São Paulo, segunda-feira, 07 de janeiro de 2008

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música

Passarinho do mato

Conheça o vocalista do Vanguart, a nova sensação do folk brasileiro

Raimundo Paccó/Folha Imagem
Hélio Flanders nos trilhos do Brás, centro de São Paulo


VIVIAN WHITEMAN
DA REPORTAGEM LOCAL

A costumado a arder sob o sol de Cuiabá, Hélio Flanders, 23, quase morreu de frio quando se mudou para São Paulo, em março do ano passado. Para enfrentar o choque térmico, chegou a sair de sua nova casa, no bairro do Sumaré, usando um enorme chapéu de pele, estilo lenhador. Mas não demorou muito para que o músico descobrisse o calor paulistano: sua banda, Vanguart, conquistou uma legião de admiradores na cidade, gente que lota os shows do grupo e canta as canções escritas por Hélio com um fervor digno do mais intenso verão cuiabano.
"Também sinto falta de mato", diz o músico, ainda sobre a mudança de cidade. Nascido em Londrina, Hélio cresceu em Cuiabá, cidade que ajudou a moldar sua personalidade.
Foi lá que, aos 12 anos, começou a fazer suas primeiras experiências com música. A capital mato-grossense, cercada pelas belezas do cerrado e do Pantanal, também foi testemunha da criação de músicas como "Semáforo" e "Cachaça", os dois maiores hits do primeiro CD do Vanguart, que leva o nome da banda e foi lançado em 2007 pela revista "Outracoisa".
"Aqui é fácil se misturar à multidão, mas lá, quando a gente quer dar uma escapada para arejar a cabeça, procura sempre um refúgio natural, com passarinhos, rio, árvores", diz.
O folk à brasileira do Vanguart, com perfumes de blues e psicodelia, está entre as melhores coisas que apareceram no cenário musical brasileiro na última década. O disco foi eleito entre os melhores de 2007 pela crítica especializada, e, claro, as ótimas composições de Hélio são responsáveis por boa parte desse sucesso.
As letras vão do português ao inglês, passando pelo espanhol, com muita desenvoltura. Reflexos das experiências do vocalista como aluno da faculdade de Letras da Universidade Federal do Mato Grosso e como professor de inglês.
Em São Paulo, Hélio encontrou na literatura um outro canal de expressão. Logo de cara se enturmou com alguns dos jovens escritores que vivem na capital. Entre eles, Clarah Averbuck e o cantor Danislau Também -integrante da ótima banda mineira Porcas Borboletas e autor do livro de poemas "O Herói Hesitante".
Logo depois da mudança, lançou o livro "Pet Sounds", com um pé no estilo beatnik dos anos 60, inspirado no disco homônimo dos Beach Boys e publicado pela editora on-line Mojo Books (grátis em www.mojobooks.com.br).

Bob Dylan
Mas o foco ainda é a música. Protegido pelo inglês, Hélio se solta e diz coisas que, segundo ele, só consegue botar para fora com a ajudazinha de um idioma estrangeiro. Porém, é em português que experimenta seus momentos de maior exposição como artista e frontman. "Só em português eu canto com a veemência de quem sabe que é ouvido e compreendido", comenta, fazendo olhar sério.
Para o próximo disco, já em construção, o músico promete mais canções em português, além de melodias com possíveis influências de samba e bossa nova. Fã de Bob Dylan, Donovan e Woody Guthrie, Hélio anda encantado pelas obras de João Nogueira, Tom Jobim e João Gilberto. "Você já ouviu "Amoroso'? Acho sensacional", anima-se, sobre o disco de 1977, considerado o melhor trabalho do compositor baiano, e que traz interpretações de músicas como "Wave" e "Triste".
No quesito performances ao vivo, Hélio é um talento à parte. De moço tímido e muito simpático, que recebe as visitas em sua casa com goiabada e outros quitutes, ele se transforma em frontman encapetado, com direito a movimentos estratégicos de violão e pernas. E olhares e caras e bocas.
"Eu sei o que estou fazendo, mas às vezes fico espantado com as minhas expressões faciais quando assisto aos vídeos", revela. Surpreende também a força da voz, que apesar das comparações com Thom Yorke, do Radiohead, e Gordon Gano, do Violent Femmes, possui bossa própria e original.

Turnê nacional
Além do público, outros artistas já se renderam ao carisma de Hélio e seus companheiros de banda. Eles já dividiram o palco com Tom Zé, João Ricardo (do Secos & Molhados) e acabam de ter o hit "Semáforo" incluído no repertório da atual turnê da cantora, pianista e atriz cult Cida Moreira e do compositor Arthur de Faria.
Neste ano, o Vanguart se prepara para dar novos rasantes, incluindo uma grande turnê nacional. Quem sabe um show com outros nomes da cena neofolk? Quem sabe abrir algum dos shows que Bob Dylan fará no Brasil? As possibilidades são muitas, e Hélio Flanders e seus companheiros de banda estão voando à altura de todas elas.


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