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MÚSICA
Nega Gizza rouba a cena dominada pelos manos do rap
A voz forte das minas
DA REPORTAGEM LOCAL
Em um cenário que dá pouco espaço às mulheres, a carioca Nega
Gizza, 25, arromba a porta da frente
do rap com seu ótimo disco de estréia, "Na Humildade".
Rimas afiadas, voz forte e produção crua (e mais bela por conta disso) são o explosivo que serve de matéria-prima para os 12 petardos do
CD. São faixas que vão das contundentes "Filme de Terror" e "Prostituta" até algumas autobiográficas
como "Depressão" e "Neném", em
que conta a história de seu irmão,
que se envolveu com o tráfico e foi
morto pela polícia.
O disco inaugura também o selo
independente Dum Dum Records,
dela e de seu "irmão de sangue", o
rapper MV Bill.
Leia a seguir a entrevista que Nega
Gizza deu ao Folhateen, em que fala
sobre seu disco, sobre preconceito e
sobre a participação das mulheres
no rap.
(GUILHERME WERNECK)
Folha - Por que lançar "Na Humildade" de forma independente?
Nega Gizza - Pela necessidade de
termos alguma coisa nossa, de termos nosso nome na parada e fazermos um trabalho com os nossos recursos. Resolvi montar o selo Dum
Dum Records junto com o Bill, mas,
na verdade, a minha parte na sociedade é o meu trabalho.
Folha - O rap é dominado pelos homens. Como você vê a participação da
mulher no hip hop?
Nega - A minha intenção é que,
com esse CD, essa história mude. Eu
sempre digo que eu sou um grupo
de rap, não um grupo feminino. Digo isso porque sinto que a gente tem
necessidade de atuar de igual para
igual com o homem. Nunca ninguém acreditou no trabalho feminino. Então, eu abracei essa oportunidade com tudo. Minha intenção é
que isso estimule outras mulheres.
Folha - Você tem um olhar feminino
sobre a violência. Como você pensa a
mulher na hora de criar as letras?
Nega - As mulheres passam por
vários conflitos, que eu sei que não
serão resolvidos de um dia para o
outro. Mas, quando eu paro para escrever sobre um assunto com o qual
a mulher se identifica ou sobre um
assunto que fala da mulher, eu acredito que isso vá causar uma mudança de comportamento, de postura.
Isso vai ajudar a mulher a alcançar
espaços que nós já deveríamos ter
alcançado. Se eu quero a verdade, a
verdade tem de partir de mim.
Folha - Em "Larga o Bicho", você diz
que assume o seu preconceito e que o
rap "é som de preto". Só os negros devem ouvir rap?
Nega - Houve uma invasão nas
músicas que os negros sempre fizeram. Fizemos o samba, e o roubaram de nós. Hoje o rap é uma coisa
autêntica, totalmente nossa, porque
ele relata o que vivemos, problemas
sociais que vêm desde os nossos antepassados e que têm de ser resolvidos. Por isso falamos deles e tentamos praticar uma forma de mudança. Eu acredito que não só as pessoas
que moram em favelas e em comunidades necessitam ouvir o que falo.
Mas pessoas de toda a sociedade, de
todos os níveis, porque, de repente,
uma menina que é patricinha não
tem a noção de que os antepassados
dela participaram de toda a opressão que os pretos vivem hoje. Ela
precisa saber disso. Se ela ouvir uma
música dessas, for atrás da história e
quiser se informar mais, estará esclarecendo a mente dela e será uma
aliada nossa nessa transformação de
que necessitamos, que sentimos na
pele que precisamos.
Folha - Suas letras partem da sua vivência ou você é uma antena que capta o que acontece ao seu redor?
Nega - As letras refletem a minha
realidade, como no caso de "Neném". Sei que nas comunidades as
pessoas já tiveram um irmão ou um
parente que morreu e que teve uma
história muito parecida com a do
Neném. A letra dessa música é muito importante para mim. Foi quando o Neném morreu que eu me tornei "irmã" do Bill, que tive noção da
responsabilidade que eu recebi, que
era a de cumprir minha missão, que
é o rap. Já, quando escrevo sobre a
depressão, é para esclarecer as pessoas. Eu acredito que, nas comunidades, as pessoas não tenham muita
noção do que é depressão. Elas estão
sempre deprimidas e acham que estão chateadas. Elas nem sabem que
isso é uma doença, que há formas de
tratar disso.
Para ouvir "Filme de Terror", com Nega Gizza, ligue para: 0/xx/3471-4000 e escolha a
opção Música - Lançamento. Custo só o da
ligação.
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