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CINEMA
O brasileiro Pedro Andrade protagoniza filme de David Lynch
Um sonho bem estranho
AUGUSTO PINHEIRO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Há dois anos, ele foi a Nova York
tentar carreira como modelo.
Há dois meses, terminou de gravar
"Our Lady of Sorrow", novo filme
do festejado diretor americano
David Lynch, que protagoniza.
"Eu nunca imaginei que isso pudesse acontecer", diz o carioca Pedro Andrade, 23, o Tim do filme,
um rapaz violento que maltrata a
avó (Gloria Stuart, de "Titanic") e é
acusado do desaparecimento da
namorada, interpretada por Kirsten Dunst ("Homem-Aranha").
O filme, um projeto independente do diretor de "Cidade dos
Sonhos", está em fase de edição e
deve estrear no Sundance Festival,
em janeiro do ano que vem.
"No ano passado, fiz um curta
dirigido por Peter Hagist, que já
havia trabalhado com Lynch, e ele
pediu para que eu tentasse o papel", conta. Foram 11 testes, concorrendo com nomes como Matt
Damon ("Gênio Indomável"),
Tom Welling (o Super-Homem do
seriado "Smallville") e Wes Bentley ("Beleza Americana").
Na última fase, quando só havia
quatro concorrentes, Pedro teve
de sentar em frente a Lynch. "Ele
botou um holofote na minha cara
e disse "não fala nada". Ficou de 15 a
20 minutos olhando para mim.
Depois disse que o papel era meu."
Pedro diz que, depois, Lynch revelou que ele conseguiu o papel
justamente porque havia ficado
quieto e obedecido. "Os outros
atores riram ou falaram."
Antes da experiência lynchiana,
ao mesmo tempo em que trabalhava como modelo para Ralph
Lauren e Calvin Klein, Pedro já investia na carreira de ator.
Em Nova York, fez três cursos de
interpretação: o conceituado Actor's Studio, o Esper Studio e o Art
and Cinema Intensive.
O carioca atuou em duas peças e
em dois curtas, "Dinner" e "The
Dress", dirigido por Peter Hagist.
Na verdade, o interesse pelo trabalho de ator já existia no Brasil, onde cursou o tradicional Tablado e
uma faculdade de artes cênicas.
Para ele, a experiência de trabalhar com o diretor de "Veludo
Azul" (que, aliás, é um de seus filmes preferidos) mudou a sua vida.
"Não apenas profissionalmente,
com o cachê, mas mudou a minha
vida como ator. Cresci muito mais
do que se tivesse feito dois anos de
curso. Ele tem prazer em ensinar,
instigar, aproveitar o ator."
Mas, quando se trata de David
Lynch, claro que havia bizarrices
envolvidas. "Às vezes, ele me ligava às 3h, me acordava e dizia para
eu voltar a dormir como Tim, não
como Pedro", conta.
Uma vez, o diretor deu para ele
um par de óculos de lentes acinzentadas. "Pediu para eu usar o dia
inteiro, para que o mundo ficasse
menos empolgante e colorido."
Para Pedro, o momento mais difícil foi gravar uma cena com sete
mulheres mortas. "Ele não deixou
eu ver os cadáveres antes de rodar
a cena, queria uma reação espontânea. Entrei em um quarto com
cheiro de éter e não tive de me
preocupar com a atuação porque o
choque é o mesmo." A cena rendeu alguns pesadelos ao ator.
Agora Pedro vai viver um jornalista em apuros no novo filme de
Beto Brant, "Mísseis para o Rio".
Ele também está fazendo testes para seriados da NBC e continua seu
trabalho como modelo. Se pudesse
escolher outro diretor para trabalhar, gostaria de fazer um filme de
Walter Salles, Pedro Almodóvar
ou Woody Allen. Alguém duvida?
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