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música
Passarinho do mato
Conheça o vocalista do Vanguart, a nova sensação do folk brasileiro
Raimundo Paccó/Folha Imagem
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Hélio Flanders nos trilhos do Brás, centro de São Paulo
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VIVIAN WHITEMAN
DA REPORTAGEM LOCAL
A
costumado a arder
sob o sol de Cuiabá,
Hélio Flanders, 23,
quase morreu de frio
quando se mudou
para São Paulo, em março do
ano passado. Para enfrentar o
choque térmico, chegou a sair
de sua nova casa, no bairro do
Sumaré, usando um enorme
chapéu de pele, estilo lenhador.
Mas não demorou muito para
que o músico descobrisse o calor paulistano: sua banda, Vanguart, conquistou uma legião
de admiradores na cidade, gente que lota os shows do grupo e
canta as canções escritas por
Hélio com um fervor digno do
mais intenso verão cuiabano.
"Também sinto falta de mato", diz o músico, ainda sobre a
mudança de cidade. Nascido
em Londrina, Hélio cresceu em
Cuiabá, cidade que ajudou a
moldar sua personalidade.
Foi lá que, aos 12 anos, começou a fazer suas primeiras experiências com música. A capital mato-grossense, cercada pelas belezas do cerrado e do Pantanal, também foi testemunha
da criação de músicas como
"Semáforo" e "Cachaça", os
dois maiores hits do primeiro
CD do Vanguart, que leva o nome da banda e foi lançado em
2007 pela revista "Outracoisa".
"Aqui é fácil se misturar à
multidão, mas lá, quando a gente quer dar uma escapada para
arejar a cabeça, procura sempre um refúgio natural, com
passarinhos, rio, árvores", diz.
O folk à brasileira do Vanguart, com perfumes de blues e
psicodelia, está entre as melhores coisas que apareceram no
cenário musical brasileiro na
última década. O disco foi eleito
entre os melhores de 2007 pela
crítica especializada, e, claro, as
ótimas composições de Hélio
são responsáveis por boa parte
desse sucesso.
As letras vão do português ao
inglês, passando pelo espanhol,
com muita desenvoltura. Reflexos das experiências do vocalista como aluno da faculdade de
Letras da Universidade Federal
do Mato Grosso e como professor de inglês.
Em São Paulo, Hélio encontrou na literatura um outro canal de expressão. Logo de cara
se enturmou com alguns dos
jovens escritores que vivem na
capital. Entre eles, Clarah
Averbuck e o cantor Danislau
Também -integrante da ótima
banda mineira Porcas Borboletas e autor do livro de poemas
"O Herói Hesitante".
Logo depois da mudança,
lançou o livro "Pet Sounds",
com um pé no estilo beatnik
dos anos 60, inspirado no disco
homônimo dos Beach Boys e
publicado pela editora on-line
Mojo Books (grátis em
www.mojobooks.com.br).
Bob Dylan
Mas o foco ainda é a música.
Protegido pelo inglês, Hélio se
solta e diz coisas que, segundo
ele, só consegue botar para fora
com a ajudazinha de um idioma
estrangeiro. Porém, é em português que experimenta seus
momentos de maior exposição
como artista e frontman. "Só
em português eu canto com a
veemência de quem sabe que é
ouvido e compreendido", comenta, fazendo olhar sério.
Para o próximo disco, já em
construção, o músico promete
mais canções em português,
além de melodias com possíveis influências de samba e bossa nova. Fã de Bob Dylan, Donovan e Woody Guthrie, Hélio
anda encantado pelas obras de
João Nogueira, Tom Jobim e
João Gilberto. "Você já ouviu
"Amoroso'? Acho sensacional",
anima-se, sobre o disco de 1977,
considerado o melhor trabalho
do compositor baiano, e que
traz interpretações de músicas
como "Wave" e "Triste".
No quesito performances ao
vivo, Hélio é um talento à parte.
De moço tímido e muito simpático, que recebe as visitas em
sua casa com goiabada e outros
quitutes, ele se transforma em
frontman encapetado, com direito a movimentos estratégicos de violão e pernas. E olhares e caras e bocas.
"Eu sei o que estou fazendo,
mas às vezes fico espantado
com as minhas expressões faciais quando assisto aos vídeos", revela. Surpreende também a força da voz, que apesar
das comparações com Thom
Yorke, do Radiohead, e Gordon
Gano, do Violent Femmes, possui bossa própria e original.
Turnê nacional
Além do público, outros artistas já se renderam ao carisma de Hélio e seus companheiros de banda. Eles já dividiram
o palco com Tom Zé, João Ricardo (do Secos & Molhados) e
acabam de ter o hit "Semáforo"
incluído no repertório da atual
turnê da cantora, pianista e
atriz cult Cida Moreira e do
compositor Arthur de Faria.
Neste ano, o Vanguart se prepara para dar novos rasantes,
incluindo uma grande turnê
nacional. Quem sabe um show
com outros nomes da cena neofolk? Quem sabe abrir algum
dos shows que Bob Dylan fará
no Brasil? As possibilidades são
muitas, e Hélio Flanders e seus
companheiros de banda estão
voando à altura de todas elas.
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