardamos segredo
por seis meses. A Amanda [ex-namorada de Rodrigo] era muito magrinha, não dava para notar a barriga. Até que a mãe dela
desconfiou e descobriu tudo no
consultório do ginecologista",
diz Rodrigo. "Foi uma fase bem
punk. Meus pais ficaram furiosos por termos escondido."
O casal namorava há dois
anos quando veio a gravidez.
Tentaram morar juntos, mas a
relação azedou. "O convívio
nos mostrou o quanto éramos
imaturos. Brigávamos o tempo
todo", recorda. "Agora estamos
separados, mas sou um pai presente. Tenho o maior orgulho
da Bia. Nós dois somos capricornianos, com gênios fortes".
Para o jovem, o maior problema da gravidez foram as festas
perdidas. "Os amigos me chamavam para baladas, e eu não
podia ir. Era chato, mas, com o
tempo, fui superando".
Rodrigo conta que uma forte
carga de responsabilidade foi
adquirida durante a gestação
de Bianca. "Pensava em parar
de estudar para trabalhar, mas
logo vi que esse não era caminho. Tinha que arranjar forças
para conciliar o emprego e o colégio. Se eu não fosse pai, talvez
meu empenho não tivesse sido
o mesmo", diz o estudante, que
está no último ano do curso de
desenho industrial. E divide
com a ex-namorada os finais de
semana ao lado da filha.
"Quando eu crescer"
Nem todos os garotos assumem a responsabilidade desde
o início. É o caso de Wesley
Martins Flaviano, 16. O pai de
Ana Caroline, hoje com 1 ano e
sete meses, foi às lágrimas
quando o Folhateen perguntou sobre a época da gravidez
de sua primeira namorada.
"Perdi essa fase. Ela ficou
sensível, nós só discutíamos e,
para piorar, meus amigos diziam que o filho podia não ser
meu", conta o garoto. Desencanado da paternidade, Wesley
mergulhou nas baladas de psy-trance e engatou uma série de
romances relâmpago.
"No dia do nascimento da
Aninha, tudo mudou. Ela é a luz
da minha vida. Mas, às vezes, fico com um pouco de nojo de
trocar as fraldas", brinca. O estudante arranjou um emprego
de auxiliar administrativo para
ajudar a pagar o convênio médico da filha. Pretende ser engenheiro nuclear ou jogador de
futebol "quando crescer".
Uma das responsáveis pelo
processo de transformação de
Wesley num pai mais atuante
-que ainda está em andamento, fique claro- é a mãe do adolescente, a pedagoga Rosana
Flaviano, vovó coruja aos 40.
"Dou banho e comida, troco
as fraldas, e o Wesley fica de
longe, jogando beijinhos e a
chamando de "linda". Então,
dou a bronca: "Assim não é ser
pai, vem aqui brincar com sua
bebê!'", conta Rosana.
Em tom de defesa, o garoto
diz que está "colocando a cabeça no lugar". "Sou um pai nota
7,5. A vida me ensinará a conquistar o que falta", promete.
Dois lados
Quem entende as dificuldades de Wesley é o músico Kiko
Zambianchi, 46. Com apenas 18
anos foi surpreendido com a
chegada da filha. "Estava ficando com a garota, nem sabia o
que sentia quando demos o vacilo. Eu era um moleque que fazia música, estava começando a
ver a carreira decolar, tinha os
shows... Achava bacana ser pai,
mas não agia como tal", lembra
Kiko, que tem uma relação
"meio distante" com a filha.
Mesmo com todos os percalços, alguns jovens papais dizem
que a chegada de um bebê, tantos anos antes do esperado, tem
seu lado positivo. "Meu namoro ficou mais legal, temos novos
assuntos para conversar além
de nós mesmos", explica Felipe
Soares Sberg, que aos 17 anos
foi pai de Gabriel, hoje com 2.
Felipe faz de tudo para conciliar a paternidade com a faculdade, o estágio e os ensaios de
sua banda, a Two Chairs. "Não
vou levantar bandeiras, dizer
que é ótimo ser pai aos 17. Mas
também não é nenhum bicho
de sete cabeças. A vida muda,
mas não é o fim."
Texto Anterior: 02 Neurônio: Orgasmatron Próximo Texto: Frases Índice
|