|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Tiro não fez garota desistir fácil da vida
FREE-LANCE PARA A FOLHA
"Carlos, não estou sentindo minhas
pernas." Cristina de Oliveira, 18,
passeava com o amigo quando teve o
braço atingido por uma bala perdida.
Não fosse a camiseta manchada de sangue e o barulho, nem teria notado o tiro
que a deixou paraplégica na hora.
A primeira atitude foi a de pedir perdão a Deus, afinal, nada tinha feito para
levar um tiro. "Sempre fui religiosa, católica praticante, fazia trabalhos com
jovens da igreja e me preparava para
dar aulas de crisma." Cris tinha 15 anos.
A sensação de revolta do início foi superada com o apoio da família e de profissionais. Cris passou a aceitar sua realidade e a lidar com ela. "Por falta de informação, sempre acham que uma pessoa que usa cadeira de rodas não pode
namorar, não pode casar ou fazer um
monte de coisas", explica.
Cris aprendeu a nadar e tornou-se a
primeira mulher a disputar tênis de
mesa na AACD. Deixou a timidez de lado já que, mais do que os outros, teria
de ser uma pessoa alegre e extrovertida.
De família humilde, sofreu com o
descaso nos hospitais públicos e com a
sensação de humilhação. Também viu
muitas pessoas desistirem e ficarem
sem tratamento. Então, quando ouve
amigos dizerem que não aguentariam
o tranco, manda a resposta debochada:
"Depois de tudo que passei -levei um
tiro, estou numa cadeira de rodas-,
você acha que eu ia querer morrer? Eu
quero é viver! Tá maluco?".
(CF)
Texto Anterior: Depois da queda: A vida por um fio Próximo Texto: Sem a visão, jovem descobriu habilidades Índice
|