São Paulo, segunda, 7 de setembro de 1998

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Chuva de cartas despenca sobre colunista

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
especial para a Folha

Papéis brancos caem do céu. Será festa antecipada de Ano Novo? Ou as massas recepcionando um herói nacional nas ruas? Nada disso, trata-se de uma chuva de cartas que despenca sobre este colunista. Vamos a elas.
Loucura total! Angélica Amâncio Santos (15 anos) escreve de Três Corações (MG) para dizer que acha meu nome "lindo" e que, quando tiver um filho, vai chamá-lo de Álvaro! Angélica, de lindo eu só tenho o nome, não cometa esse desatino.
Simone de Araújo, 21 (Avaré, SP), também fala sobre meu nome que, segundo ela, é a coisa mais brasileira que existe. Por isso, não entende como eu possa não ser, digamos, apaixonado pela arte deste país. Eu nunca tinha pensado nisso.
Karina Hocama (São Paulo, SP) gosta de Bjork, Radioead e quer saber qual é o meu time. Sou são-paulino, Karina. Herdei esse defeito do meu pai.
Marcelo Silva Costa (Taubaté, SP) adorou o Belle and Sebastian, banda escocesa altamente recomendada por esta coluna. Não é só você, Marcelo. Os caras são bons. E tem disco novo deles saindo hoje na Inglaterra.
"Eu me identifico com sua coluna. Sou chato como você." Essas doces palavras são de Alexandre Petillo (Aparecida, SP), que é amigo do Marcelo do parágrafo aí de cima. Os dois vão para a Inglaterra no ano que vem e me pedem dicas. Dou só uma: entrem na loja Selectadisc, no SoHo, e saiam só uns três dias depois. Vai ser lindo.
Atenção para este grande começo de carta: "Moro numa cidade tão pequena quanto o cérebro das pessoas que aqui se encontram." O autor é Renato Franco Bueno, 16 (Monte Sião, MG). O garoto escreve bem, tem futuro.
Outra inconformada com a vida no interior é a paulistana Karina Bellotti, que faz faculdade em Campinas. Ela sente falta da atmosfera roqueira de São Paulo e me pergunta por onde anda meu bom amigo André Forastieri. O André escreve uma ótima coluna na revista "Caros Amigos". Confira. Embora não ouça mais rock, ele continua em plena forma.
Alessandra Varsico (Jacutinga, MG) manda beijos para outro amigo, Zeca Camargo, e diz ter certeza de que um dia vai conhecê-lo pessoalmente. O Zeca é bacana.
Jesus Baccaro, 33 (Jaú, SP) acha, como eu, que Caetano, Gil e João Gilberto são uns chatos, mas opina que exagero ao estender essa chatice a praticamente toda a MPB. No fim da carta, avisa: "Jesus não te odeia, irmão".
Ainda na praia caetânica: Matheus Melo (Aracaju, SE) também não é fã do que chama de "trupe baianinha", porém julga paranóia minha dizer que esses caras têm um complô para cooptar todo mundo e manter sua hegemonia sobre a MPB. Pode acreditar em mim, amigo, eles pegam pesado.
Por fim, Ângelo (São Paulo, SP) envia o fanzine "Tristeza", que trata disso mesmo. O breve editorial da página 2 já diz tudo: "Sempre pensei que o dever de uma pessoa triste é ser ainda mais triste". Sobraram muitas cartas. Semana que vem a gente se fala.
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Álvaro Pereira Júnior, 35, é chefe de Redação da Rede Globo em São Paulo cd player
"Teardrop", Massive Attack
Compacto com três versões da melhor faixa do álbum "Mezzanine". Para completar, a inédita "Euro Zero", com as marcas registradas do trip-hop soturno do Massive Attack. Tão bonita que dá medo. Ouça com cuidado.

"The Best of House of Love", coletânea
Grande banda que atuou na linha lírica/barulhenta dos anos 80. Para matar saudades, vale com certeza. Mas, se você tem menos de 25 anos, pode esquecer, porque o grupo soa muito datado.

"Cinderela Baiana"
Não é possível que um dos maiores nomes da MPB, a grande Carla Perez, incinere o filme numa produção de ruindade indizível. Ela merece coisa melhor, porque conseguiu chamar a atenção para um tipo de música baiana sem pretensões ou cabecismo.



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