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Após queimaduras, rapaz aprendeu a saltar sobre a aparência
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Marcelo Boczko tinha só nove anos e
brincava de colocar fogo em lixo
com o irmão e o primo quando (ele não
se lembra direito) uma garrafa de álcool
explodiu, ateando fogo em seu casaco.
Ao todo, 28% do corpo foi queimado:
braços, peito e rosto, sendo as queimaduras de segundo e terceiro graus. Marcelo perdeu quase toda a orelha esquerda, grande parte da orelha direita, metade do indicador direito, metade do polegar direito, além de mobilidade em
vários dedos e na abertura dos braços.
"Numa das primeiras vezes em que
saí com a minha mãe, uma mulher e o
filho pararam e olharam assustados.
Minha mãe respondeu com um "O que
vocês estão olhando?" e saiu andando.
Foi aí que eu me toquei de que as pessoas realmente olhariam."
Para Marcelo, numa sociedade que
supervaloriza a aparência -e numa fase como a adolescência, em que se dá
mais valor ainda a padrões de beleza-,
o mais difícil é conseguir uma namorada. "Às vezes, por mais que eu soubesse
qual era a minha diferença e que isso
não me fazia ter menos valor, eu me
sentia diferente, para baixo."
Hoje, aos 27 anos, formado em engenharia mecatrônica, Marcelo já passou
por vários relacionamentos, mas o primeiro só veio mesmo aos 20 anos. "É difícil conseguir namorada, mas, quando
eu consigo, é a relação que estou procurando, uma relação verdadeira, com
uma namorada que valha a pena."
Descobriu que, se não é tão bonito
quanto antes, é uma pessoa melhor do
que era antes e que existem coisas mais
valiosas do que a aparência, que as pessoas não estão acostumadas a ver.
Aprendeu a lidar com olhares disfarçados e de espanto e com diferença de
tratamento. Por fim, voltou a gostar de
si, a se achar bonito e a se sentir tranquilo sem camiseta na praia.
"É importante perceber que as coisas
não são tão simples: "Não enxergo
mais, não quero mais viver". Felicidade
e motivação para a vida não estão em
enxergar, em andar ou em algo do gênero. Estão em você!"
(CF)
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