São Paulo, segunda, 7 de setembro de 1998

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Entenda o pânico na economia mundial

da reportagem local

Cai a Bolsa de Nova York! Cai a Bolsa de Hong Kong! Dow Jones chega a 500. Dez bancos quebram na Indonésia! Em tom apocalíptico, as notícias de economia traçam um cenário pessimista para o mundo. E muita gente não tem idéia de como alguma coisa que acontece numa Bolsa de Valores do outro lado do planeta pode interferir na sua vida. Por isso o Folhateen preparou um guia para esclarecer a você os caminhos tortuosos do dinheiro pelo mundo.

1. O que é esta tal crise?
É uma crise econômica, em que a movimentação de dinheiro diminuiu em todo o mundo. Resumindo: o planeta ficou mais pobre.

2. O que a Bolsa de Valores tem a ver com isso?
Tem muito a ver com isso. Neste cenário de crise, ela é uma vitrine do que está acontecendo na economia. É o lugar onde pessoas ou empresas compram e vendem ações -uma espécie de certificado de propriedade. Quem compra uma ação de uma empresa está comprando uma pequena parte dela, ou seja, torna-se sócio dela. As empresas com melhor desempenho no mercado (com mais lucros) têm as ações mais caras. Quanto mais uma empresa se desenvolve, mais gente quer comprar ações dela. Por isso o preço das suas ações sobe, já que os operadores (aqueles engravatados com celular que ficam no empurra-empurra) abrem uma compra-e-venda frenética. Todos querem comprar ações pelo menor preço e vendê-las por um valor maior. É o lema: "Comprar na baixa, vender na alta".

3. Por que as empresas têm ações na Bolsa?
Para fazer novos investimentos. Com o dinheiro pago pelos compradores das ações, a empresa pode comprar mais matéria-prima, abrir filiais, expandir a produção. Se ela crescer, as ações são valorizadas, e os investidores também ganham.

4. Por que a Bolsa cai?
A queda ocorre quando o valor das ações negociadas na Bolsa cai. Isso acontece quando muita gente quer vender e poucos querem comprar. É a lei da oferta e da procura. O investidor que compra ações em baixa é aquele que pode ficar na moita um tempo, esperando que valorizem de novo. Até lá, o dinheiro fica parado. Neste momento, poucos estão fazendo isso porque há incertezas sobre o futuro do país e da economia mundial.

5. O que é o tal índice Dow Jones?
Ele indica quanto variaram os preços das 30 ações mais negociadas na Bolsa de Nova York naquele dia. Essa é a forma ágil de saber a tendência de queda ou alta de toda a Bolsa de NY, a que mais influencia o mercado mundial. O índice foi criado em 1896, pela empresa Dow Jones, que, entre outros empreendimentos, edita o prestigiado "Wall Street Journal". O nome Dow Jones vem de dois dos três fundadores da empresa, Charles H. Dow e Edward K. Jones. O terceiro, Charles Bergstresser, deve ter percebido que tinha um sobrenome muito complicado.

6 - Como começou a atual crise?

Em julho deste ano, a Tailândia sofreu um ataque especulativo -o movimento de muitos investidores para forçar uma desvalorização da moeda. Explicando melhor: quando os investidores percebem uma tendência de queda na moeda local, como a que houve na Ásia, passam a comprar o máximo de dólares possível. Para isso, vendem suas ações, causando a queda na Bolsa do país. Como as Bolsas dos países asiáticos são muito interligadas, ou seja, há muitas empresas e investidores com ações em vários desses países, toda a região sentiu os efeitos. Operadoras de ações e bancos quebraram, e a situação teve reflexos também na Bolsa de Nova York, que, por sua vez, influencia todas as outras. No último ano, o mercado vive sob ameaça de novos picos da crise.

7. O que a Rússia tem a ver com a crise?
Desde a queda do regime comunista, no início da década, o país passa por transformações profundas, mas que não se concretizam por falta de estrutura e cultura capitalista. A arrecadação de impostos é ineficiente, há desabastecimento geral, e o país gastou suas reservas. Isso provocou um calote internacional. Boris Ieltsin, presidente russo, anunciou que não tem dinheiro agora para pagar dívidas que estão vencendo. Empresas de vários países, principalmente da Alemanha, são credoras do governo russo e ficaram sem receber. Para fazer caixa, ou seja, arrecadar dinheiro, estão vendendo suas ações em Bolsas de todo o mundo.

8. O que pode acontecer com o mundo?

A queda nas Bolsas é, ao mesmo tempo, causa e efeito. A Bolsa cai porque empresas estão em dificuldades, mas a queda pode prejudicar outros empresários. Com os mercados interligados, a crise logo é compartilhada por vários países.

9. Essa crise é igual à de 1929?
Não. No último mês, a Bolsa de NY caiu 15%, o que é preocupante, mas não pode ainda ser comparada à crise de 1929. O crack de 29 quebrou várias empresas, jogando os Estados Unidos no período chamado historicamente de Depressão, que atravessou a primeira metade da década de 30. O desemprego assolou todo o país.

10. Por que o Brasil é afetado por esta crise mundial?
De novo, a globalização. Grandes empresas americanas e européias têm ações em Bolsas espalhadas pelo planeta. Se a coisa aperta para o lado delas, exigindo algum dinheiro imediato, a tendência dessas empresas é vender as ações nas Bolsas dos mercados "emergentes", como os países da Ásia e o Brasil. Aí as Bolsas brasileiras caem, e os investidores daqui é que passam a ter problemas. Eles começam a vender o que podem, fazendo a Bolsa cair mais, e as empresas que dependiam de seus acionistas podem quebrar. O resultado: recessão, desemprego e, provavelmente, inflação.

11. Se seu pai é acionista, ele pode se dar mal?
Investir na Bolsa é uma aplicação de risco. Até sem crise, pessoas podem perder dinheiro nela. Se comprarem ações de uma empresa fraca, que venha a abrir falência, por exemplo, as ações não vão valer mais nada, quebrando a cara e o bolso dos investidores. Com a cena nada animadora no mercado mundial, o cuidado deve ser redobrado. Mais empresas entram em situação difícil, aumentando as chances de deixar os proprietários de suas ações na pior.

12. Como a crise mundial pode afetar a sua vida?
A resposta já foi dada na pergunta 10. Um cenário de recessão e desemprego atinge principalmente os jovens, que terão ainda mais dificuldades para entrar no mercado de trabalho.



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