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São Paulo, segunda-feira, 07 de abril de 2003

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EDUCAÇÃO

Competições fazem do Ceará um celeiro de campeões

Matemática, sombra e água fresca

KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

Praias lindas, dunas, coqueiros, sombra e água fresca. É nesse cenário do Ceará que estão nascendo grande parte dos "gênios" da matemática, que "roubam" vagas de paulistas e cariocas no vestibular considerado o mais difícil do país.
Só neste ano, dos 156 crânios que conseguiram passar no vestibular do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), de São José dos Campos, 31 eram cearenses, quase o dobro do número de aprovados da cidade de São Paulo -apenas 17 paulistanos passaram.
O Rio de Janeiro, antigo celeiro de "gênios", também ficou para trás, com apenas 27 felizardos.
A explicação é a competição, segundo o coordenador do curso de mestrado em matemática da UFC (Universidade Federal do Ceará), o professor Lucas Barbosa.
Cinco escolas particulares de Fortaleza promovem olimpíadas e dão bolsas para os melhores alunos. "Não sei porque sempre se evitou colocar a competição no ensino, como normalmente acontece no esporte", disse Barbosa. "Essa competição é que está fazendo a diferença."
O bom desempenho dos cearenses foi longe e começa a aparecer cada vez mais cedo. É o caso de Larissa Cavalcante Queiroz de Lima, 16, que está na 3ª série do ensino médio de uma escola particular de Fortaleza.
No ano passado, ela já conseguiu ser prata na olimpíada internacional de matemática disputada em Glasgow, no Reino Unido -além dela, outros quatro cearenses se deram bem e foram premiados, com medalha de bronze, contra um carioca e um paulista que também trouxeram medalhas para o Brasil.
Nos últimos dez anos, o Ceará ficou com 19 premiações em olimpíadas internacionais, quase a metade de um total de 40 prêmios conquistados por brasileiros.
Agora, Larissa conseguiu superar 23 graduados em matemática e foi terceiro lugar na seleção para o mestrado da UFC.
"A legislação brasileira prevê a educação especial, que inclui não só alunos com necessidades especiais, mas também os chamados gênios. Seria um desperdício de tempo se a Larissa tivesse de fazer a graduação primeiro", disse Barbosa.
A rotina é que não será fácil. "Aulas de olimpíadas e de mestrado pela manhã, a 3ª série do ensino médio à tarde e o vestibular à noite", relata Larissa. Ela precisa prestar o vestibular porque o diploma do mestrado só será liberado pelo Ministério da Educação depois que ela tiver concluído a graduação.
No fim de tudo isso, a garota ainda consegue tempo para o trabalho voluntário. Aos domingos, ela se reúne com amigos e vai a uma creche ensinar matemática a crianças carentes. "Eu queria fazer mais, mas não dá tempo."



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