São Paulo, segunda-feira, 07 de outubro de 2002

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Velozes e furiosos

DA REPORTAGEM LOCAL

Gustavo Roth/Folha Imagem
Jovens em posto de gasolina de SP que é ponto de encontro de "rachadores"


O "racha" está longe de ser uma prática extinta em São Paulo. E o pior é que ele é uma das infrações que contribuem para a mortalidade de jovens em acidentes, principalmente quando eles resolvem fazer a combinação fatal de álcool com velocidade.
Em São Paulo, não há dia nem hora para o "racha" acontecer, embora os mais de 20 "rachadores" ouvidos pelo Folhateen tenham apontado as noites de quinta-feira como as mais propícias para fazer os "pegas". A partir das 23h, eles começam a se reunir em postos de gasolina, de onde partem para grandes avenidas, estradas e pistas expressas.
Segundo os "rachadores", os pontos de encontro e mesmo de corrida variam muito. Mas é fácil encontrar "pegas" em locais como a Radial Leste, as marginais, as rodovias Castelo Branco, Presidente Dutra e dos Imigrantes e no Rodoanel.
Mas, segundo eles, os "pegas" também podem ocorrer com trânsito intenso, de sinal a sinal. O código para esse tipo de "pega" é acender o pisca-alerta ou começar a acelerar repetidamente.
Segundo a Polícia Militar, não há estatísticas sobre a prática do "racha" em São Paulo nem sobre o número de acidentes causados por "rachadores". O tenente Arnaldo Luís Theodosio Pazetti, 32, afirma que os "rachadores" podem ser autuados por duas infrações de trânsito diferentes. A primeira vale para o "pega", em que dois motoristas decidem por conta própria ver quem é o mais veloz. E a segunda, para o "racha", que pressupõe uma organização, platéia e exibição. A penalidade para quem for pego em qualquer um dos dois casos é, além da multa gravíssima, que acumula sete pontos na carteira de habilitação, ter suspenso o direito de dirigir e ter o carro apreendido. No caso do "racha", as suspensões duram mais tempo.
Se houver crime, que pode ser colocar em risco a vida de outras pessoas, por exemplo, o infrator também pode responder a processo judicial e receber uma suspensão maior. No caso de ser pego mais uma vez cometendo a mesma infração, a carteira será cassada por dois anos.
Em São Paulo, há hora e lugar certos para tirar "rachas" de forma legal: o campeonato de arrancadas, em Interlagos. Levar o "racha" para o autódromo é defendido tanto pela CET quanto por "rachadores" de dois grandes sites brasileiros (www.racha.com.br e www.carrosderua.com.br).
Para se inscrever, é preciso tirar uma carteira de piloto da Federação do Automobilismo de São Paulo, que custa R$ 185, e pagar uma inscrição por prova, que custa R$ 180.
Uma reclamação dos "rachadores" é que esse valor é muito alto, o que estimula as pessoas a tirarem "racha" na rua. Como medida positiva, eles citam a iniciativa do autódromo de Tarumã (RS), que cobra apenas R$ 10 para participar de uma prova de arrancada.
Um projeto de uso de uma nova pista para a prática de arrancada foi aprovado na Câmara Municipal de São Paulo, mas a prefeitura não tem previsão de quando o projeto sairá do papel. Então, fica uma idéia, repetida à exaustão pelos "rachadores": que tal cobrar um preço acessível, que os estimule a sair das ruas? (GW)


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