São Paulo, segunda-feira, 07 de outubro de 2002

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CINEMA

O brasileiro Pedro Andrade protagoniza filme de David Lynch

Um sonho bem estranho

AUGUSTO PINHEIRO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Há dois anos, ele foi a Nova York tentar carreira como modelo. Há dois meses, terminou de gravar "Our Lady of Sorrow", novo filme do festejado diretor americano David Lynch, que protagoniza.
"Eu nunca imaginei que isso pudesse acontecer", diz o carioca Pedro Andrade, 23, o Tim do filme, um rapaz violento que maltrata a avó (Gloria Stuart, de "Titanic") e é acusado do desaparecimento da namorada, interpretada por Kirsten Dunst ("Homem-Aranha").
O filme, um projeto independente do diretor de "Cidade dos Sonhos", está em fase de edição e deve estrear no Sundance Festival, em janeiro do ano que vem.
"No ano passado, fiz um curta dirigido por Peter Hagist, que já havia trabalhado com Lynch, e ele pediu para que eu tentasse o papel", conta. Foram 11 testes, concorrendo com nomes como Matt Damon ("Gênio Indomável"), Tom Welling (o Super-Homem do seriado "Smallville") e Wes Bentley ("Beleza Americana").
Na última fase, quando só havia quatro concorrentes, Pedro teve de sentar em frente a Lynch. "Ele botou um holofote na minha cara e disse "não fala nada". Ficou de 15 a 20 minutos olhando para mim. Depois disse que o papel era meu."
Pedro diz que, depois, Lynch revelou que ele conseguiu o papel justamente porque havia ficado quieto e obedecido. "Os outros atores riram ou falaram."
Antes da experiência lynchiana, ao mesmo tempo em que trabalhava como modelo para Ralph Lauren e Calvin Klein, Pedro já investia na carreira de ator.
Em Nova York, fez três cursos de interpretação: o conceituado Actor's Studio, o Esper Studio e o Art and Cinema Intensive.
O carioca atuou em duas peças e em dois curtas, "Dinner" e "The Dress", dirigido por Peter Hagist. Na verdade, o interesse pelo trabalho de ator já existia no Brasil, onde cursou o tradicional Tablado e uma faculdade de artes cênicas.
Para ele, a experiência de trabalhar com o diretor de "Veludo Azul" (que, aliás, é um de seus filmes preferidos) mudou a sua vida. "Não apenas profissionalmente, com o cachê, mas mudou a minha vida como ator. Cresci muito mais do que se tivesse feito dois anos de curso. Ele tem prazer em ensinar, instigar, aproveitar o ator."
Mas, quando se trata de David Lynch, claro que havia bizarrices envolvidas. "Às vezes, ele me ligava às 3h, me acordava e dizia para eu voltar a dormir como Tim, não como Pedro", conta.
Uma vez, o diretor deu para ele um par de óculos de lentes acinzentadas. "Pediu para eu usar o dia inteiro, para que o mundo ficasse menos empolgante e colorido."
Para Pedro, o momento mais difícil foi gravar uma cena com sete mulheres mortas. "Ele não deixou eu ver os cadáveres antes de rodar a cena, queria uma reação espontânea. Entrei em um quarto com cheiro de éter e não tive de me preocupar com a atuação porque o choque é o mesmo." A cena rendeu alguns pesadelos ao ator.
Agora Pedro vai viver um jornalista em apuros no novo filme de Beto Brant, "Mísseis para o Rio". Ele também está fazendo testes para seriados da NBC e continua seu trabalho como modelo. Se pudesse escolher outro diretor para trabalhar, gostaria de fazer um filme de Walter Salles, Pedro Almodóvar ou Woody Allen. Alguém duvida?



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