São Paulo, segunda-feira, 07 de outubro de 2002

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RUAS DE MEDO

Em São Paulo, 40,7% dos mortos no trânsito têm de 16 a 25 anos

Não mate, não morra

GUILHERME WERNECK
DA REPORTAGEM LOCAL

Na madrugada do último dia 22 de setembro, no centro de Curitiba, o Renault Mégane dirigido pelo adolescente G.R.M.C., 16, atingiu em cheio um poste. Com ele, estavam no carro mais quatro jovens com idades que variavam de 16 a 18 anos. O motorista, que, supostamente, estava bêbado, conseguiu ser resgatado, mas o carro explodiu, matando carbonizados os quatro passageiros.
Esse caso ilustra uma triste estatística. Segundo o Mapa da Violência 3, da Unesco, publicado neste ano, na faixa de que vai de 15 a 24 anos, em 2000, morreram 6.414 jovens em decorrência de acidentes de transporte no Brasil -o que representa 21,8% do total de mortes pela mesma causa naquele ano.
De acordo com dados da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), de 1999, nas colisões fatais em São Paulo, 40,7% dos mortos estavam na faixa etária que vai de 16 a 25 anos.
O superintendente do Centro de Treinamento e Educação de Trânsito da CET, José Borges de Carvalho Filho, 47, diz que os principais motivos que levam aos acidentes com jovens são dirigir após ter bebido ou usado drogas, o uso do celular na direção e o desrespeito aos limites de velocidade.
"A maior incidência de acidentes com pessoas dessa faixa etária ocorre das 18h de sexta-feira até domingo de manhã, sendo o pico na virada de sábado para domingo", diz.
Para atacar esses problemas, a CET lançou a campanha Jovem Motorista, ancorada na figura do ex-piloto de Fórmula Indy André Ribeiro, 36. A campanha prevê bate-papos com Ribeiro em universidades e distribuição de folhetos nos cruzamentos da cidade.
Com os jovens, Ribeiro fala, entre outros assuntos, da necessidade de usar cinto de segurança, de não usar drogas ou beber antes de dirigir e de respeitar o pedestre e os limites de velocidade.
"É inconsequente andar fora das regras no trânsito porque tudo está contra nós. O meio-fio é totalmente contra o automóvel. O poste é a coisa mais absurda porque ele não distribui o impacto, como um muro, e "abraça" o carro. E, na pista, você recebe atendimento médico em alguns segundos. Nas ruas e nas estradas, esse atendimento pode levar horas."
Para Carvalho Filho, além de questões objetivas, como a da velocidade, é preciso tratar das subjetivas. "A gente recomenda que as pessoas tenham uma relação mais tranquila com o carro, que não façam dele um mito que busca a realização de algo que não conseguem realizar no seu dia-a-dia", diz. "É preciso lembrar também que a propaganda estimula o jovem. Ela diz que o poder está associado à potência do carro dele. E, para mudar isso, não basta a legislação."



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