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RUAS DE MEDO
Em São Paulo, 40,7% dos mortos no trânsito têm de 16 a 25 anos
Não mate, não morra
GUILHERME WERNECK
DA REPORTAGEM LOCAL
Na madrugada do último dia 22 de setembro, no centro de Curitiba, o Renault Mégane dirigido pelo adolescente
G.R.M.C., 16, atingiu em cheio um poste.
Com ele, estavam no carro mais quatro
jovens com idades que variavam de 16 a
18 anos. O motorista, que, supostamente,
estava bêbado, conseguiu ser resgatado,
mas o carro explodiu, matando carbonizados os quatro passageiros.
Esse caso ilustra uma triste estatística. Segundo o Mapa da Violência 3, da
Unesco, publicado neste ano, na faixa
de que vai de 15 a 24 anos, em 2000,
morreram 6.414 jovens em decorrência
de acidentes de transporte no Brasil
-o que representa 21,8% do total de
mortes pela mesma causa naquele ano.
De acordo com dados da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), de
1999, nas colisões fatais em São Paulo,
40,7% dos mortos estavam na faixa etária que vai de 16 a 25 anos.
O superintendente do Centro de
Treinamento e Educação de Trânsito
da CET, José Borges de Carvalho Filho,
47, diz que os principais motivos que
levam aos acidentes com jovens são dirigir após ter bebido ou usado drogas,
o uso do celular na direção e o desrespeito aos limites de velocidade.
"A maior incidência de acidentes
com pessoas dessa faixa etária ocorre
das 18h de sexta-feira até domingo de
manhã, sendo o pico na virada de sábado para domingo", diz.
Para atacar esses problemas, a CET
lançou a campanha Jovem Motorista,
ancorada na figura do ex-piloto de Fórmula Indy André Ribeiro, 36. A campanha prevê bate-papos com Ribeiro
em universidades e distribuição de folhetos nos cruzamentos da cidade.
Com os jovens, Ribeiro fala, entre outros assuntos, da necessidade de usar
cinto de segurança, de não usar drogas
ou beber antes de dirigir e de respeitar
o pedestre e os limites de velocidade.
"É inconsequente andar fora das regras no trânsito porque tudo está contra nós. O meio-fio é totalmente contra
o automóvel. O poste é a coisa mais absurda porque ele não distribui o impacto, como um muro, e "abraça" o carro. E, na pista, você recebe atendimento médico em alguns segundos. Nas
ruas e nas estradas, esse atendimento
pode levar horas."
Para Carvalho Filho, além de questões objetivas, como a da velocidade, é
preciso tratar das subjetivas. "A gente
recomenda que as pessoas tenham
uma relação mais tranquila com o carro, que não façam dele um mito que
busca a realização de algo que não conseguem realizar no seu dia-a-dia", diz.
"É preciso lembrar também que a propaganda estimula o jovem. Ela diz que
o poder está associado à potência do
carro dele. E, para mudar isso, não basta a legislação."
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