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VIDA NA CIDADE
Dez jovens do Real Parque, na zona oeste de São Paulo, fazem pesquisa sobre a comunidade
Costurando o futuro
Sérgio Zacchi/Folha Imagem
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Verônica Santos Gomes, 18, e Diana Sales, 18, conversam com moradora do Real Parque |
DA REPORTAGEM LOCAL
Quem olha do alto, pela janela dos
condomínios de luxo do Real Parque, na zona oeste de São Paulo,
não imagina a quantidade de vielas que
existe dentro da favela, a poucos metros,
lá embaixo. Os próprios moradores dos
conjuntos habitacionais da comunidade
não conhecem as centenas de ruelas íngremes, que cortam caminho entre os
barracos improvisados de compensado.
"O que mais me impressionou foram esses becos", mostrou ao Folhateen Edson
Salvino da Costa, 18, enquanto caminhava pelo local.
Ele é um dos dez jovens que realizaram
a pesquisa "A Real do Parque", que traçou o perfil da comunidade. A pesquisa
foi organizada pelo Projeto Casulo
-uma iniciativa do ICE (Instituto de Cidadania Empresarial), que tem parcerias
com a prefeitura, empresas e organizações locais. Os jovens percorreram todas
as vielas, marcaram todas as residências e
descobriram que vivem na favela 4.314
pessoas.
Lá, o contraste é brutal. Ao lado de condomínios superequipados, crianças brincam em ruelas com esgoto a céu aberto.
"As pessoas daqui precisam de tudo um
pouco, desde saneamento básico até auto-estima", diz Marciana Balduíno de
Souza, 20. "Alguns não acreditam que podem melhorar de vida. É como se não
houvesse solução, como se fosse normal
viver assim."
O que mais chamou a atenção de Viviane
de Paula Gonzaga, 21, foi a quantidade de
pessoas fora da escola. "Aqui não tem ensino médio. Quem quer estudar tem que ir
até o Brooklin, do outro lado da ponte."
Para Francemildo Pessoa da Silva, 16, os
moradores deveriam se preocupar mais
com a comunidade. "Havia dez vagas para
o projeto, e vieram só os dez contados",
conta. "Se as pessoas não se interessam,
quem vai se interessar por eles?", pergunta
Sidney Cosme Cândido Faria, 18.
Agora, os dez jovens estão participando
do Observatório Social, com mais 25 jovens. O objetivo é que eles sejam multiplicadores. "Como muitos moradores são do
Nordeste, vamos procurar fazer festas que
tenham a ver com eles", diz Diana Sales, 18.
"A pesquisa despertou em mim uma
vontade de mobilização. Agora eu acho que
sou especial, porque conheço meus direitos. A gente precisa arrumar um jeito para
todo mundo se tornar especial também",
afirma Verônica Santos Gomes, 18. "Eu me
sinto como uma colcha de retalhos, juntando cada coisa que eu vi, cada relato dos moradores. Estou sendo costurada pela linha
do tempo."
(ALESSANDRA KORMANN)
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