UOL


São Paulo, segunda-feira, 07 de julho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

POLÊMICA

Grupo em Israel se recusa a servir no Exército do país e enfrenta o poder do Estado

Jovens pacifistas em tempos de guerra

KETY SHAPAZIAN
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Bonito, inteligente, calmo, educado, pacifista. O israelense Jonathan Ben-Artzi, 20, tornou-se um dos rostos mais conhecidos no seu país e sua história acendeu debates. Em agosto de 2001, Ben-Artzi e outros 61 estudantes enviaram uma carta ao primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon. As palavras, distribuídas em 18 linhas, acertaram em cheio o orgulho da maior instituição daquele país: o Exército.
"Obedecendo à nossa consciência, nós nos recusamo a tomar parte nos atos de opressão contra o povo palestino." Assim terminava a mensagem e nascia um movimento, o Shministim ("colegial", em hebraico). Um ano depois, uma segunda carta foi enviada a Sharon. O Exército israelense acusou o golpe, prendendo Ben-Artzi por 199 dias.
Desde fevereiro, ele continua detido, mas pode ir para casa por 48 horas a cada três semanas enquanto espera o julgamento de uma corte marcial. Se for condenado, sua sentença será de três anos em regime fechado.
Yoni, como Ben-Artzi é chamado pela família e pelos amigos, caiu nas graças da comunidade internacional. Grupos pacifistas e de defesa dos direitos humanos saíram em sua defesa. Apesar de não ser o único jovem em Israel preso por se recusar a servir no Exército, sua história chama a atenção porque ele é sobrinho do ex-premiê israelense Benjamin Netanyahu, atual ministro de Finanças.
Em Israel, os jovens são convocados para o serviço militar ao fim do ensino médio. São três anos para os garotos e 26 meses para as meninas.
Durante uma viagem à França, Yoni visitou com o pai a cidade de Verdun. No palco da batalha mais sangrenta da Primeira Guerra Mundial, o então menino de 13 anos concluiu que todas as guerras eram inúteis. "Naquele momento, eu soube que nunca vestiria um uniforme do Exército", contou Yoni, por telefone, ao Folhateen.
Além de Yoni, Haggai Matar, Matan Kaminer, Shimri Tzameret, Adam Maor e Noam Bahat também estão sendo julgados por uma corte marcial. O grupo é considerado a liderança do movimento Shministim.
Ofra, mãe de Yoni, admite que ter um ex-primeiro-ministro ultranacionalista na família não ajudou muito. Há um ano, um pouco antes de Yoni ser preso pela primeira vez, numa reunião familiar, o pacifismo do filho foi o assunto da conversa. "Talvez ele mude de idéia" foi o único comentário feito por Netanyahu.
Yoni revela que nunca mais conversou sobre sua decisão de não servir no Exército com o tio famoso. "Temos pontos de vista totalmente diferentes", avalia.
"Não espero que ninguém facilite nada para mim. Estou disposto a fazer trabalho voluntário durante três anos em qualquer lugar que beneficie a sociedade e sem nenhuma relação com o Exército."
"Visitar novamente o Brasil!", ele responde, quando indagado sobre o que vai fazer quando seu julgamento terminar. "Tinha uns cinco anos quando meus pais me levaram ao Rio. Quero tomar água de coco e assistir a um jogo de futebol."



Texto Anterior: Fique atento
Próximo Texto: No Brasil, quem não se alista no prazo sofre restrições
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.