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São Paulo, segunda-feira, 07 de abril de 2003

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Após queimaduras, rapaz aprendeu a saltar sobre a aparência

FREE-LANCE PARA A FOLHA

Marcelo Boczko tinha só nove anos e brincava de colocar fogo em lixo com o irmão e o primo quando (ele não se lembra direito) uma garrafa de álcool explodiu, ateando fogo em seu casaco.
Ao todo, 28% do corpo foi queimado: braços, peito e rosto, sendo as queimaduras de segundo e terceiro graus. Marcelo perdeu quase toda a orelha esquerda, grande parte da orelha direita, metade do indicador direito, metade do polegar direito, além de mobilidade em vários dedos e na abertura dos braços.
"Numa das primeiras vezes em que saí com a minha mãe, uma mulher e o filho pararam e olharam assustados. Minha mãe respondeu com um "O que vocês estão olhando?" e saiu andando. Foi aí que eu me toquei de que as pessoas realmente olhariam."
Para Marcelo, numa sociedade que supervaloriza a aparência -e numa fase como a adolescência, em que se dá mais valor ainda a padrões de beleza-, o mais difícil é conseguir uma namorada. "Às vezes, por mais que eu soubesse qual era a minha diferença e que isso não me fazia ter menos valor, eu me sentia diferente, para baixo."
Hoje, aos 27 anos, formado em engenharia mecatrônica, Marcelo já passou por vários relacionamentos, mas o primeiro só veio mesmo aos 20 anos. "É difícil conseguir namorada, mas, quando eu consigo, é a relação que estou procurando, uma relação verdadeira, com uma namorada que valha a pena."
Descobriu que, se não é tão bonito quanto antes, é uma pessoa melhor do que era antes e que existem coisas mais valiosas do que a aparência, que as pessoas não estão acostumadas a ver. Aprendeu a lidar com olhares disfarçados e de espanto e com diferença de tratamento. Por fim, voltou a gostar de si, a se achar bonito e a se sentir tranquilo sem camiseta na praia.
"É importante perceber que as coisas não são tão simples: "Não enxergo mais, não quero mais viver". Felicidade e motivação para a vida não estão em enxergar, em andar ou em algo do gênero. Estão em você!" (CF)


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