São Paulo, segunda-feira, 06 de setembro de 2004

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VIDA NA CIDADE

Dez jovens do Real Parque, na zona oeste de São Paulo, fazem pesquisa sobre a comunidade

Costurando o futuro

Sérgio Zacchi/Folha Imagem
Verônica Santos Gomes, 18, e Diana Sales, 18, conversam com moradora do Real Parque


DA REPORTAGEM LOCAL

Quem olha do alto, pela janela dos condomínios de luxo do Real Parque, na zona oeste de São Paulo, não imagina a quantidade de vielas que existe dentro da favela, a poucos metros, lá embaixo. Os próprios moradores dos conjuntos habitacionais da comunidade não conhecem as centenas de ruelas íngremes, que cortam caminho entre os barracos improvisados de compensado. "O que mais me impressionou foram esses becos", mostrou ao Folhateen Edson Salvino da Costa, 18, enquanto caminhava pelo local.
Ele é um dos dez jovens que realizaram a pesquisa "A Real do Parque", que traçou o perfil da comunidade. A pesquisa foi organizada pelo Projeto Casulo -uma iniciativa do ICE (Instituto de Cidadania Empresarial), que tem parcerias com a prefeitura, empresas e organizações locais. Os jovens percorreram todas as vielas, marcaram todas as residências e descobriram que vivem na favela 4.314 pessoas.
Lá, o contraste é brutal. Ao lado de condomínios superequipados, crianças brincam em ruelas com esgoto a céu aberto. "As pessoas daqui precisam de tudo um pouco, desde saneamento básico até auto-estima", diz Marciana Balduíno de Souza, 20. "Alguns não acreditam que podem melhorar de vida. É como se não houvesse solução, como se fosse normal viver assim."
O que mais chamou a atenção de Viviane de Paula Gonzaga, 21, foi a quantidade de pessoas fora da escola. "Aqui não tem ensino médio. Quem quer estudar tem que ir até o Brooklin, do outro lado da ponte."
Para Francemildo Pessoa da Silva, 16, os moradores deveriam se preocupar mais com a comunidade. "Havia dez vagas para o projeto, e vieram só os dez contados", conta. "Se as pessoas não se interessam, quem vai se interessar por eles?", pergunta Sidney Cosme Cândido Faria, 18.
Agora, os dez jovens estão participando do Observatório Social, com mais 25 jovens. O objetivo é que eles sejam multiplicadores. "Como muitos moradores são do Nordeste, vamos procurar fazer festas que tenham a ver com eles", diz Diana Sales, 18.
"A pesquisa despertou em mim uma vontade de mobilização. Agora eu acho que sou especial, porque conheço meus direitos. A gente precisa arrumar um jeito para todo mundo se tornar especial também", afirma Verônica Santos Gomes, 18. "Eu me sinto como uma colcha de retalhos, juntando cada coisa que eu vi, cada relato dos moradores. Estou sendo costurada pela linha do tempo." (ALESSANDRA KORMANN)


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