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Chuva de cartas despenca sobre colunista
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
especial para a Folha
Papéis brancos caem do céu.
Será festa antecipada de Ano Novo? Ou as massas recepcionando
um herói nacional nas ruas? Nada
disso, trata-se de uma chuva de
cartas que despenca sobre este
colunista. Vamos a elas.
Loucura total! Angélica Amâncio Santos (15 anos) escreve de
Três Corações (MG) para dizer
que acha meu nome "lindo" e
que, quando tiver um filho, vai
chamá-lo de Álvaro! Angélica, de
lindo eu só tenho o nome, não cometa esse desatino.
Simone de Araújo, 21 (Avaré,
SP), também fala sobre meu nome que, segundo ela, é a coisa
mais brasileira que existe. Por isso, não entende como eu possa
não ser, digamos, apaixonado pela arte deste país. Eu nunca tinha
pensado nisso.
Karina Hocama (São Paulo, SP)
gosta de Bjork, Radioead e quer
saber qual é o meu time. Sou são-paulino, Karina. Herdei esse defeito do meu pai.
Marcelo Silva Costa (Taubaté,
SP) adorou o Belle and Sebastian,
banda escocesa altamente recomendada por esta coluna. Não é
só você, Marcelo. Os caras são
bons. E tem disco novo deles
saindo hoje na Inglaterra.
"Eu me identifico com sua coluna. Sou chato como você." Essas
doces palavras são de Alexandre
Petillo (Aparecida, SP), que é
amigo do Marcelo do parágrafo aí
de cima. Os dois vão para a Inglaterra no ano que vem e me pedem
dicas. Dou só uma: entrem na loja
Selectadisc, no SoHo, e saiam só
uns três dias depois. Vai ser lindo.
Atenção para este grande começo de carta: "Moro numa cidade tão pequena quanto o cérebro
das pessoas que aqui se encontram." O autor é Renato Franco
Bueno, 16 (Monte Sião, MG). O
garoto escreve bem, tem futuro.
Outra inconformada com a vida no interior é a paulistana Karina Bellotti, que faz faculdade em
Campinas. Ela sente falta da atmosfera roqueira de São Paulo e
me pergunta por onde anda meu
bom amigo André Forastieri. O
André escreve uma ótima coluna
na revista "Caros Amigos". Confira. Embora não ouça mais rock,
ele continua em plena forma.
Alessandra Varsico (Jacutinga,
MG) manda beijos para outro
amigo, Zeca Camargo, e diz ter
certeza de que um dia vai conhecê-lo pessoalmente. O Zeca é bacana.
Jesus Baccaro, 33 (Jaú, SP) acha,
como eu, que Caetano, Gil e João
Gilberto são uns chatos, mas opina que exagero ao estender essa
chatice a praticamente toda a
MPB. No fim da carta, avisa: "Jesus não te odeia, irmão".
Ainda na praia caetânica: Matheus Melo (Aracaju, SE) também não é fã do que chama de
"trupe baianinha", porém julga
paranóia minha dizer que esses
caras têm um complô para cooptar todo mundo e manter sua hegemonia sobre a MPB. Pode acreditar em mim, amigo, eles pegam
pesado.
Por fim, Ângelo (São Paulo, SP)
envia o fanzine "Tristeza", que
trata disso mesmo. O breve editorial da página 2 já diz tudo: "Sempre pensei que o dever de uma
pessoa triste é ser ainda mais triste". Sobraram muitas cartas. Semana que vem a gente se fala.
²
Álvaro Pereira Júnior, 35, é chefe de Redação
da Rede Globo em São Paulo
cd player
"Teardrop",
Massive Attack
Compacto com três
versões da melhor
faixa do álbum
"Mezzanine". Para completar, a inédita "Euro Zero",
com as marcas registradas do
trip-hop soturno do Massive
Attack. Tão bonita que dá medo. Ouça com cuidado.
"The Best of House of
Love", coletânea
Grande banda que
atuou na linha lírica/barulhenta dos
anos 80. Para matar saudades,
vale com certeza. Mas, se você
tem menos de 25 anos, pode
esquecer, porque o grupo soa
muito datado.
"Cinderela Baiana"
Não é possível que
um dos maiores nomes da MPB, a
grande Carla Perez, incinere o
filme numa produção de ruindade indizível. Ela merece coisa melhor, porque conseguiu
chamar a atenção para um tipo de música baiana sem pretensões ou cabecismo.
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