Modelo inglesa troca passarelas pela literatura e lança seu segundo livro no exterior, sobre uma adolescente em crise

' MANUELA MINNS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM LONDRES

M uitas meninas sonham em virar modelo, ir para Nova York e sair em capas de revista no mundo todo. A inglesa Sophie Dahl fez tudo isso e depois tomou um rumo que poucas imaginariam: se armou de idéias e de palavras e virou escritora.
Depois de oito anos em Nova York vivendo uma vida de top model de sucesso, Sophie voltou para Londres e lançou no final de outubro seu primeiro romance: "Playing With the Grown-Ups" (brincando com os adultos). É o segundo livro dela; o primeiro é a novela best-seller "The Man With the Dancing Eyes" (o homem com os olhos dançantes), que conta com ilustrações lindas de Annie Morris.
Os dois foram lançados pela conceituada editora Bloomsbury, a mesma do megasucesso literário "Harry Potter", e ainda não têm previsão de chegar ao Brasil. Além dos livros, Sophie também é editora convidada da "Vogue Homem" inglesa e ainda contribui para três jornais, incluindo o "The Guardian".
Sophie e o mundo literário sempre foram bastante íntimos. Seu avô é nada menos que o escritor inglês Roald Dahl, autor do clássico infantil "A Fantástica Fábrica de Chocolates". E, ironicamente, em 1996, ela foi descoberta pela editora de moda Isabella Blow (morta no ano passado) quando olhava a vitrine de uma loja de livros.
A migração dos livros para as passarelas e do mundo fashion para o literário foi sempre cercada de controvérsias. Primeiro, ninguém acreditava que ela levaria jeito para modelo. Sophie sempre esteve fora do padrão esquelético e era até considerada gordinha. Mas o rosto de porcelana, os olhos brilhantes e a insistência de Isabella Blow fizeram dela uma top.
Os críticos literários também não deram refresco, muitas resenhas vieram com adjetivos pouco amigáveis sugerindo que seu romance é fraco e que teve grandes partes editadas.
"Playing With the Grown-Ups" tem muito do romance e da fantasia dos livros de Roald Dahl, mas com uma dose extra de açúcar. Basicamente, é a história de Kitty, que tem uma infância bucólica e superprotegida no campo inglês, mas que vê essa paz ir pelo ralo quando a mãe resolve seguir um guru indiano até Nova York e mandá-la para o colégio interno.
A mãe, Marina, teve Kitty ainda adolescente, e a menina não conheceu o pai, um homem casado e mais velho. Marina, talvez um dos personagens mais interessantes do livro, é uma modelo e artista plástica que troca de namorado com a mesma freqüência que muda de humor. A vida de Kitty e dos dois irmãos mais novos fica à mercê dessa mãe amorosa mas pouco estruturada, que oscila entre as festas de arromba e a busca pela elevação do espírito.
"Playing With Grown-Ups" é definitivamente um livro de menina. Kitty é romântica, insegura e cheia de dúvidas. Mas também se diverte, faz amizades e conquista corações.
Na medida que entra na adolescência, as histórias vão ficando menos cor-de-rosa. Como boa inglesa, Sophie não economiza nas doses de gin tônica nem nas baladas.